Ninguém duvida que não deixaria passar Dee Dee Bridewater! E na Casa da Música! Naquela sala lindíssima!
Razões? Adoro bom jazz! Adoro Billie Holiday! Gosto de ouvir Dee Dee Bridgewater. Acho linda a sala Guilhermina Suggia! Não são razões suficientes?
Pois bem! Foi na terça-feira, dia 6 de Abril! Uma noite envolvente ao som daquele jazz muito New Orleans, um jazz baseado na verdadeira improvisação instrumental que está na essência deste género musical tão rico de sonoridades e empatias! E Dee Dee Bridgewater apresentou-se talentosa. Como uma diva!
Hoje quase não se pode falar de divas em jazz! Isto se quisermos referir 'grandes vozes clássicas' femininas do jazz. Se assim se pode falar de jazz!
Vozes que enchem o nosso imaginário musical, de Billie Holiday a Ella Fitzgerald, de Nina Simone a Sarah Vaughan. Ora, é nessa linha que Dee Bridgewater é uma das poucas divas do jazz actual.
Billie Holiday
I thought I'd take a risk and show that Billie Holiday was a whole woman, not this dark, depressing victim who gets portrayed in a maudlin and stark way,"
Dee Dee Bridgewater*
Billie Holiday, a mítica lenda do blues, desaparecida prematuramente há 50 anos. Inesquecível !
"Holiday, who died tragically at 44, was known for her muted, introspective voice and reserved stage presence. Bridgewater's booming instrument and kinetic energy seemed strangely at odds with the legend she was invoking. Was this a case of mistaken jazz identity?"
Assim se lê numa crítica de Josh Getlin no LA Times online em 15 de Março último.
Em certa medida,compreendo-o! Quem aprecia profundamente Billie, e eu incluo-me nesse grupo, jamais encontrará quem a iguale. Nem tal se pretende! Era um ser com uma aura muito especial.
Holiday tinha um estilo e personalidade muito intensos, e sem uma voz com grande técnica, soube criar sofisticados efeitos musicais. A sua dicção era unique, o seu fraseio dramaticamente intenso.
Abstraí dessa ideia. Fui apenas ouvir um tributo a Billie cantado por Dee Dee! E gostei!
Senhora de uma personalidade muito própria, incontestável riqueza sonora, uma voz bem burilada, portentosa, plena de cambiantes rasgados, Dee Dee cantou Billie bem ao seu jeito!
“Billie deserves to have her music heard in another light”
Dee Dee*
E foi assim que fez ouvir Billie! Alegre, extrovertida, esfuziante, em cima do palco, Dee Dee cantou. Ora seguindo as melodias, ou fugindo-lhes, ora prolongando as notas, a brincar no scat, ora a imitar o saxofone, num diálogo bem intenso com Carter e os diferentes instrumentos que complementavam sua voz.
“This was my dream band,” says Bridgewater. “I got to work with these musicians who I’d been dying to play with. I thought, I can’t miss. With this band I can have a hard-swinging, touching celebration of Billie’s music.”
Dee Dee*
Ela foi extraordinária. Pela intensidade, energia, sentido de espectáculo, alguma teatralidade, elegância, sedução, sensualidade, e alma! Dee Dee esteve brilhante! E quanta qualidade dos músicos daquele quarteto!
Numa melodia, senti a aproximação ao timbre e fraseio intimista de Billie: You've Changed com James Carter fazendo soar o seu saxofone num tom muito smoky soul. Para mim, o momento mais belo e intimista da noite.
This album is my way of paying my respect to a vocalist who made it possible for singers like me to carve out a career for ourselves.
Dee Dee Bridgewater*
Uma autêntica noite de jazz, como já não ouvia há muito tempo! Com direito a um encore.
A sala Suggia transfigurou-se! Como já se havia transfigurado com Peter Murphy! A música tem destas coisas!
A sala Suggia transfigurou-se! Como já se havia transfigurado com Peter Murphy! A música tem destas coisas!
"A música tem pois esse carácter libertador em relação aos obstáculos que pressentimos na linguagem." [...]
Michel Butor, O Livro e a Música,
Diálogos France Culture
G-S
Fragmentos Culturais
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08.04.2010
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