sexta-feira, 30 de julho de 2021

Crónica cultural de uma pandemia !






Sala Suggia
Casa da Música
créditos: © Casa da Música


É bom voltar a falar de cultura. Tempo infinito sem cultura. Ao vivo. Música, senti imenso a falta. Nada se  compara a um concerto live

Cinema? Sempre se iam vendo alguns filmes via televisão. Mas não comparado como um grande ecrã, aquele som fabuloso. E a magia de uma sala de cinema.





Salas de cinema
créditos: Zoltan Balogh/ LUSA


Sempre que podia, lá estava eu. Numa sala de concerto ou de cinema. Perdida em mim, desfazendo-me do quotidiano. A música, o cinema transmitem-me bem estar, intimidade, refazer da alma. 


A pandemia veio coartar-nos das melhores coisas da vida. Um tempo sem cultura. Cinema? Poucos filmes e nada de interessante, depois de Nomadland e The Father. Excepcionais. 


Concertos na Casa da Música? Apenas voltei para um concerto. Há talvez dois meses. Fui ouvir Orquestra de Jazz de Matosinhos : What's This? Como convidados, Perico Sambeat e Ricardo Toscano (Saxofone alto) no dia 5 Junho. Quanto tempo!




"Sem a música de Ornette Coleman o jazz tinha sido outra história. A partir do momento em que lançou os seus álbuns revolucionários The Shape of Jazz to Come e Free Jazz, em 1959 e 60, um mundo novo de possibilidades se abriu."

Com direcção musical de Pedro Guedes, Perico Sambeat e Ricardo Toscano em saxofone alto, o programa foi dedicado inteiramente à música de Ornette Coleman, com arranjos de Carlos Azevedo, Telmo Marques, Ohad Talmor e Guillermo Klein.




Orquestra Jazz Matosinhos : Ornette : What Is This ?
© GS

Senti uma enorme tristeza em ver a Sala Suggia tão vazia! E o palco tão despido de músicos. As condições sanitárias assim o exigiam.

Pese embora essa situação, o público presente foi basntante caloroso. 






Perico Sambeat, confesso, não conhecia. E adorei as suas interpretações. Considerado um dos mais importantes músicos espanhóis da actualidade, com um enorme prestígio e uma extraordinária carreira internacional. Mas não conhecia.




Orquestra Jazz Matosinhos : Ornette : What Is This ?
© GS

Rodrigo Toscano, mais fogoso, bem mais free style. Mas, não há dúvida que me senti mais próxima de Perico Sambeat!

Adoro saxofone, Mas prefiro a sonoridade do saxofone baixo, mais quente, mais intimista. Gerry Mulligan, Ben Carter, e Ben Webster entre meus favoritos. Sobretudo Ben Webster. Incluidos em The 50 Best Jazz Saxophonists of All Time




Orquestra Jazz Matosinhos : Ornette : What Is This ?
© GS

"A extraordinária imaginação melódica e rítmica de Ornette Colman pedia uma liberdade que precisava de explorar outros caminhos, e a verdade é que a sua musicalidade assume toda a negritude que o jazz transporta desde as raízes." 





Orquestra Jazz Matosinhos : Ornette : What Is This ?
© GS

A Orquestra Jazz de Matosinhos encontrou-se com a música deste grande mestre do jazz e propõs um conjunto de novos arranjos para temas na intensa expressão musical dos solistas. Como convidados, dois saxofonistas de excepção. Sem dúvida. 

Uma noite nostálgica e sedenta dos bons concertos de jazz que ouvira, ao longo dos anos, na Sala Suggia da Casa da Música. 

Quanta saudade desses belos momentos a que veio por cobro a pandemia. Por largos meses. Mais de um ano. Lembranças musicais inolvidáveis.




