domingo, 14 de dezembro de 2008

Pinho Vargas revisitado !




António Pinho Vargas
Casa da Música
(14.12.2008)


Voltei à Casa da Música. Desta vez para revisitar António Pinho Vargas e o seu diálogo a Solo.

Suponho que a última vez que o ouvi ao vivo foi em dueto com José Nogueira (saxofone alto), no Teatro Rivoli (bons concertos ouvi lá) ou talvez em "Jazz em Serralves".

Também não terá muita importância o local porque os ouvi frequentemente nesses dois espaços. Excelentes concertos. Sempre.

Confesso que as duas salas, a sala Rivoli e a sala Suggia me agradam muito pela intimidade que provocam espontâneamente com o público.

A Sala Suggia é linda! Mas, nesse dia estava fria. Um concerto deste género ou melhor, com um músico e intérprete que sabe estabelecer um diálogo intimista com o piano e com o público mereceria estar aquecida.

Impressões de quem sente os mais pequenos cambiantes. Não a opinião de um sentimento colectivo, eu sei!


O que é certo é que o público da 'sua' cidade, António Pinho Vargas, estava lá! Porto não é a cidade onde nasceu. É sim a cidade que o viu crescer como músico e como compositor de jazz! A fase da música erudita veio mais tarde.






Album Solo
créditos: site do autor


Veio para tocar um dos álbuns Solo o seu novo título. O pianista, hoje mais activo como compositor na área da música contemporânea e dita cássica, foi um dos pioneiros da improvisação e do jazz em português.

E foi nessa vertente que o vi despontar e que assisti à sua formação como músico, e a muitos dos seus concertos! E foi assim que me apaixonei pela sua música!

António Pinho Vargas, naquele seu jeito muito peculiar de dialogar com o público, entre cada interpretação, levantando-se para vir à boca do palco, está com a sua interioridade mais expansiva. Conhecio-o mais reservado.

Glosou o tema da 'heteronímia' com naturalidade e algum humor. No entanto, na referencia que fez a Bernardo Soares, eu diria 'ortonímia'. Mas aqui entra já o meu lado literário!

Gosto de misturar a música e a literatura, duas artes incomensuráveis, preciosas para a alma! E que se interligam constantemente.

Foi com encantamento que o ouvi no tema 'Alma' que não estava no alinhamento do programa. Aprecio estes 'impromptus'. Remetem-me para a improvisação, a essência da música de jazz, a capacidade e o dom de os músicos nos surpreenderem.

Temas como Alma, Corazón, June, Dança dos Pássaros, As Mãos ou Tom Waits, levam-me a fragrâncias e sonoridades de uma época mais distante. Que não quero trazer aqui.

Senti perpassar pelas suas linhas melódicas límpidas Béla Bártok
na postura pressenti Keith Jarrett, quando bate com os pés a cadência sincopada, Satie na graciosidade da 'touche', Ravel na exuberância de ritmo.

Impossível separarmo-nos das reminiscências daqueles que admiramos e amamos! E que fizeram parte da nossa vida académica.


Tom Waits um dos temas que mais aprecio, ligação afectiva ao intérprete, compositor do jazz americano, aqui fica.







Compositor e músico talentoso, completo e multifacetado, António Pinho Vargas é um dos músicos mais importantes - e respeitados - da cena musical contemporânea.

Um dos meus preferidos, se não o meu músico favorito na música de jazz em português.




António Pinho Vargas


Já tinha saudade de o ouvir ao vivo, confesso! E não me decepcionou, como intérprete e muito menos como músico. 

Balancei, no etanto, na personalidade ou melhor, na simplicidade, desta vez. Mas isso são apenas impressões afectivas! 





Jorge Peixinho 1940-1995


Agradeci intimamente a homenagem feita a Jorge Peixinho, o músico inovador da contemporaneidade musical portuguesa, o precursor esquecido, mal amado no seu tempo de vida- Meu Professor de Composição no Conservatório de Música do Porto. Tímido, mas que se ultrapassava quando falava ou interpretava música contemporânea.

Pinho Vargas, na sua simpática capacidade de comunicar com o público fez quebrar a corrente gelada que atravessava a Sala Suggia, numa noite particularmente fria!

A Casa da Música não fez nada para aquecer a temperatura ambiente, tornando mais confortável uma sala tão bonita, o que permitiria ao público usufruir mais calorosamente de uma noite musical. Bem sensível!

Tiritava-se de frio, e só o afecto profundo ao intérprete fez o seu público mostrar-lhe o imenso apreço. Pinho Vargas tocou como encore,
Cantigas para Amigos.



G-S


Fragmentos musicais

19.12.2008

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