O debate sobre o Acordo Ortográfico vai muito aceso. Conhecem bem a minha posição em relação ao que sempre considerei um atentado à nossa língua. Basta ler Não! (2010) e todos os textos que aqui continuo a escrever, segundo o "português antigo". Pasme-se! "Português antigo"?!
Pois é! Finalmente a razão chegou. E do lado contrário.
O governo brasileiro adiou a aplicação obrigatória do novo acordo ortográfico para 1 de Janeiro de 2016 (?!) E fê-lo com base numa petição que reuniu 20.000 assinaturas.
Em Portugal, uma igual petição reuniu mais de 130.000 assinaturas, e não teve qualquer sucesso. Pasme-se!
Vasco Graça Moura, escritor premiado, presidente do Centro Cultural de Belém, e grande lutador desta causa, desde o início, defendeu a suspensão do AO e considerou a posição portuguesa absolutamente "delirante".
Vasco Graça Moura
créditos: Autor não identificado
via Comunidade Cultura e Arte
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via Comunidade Cultura e Arte
“O Brasil vai rever o acordo, portanto é completamente delirante nós ficarmos para trás. Agora vamos ter três grafias: a brasileira actual, a africana, porque Angola mantém e muito bem as regras ortográficas que estão em vigor e não as do acordo, e a portuguesa, que é uma coisa sem pés nem cabeça.”
Vasco Graça Moura


Vasco Graça Moura
créditos: Autor não identificado
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Em 2 Janeiro 2013 escrevera no DN "Cadáver Adiado" e ontem, dia 9 Janeiro 2013 "Urgentemente". A esta voz, juntou-se uma das mais conceituadas linguistas portuguesas Maria Helena Buescu que no Público escreveu "Nem Gregos nem Troianos: assim assim" (08.01.2013) que poderá ser lido aqui.
Em Junho 2012, a escritora Teolinda Gersão, já por diversas vezes citada neste blog, escrevera a divulgada 'redacção' em tom de humor mas muito acertiva "Declaração de Amor à Língua Portuguesa".
Teolinda Gersão
créditos: Autor não identificado
via Jornal de Letras
"A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice.
(...)
Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero."
Teolinda Gersão
Em Setembro 2012 o PEN Internacional condenara por unanimidade o AO. E hoje dia 9 Janeiro, a Sociedade Portuguesa de Autores (só agora?) divulga o comunicado "A SPA não adopta o novo acordo ortográfico perante as posições do Brasil e de Angola sobre a matéria".
"O facto de não terem sido tomadas em consideração opiniões e contributos que poderiam ter aberto caminho para outro tipo de consenso, prejudicou seriamente todo este processo, e deixa Portugal numa posição particularmente embaraçosa, sobretudo se confrontada com as posições do Brasil e de Angola."
SPA
Então quem nos dá lições é mesmo Angola que assumiu publicamente uma posição contra a entrada em vigor do AO. Angola e Moçambique mantiveram "o statu quo e a norma ortográfica vigente", isto é sem AO.
E agora?! Como se sentirão os professores de Português que tanto lutaram para contrariar este absurdo? E que se viram constrangidos, mesmo não o usando, a aplicar as novas regras nas suas aulas e a transmiti-las aos alunos?
E que dizer dos alunos apanhados neste 'disparate todo', como este 'jovem da redacção', obrigados a aprender a nova grafia e a denominar a grafia que aprenderam até ao ano lectivo anterior "português antigo"?
E os pais? Os pais que foram incentivados a comprar novos dicionários de Língua Portuguesa "com Acordo Ortográfico", e novos manuais escolares?
"Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."
Fernando Pessoa, sobre texto Padre António Vieira
G-S
Fragmentos Culturais
10.01.2013
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