César 2021
Affiche Académie des Arts & Techniques du Cinéma
crédits: © Lira Films / Sonocam / Fida Cinematografica / 
Collection ScreenProd / Photononstop

E cinema? Bom voltar a falar de cinema em sala própria. Escrevi sobre cinema a propósito de Les Césars 2021. Um belíssimo cartaz! Dois actores inolvidáveis, já desaparecidos. Romy Schneider e Michel Piccoli

depois, sobre a Cerimónia dos Oscars 2021. Exprimi a minha enrome decepção. Apenas recuperada pela entrega de Oscars a dois prometedores filmes. Nomadland e The Father. Hsitórias enriquecedoras, bandas sonoras de qualidade, actores excepcionais. 





The Courrier
Dominic Cook,2020

Depois desses dois filmes, nada de interessante. Até chegar à estreia desse esplêndido filme, The Courrier, traduzido como O Espião Inglês, baseado em factos reais. 






O Espião Inglês, baseado na verdadeira história do empresário britânico Greville Wynne, interpretado por Benedict Cumberbatch. O britânico que ajudou Secret Intelligence Service (MI6) a penetrar no programa nuclear soviético durante a Guerra Fria.






The Courrier
Dominic Cook,2020

Wynne e sua fonte soviética, Oleg Penkovsky (codename Ironbark), forneceram informações cruciais que levaram ao encerramento da crise dos mísseis cubanos.




Benedict Cumberbatch & Merab Ninidze
The Courrier
Dominic Cook,2020

Excelente interpretação do galardoado Benedict Cumberbatch. Para quem gosta de filmes da história mundial recente, sem dúvida o filme mais interessantesque vi ultimamente. Benedict Cumberbatch, um dos melhores actores da actualidade. 





The Imitation Game
Morten Tyldum, 2014

Relembro e recomendo vivamente The Imitation Game.  Um filme, também interpretado por Benedict Cumberbatch, baseado no livro Alan Turing : Enigma de Andrew Hodges. Livro que serviu de mote ao filme. 





Alan Turing, c. 1930s
créditos: © Fine Art Images - Heritage Images/age fotostock

Alan Turing, matemático britânico, descodificador do código utilizado na II Guerra Mundial pelos Alemães.

Apesar do imenso talento científico, morreu precocemente. Há que falem em suicídioo
e há quem fale em assassinato. Já foi redimido pelo governo inglês. Too late!





Está a Fazer-se Cada Vez Mais Tarde
Antonio Tabucchi
Bertrand

Até os livros abandonei um pouco. Durante curto tempo. Sentia-me desmotivada, já que afastada de tudo o que amava. Até dos afectos da família. 

Mas vou retomando. Depois de ter acabado os dois livros sobre os quais já escrevi. Leio agora Está a Fazer-se Cada Vez Mais Tarde, do meu admirado Antonio Tabucchi que acaba de ser publicado. 


G-S

Fragmentos Culturais

21.08.2021
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domingo, 11 de julho de 2021

Uma noite de cinema, em casa : La La Land, a magia !

 




La La Land
Damien Chazelle, 2016

Adoro cinema. E uma noite destas, fazendo zapping pelos canais de cinema, eis que bato o olhar num dos filmes que mais gostei. Fui vê-lo em sala de cinema, no ano em que foi galardoado em várias cerimónias de cinema. 

Bons tempos! Tempo em que se ia ao cinema por gosto, sem máscaras, nem medos. Só o receio das pipocas por perto. 

Filme de 2016, arrecadou imensos prémios. Quebrou recordes ao ser um dos mais premiados nos Golden Globes e nos Bafta Awards, entre muitos outros e vastíssimas nomeações. Até chegar aos Oscars, com seis estatuetas.

Já escrevera um pouco sobre La La Land, no ano em que foi o grande vencedor dos Golden Globes e se preparava para arrecadar mais prémios nos Bafta Awards 2017. Mas só ligeiras impressões. 





La La Land
Damien Chazelle, 2016

Tudo em La La Land me prendeu. As interpretações de Ryan Gosling e de Emma Stone, a direcção de Damien Chazelle, a história poderosa que nos transmite, a banda sonora. E a homenagem emotiva aos grandes clássicos de Hollywood.

Há quem não apreciam musicais. Ou preferem filmes mais intelectuais. Também os aprecio muito. Mas cada um tem o seu lugar.

Vão dizer que um filme como La La Land, que parece tão simples, nunca poderá ficar entre os grandes na história do cinema.

