Florbela
Vicente do Ó, 2012
Minh'alma é a Princesa Desalento, Como um Poeta lhe chamou, um dia. É magoada, e pálida, e sombria, Como soluços trágicos do vento! (...)Florbela Espanca, Princesa do Desalento
Início de tarde de domingo. Frio demasiado para um passeio até à beira-mar. Sento-me aqui, nesta janela virada para os amigos virtuais e decido-me pela escrita. Florbela. Sim, o filme biográfico sobre Florbela Espanca.
Apesar de não ser uma das minhas poetas preferidas, demasiado depressiva, gosto da mulher que foi e do seu desassossego. E admiro a sua poesia.
Apesar de não ser uma das minhas poetas preferidas, demasiado depressiva, gosto da mulher que foi e do seu desassossego. E admiro a sua poesia.
E foi ontem, naquela tarde de chuva fresca, mas que trouxe consigo o frio. Estava decidida. O filme a ver seria Florbela de Vicente do Ó.
Um retrato livre de Florbela, a mulher e a poeta, em momento de vida de busca de inspiração desta enorme poeta com tal sede de infinito. E o realizador sabe captivar-nos. Ficamos presos às imagens, aos diálogos, ao cenário.
Um retrato livre de Florbela, a mulher e a poeta, em momento de vida de busca de inspiração desta enorme poeta com tal sede de infinito. E o realizador sabe captivar-nos. Ficamos presos às imagens, aos diálogos, ao cenário.
Florbela
Vicente do Ó, 2012
Sala bastante cheia. Mesmo assim, lá consegui um lugar mais recatado, para fruir de um momento de interioridade. Sim, porque uma sala de cinema pode conter esse sentimento de estarmos sós perante os outros, apenas sombras, na contra luz do ecrã reflectida na audiência.
Esperava muito! Vira os trailers que me cativaram de imediato, ouvi Dalila do Carmo (Florbela) e Vicente Alves do Ó (realizador). Convincentes, sensíveis.
As duas horas de filme não me desiludiram. Muito pelo contrário. Não estupefacta com a beleza das imagens e com o encanto dos movimentos. Sabia que podia contar com isso. Já fora conquistada previamente.
Fascinante! De grande qualidade! Posso dizer muito mais? Não, só vendo!
Florbela Espanca viveu em tempos conturbados do país. Ainda adolescente, assistiu ao final da Monarquia. Chegou a frequentar o curso de Direito em Lisboa, numa atitude fora do comum no seu tempo – eram pouco mais de uma dezena de mulheres, num curso que contava com cerca de 350 homens inscritos.
Florbela/ Dalila do Carmo
Vicente do Ó, 2012
A sua vida afastou-se dos cânones de então, tal como a sua poesia, para o bem e para mal. Era uma alma em constante busca da 'infinitude'. Florbela criou um eu-lírico para os seus poemas, de cariz ultra-romântico, afastando-se dos movimentos literários que surgiam.
Florbela
Vicente do Ó, 2012
A poesia desfila na ecrã pela estética de imagens cativantes. Vicente Alves do Ó capta a poeta quase em jeito de poema. E, assim, faz o tributo a uma figura que em vida causou escândalo, mas também arrebatou admiradores. E no final, acabará por ser recordada pelas suas palavras e pela sua ousadia.
O que poderia escrever mais? Dalila do Carmo, intensa! Maravilhosa!
Acentuadas referências a grandes autores do cinema: Lars von Trier e Melancholia, Luchino Visconti e Morte a Venezia, François Truffaut no retrato íntimo de "L'Histoire de Adèle H".
Mas todos nós somos feitos de referências do que lemos, do que ouvimos, do que vemos. E estas são belíssimas!
Apesar de bem escrito, os diálogos pareceram-me, por vezes, um pouco limitados para a grandeza de Florbela, mulher e poeta.
Banda sonora de inegável qualidade da autoria de Guga Bernardo. Embora talvez demasiado presente. Momentos havia que o silêncio seria o ideal para a emotividade do que desfilava aos nossos olhos.
Negativo, mesmo! O trabalho técnico de mistura de som não foi bem trabalhado. Houve momentos em que o som ambiente, som de fundo, ficavam ao mesmo nível ou acima até, do som dos diálogos, factor que retira qualidade aos mesmos.
Não ver? Imperdoável! Um dos mais belos filmes portugueses feito para 'se amar (...) amar só por amar', poesia cinematográfica, magia cénica, sensível, lindo cinema.
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
(...)
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca, Lágrimas Ocultas
G-S
Fragmentos Culturais
18.03.2012
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