Possivelmente esquecem-se que o filme The Artist conseguiu ganhar um Oscar, relembrando o tempo dos filmes sem palavras. Esquecem, talvez que o grande cinema americano começou por ser assim. Histórias simples. E muitos com musicais.

Pois é! Adoro um bom musical. 





La La Land
Damien Chazelle, 2016

Não sei se La La Land foi um dos melhores filmes do ano, para alguns. Para mim foi! É. Por isso, fiquei agarrada ao televisor, até altas horas da madrugada. Segui-o com todo o encantamento. Como se fosse a primeira vez. 

La La Land é lindo! Ou Melodia do Amor, tradução to título original é mágico!





La La Land
Damien Chazelle, 2016

Não sigo muito as élites. Embora seja muito selectiva na minhas escolhas cinematográficas. Mas guio-me pelos afectos. O amor, a vida, a dança, a música. Os realizadores, e os bons actores.

Posso ser suspeita, porque adoro musicais. E gosto quando conjugam, numa simbiose perfeita, a história com a música. Fazem-nos sentir acima do éfemero. Voamos fora da imortalidade. Estamos lá. Com a alma.





La La Land
Damien Chazelle, 2016

O que Chazelle conseguiu, ao escrever e realizar La La Land, foi um filme de fantasia que toca no real. O desencontro de duas almas gémeas, como tantas vezes acontece na vida. 

Apesar de vermos momentos musicais a surgirem em sítios improváveis, sequências de dança lindas, sincronizadas no momento, toda a história nos toca. De uma maneira muito real. E crua. Como a vida.





La La Land
Damien Chazelle, 2016

MiaSeb, ela actriz, ele pianista de jazz, são semelhanres a tantos de nós. Lutam pelos seus sonhos, apaixonam-se, vivem com os obstáculos que surgem na sua relação, na tentativa de atingirem os seus próprios sonhos profissionais. E têm de entender o que é melhor para ambos. Não só enquanto casal, mas também enquanto pessoas, indivídualmente. 

Todos já passámos por aí. Ou podemos passar. Num certo momento da nossa vida.




La La Land
Damien Chazelle, 2016

Chazelle escreveu e realizou um outro filme, Whiplash (2014). Também com a temática da música e dos sonhos de cada um. Consegue transporta-nos para uma a cidade de Los Angeles contemporânea onde situa a história de Seb e Mia. Mas, ao mesmo tempo, transpira toda a  história de Hollywood e do cinema clássico.

É impossível vermos La La Land sem nos passarem pela memória visual e emotiva, filmes da época doirada de Hollywood. A forma como está filmado, as sequências de dança, alguns diálogos das personagens, levam-nos até a essa época que todos pensavam ter sido deixada para trás.

Chazelle faz uma homenagem vibrante a esses tempos, sem que tenha abdicado de tudo o que faz deste filme, um musical contemporâneo.





La La Land
Damien Chazelle, 2016

Claro que Gosling e Stone dão um toque de magia ao enredo. Eles cantam, dançam, tocam. Gosling teve que aprender piano para tornar real as cenas de interpretação, sentado ao piano.

Interpretam com muita emoção. E transmitem-na. A cena final do reencontro, já no club de jazz de Seb, é belíssima. Só o silêncio do olhar. Penetrante. Nesse olhar passa todo o sentimento, todo o amor os uniu. E os une. Mesmo seguindo caminhos opostos.









La La Land
Damien Chazelle, 2016

É impossível não ficar rendida à paixão que Gosling transmite enquanto toca piano, ou à fragilidade de Stone quando acredita que os seus sonhos não passam disso mesmo. Sonhos.

Sem eles, acho que La La Land não seria a mesma coisa. Eles dão-nos a emoção que sentimos.

A mestria de Chazelle, as interpretações dos dois actores, as coreografias, a banda sonora, merecem definitivamente rever o filme, em canais de televisão, Ou numa plataforma online. Sem dúvida.

La La Land fica na minha memória afectiva. E adoro que fique. A magia é que importa. Toca-nos.

G-S

Fragmentos Culturais

11.07.2021
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