quinta-feira, 28 de junho de 2012

Direitos Humanos : Aung San Suu Kyi : Roteiro de emoções ? Não mais !




Aung San Suu Kyi 
Daniel Sannum-Lauten/AFP/Getty Images

"Sei que seria possível construir a forma justa 
De uma cidade humana que fosse 
Fiel à perfeição do universo" 

Sophia de Mello Breyner Andresen, A Forma Justa

Aung San Suu Kyi, The Lady de Luc Besson terminou a sua viagem de duas semanas à Europa. 

Ser-me-ia impossível não voltar a escrever sobre esta "senhora" que me impressionou, desde sempre, pela doçura mesclada de coragem.

Aung San Suu Kyi recebeu finalmente em Oslo, no dia 16 Junho 2012, o Prémio Nobel da Paz, vinte e um anos depois de a Academia Sueca lho ter concedido (1991).  Aung San Suu Kyi declarou que este galardão "abriu uma porta no seu coração"

No discurso de aceitação do Nobel a ouvir aqui, Suu Kyi considerou que o comité que a premiou "estava a reconhecer que os oprimidos e isolados na Birmânia também faziam parte do mundo, estava a reconhecer a unidade da Humanidade".

"Para mim, receber o prémio Nobel da Paz significa que estendo as minhas preocupações em relação à democracia e os direitos humanos além das fronteiras nacionais (...)

Aung San Suu Kyi


Aung Suu Kyi | Reuters/Soe Zeya Tun

Em 14 de Outubro 1991 foi anunciado que o Nobel da Paz ia para Aung San Suu Kyi, pela sua luta a favor da democracia e dos direitos humanos na Birmânia - Mianmar. 

Ex-estudante da Universidade de Oxford, Aung Suu Kyi viu-se impedida de receber o prémio em Oslo por se encontrar detida em sua casa, na capital Rangum.

"Durante os últimos 21 anos, esta lutadora demonstrou que o prémio está mais do que justificado. Suu Kyi é um exemplo moral para o mundo. Apesar de ter passado a maior parte da sua vida recolhida na prisão ou em casa, nunca deixámos de ouvir a sua voz"

Thorbjoern Jagland, presidente Comité Nobel da Paz

De regresso à Europa onde casou e teve dois filhos, Aung San Suu Kyi fez um roteiro de emoções.

Suíça, Noruega, Irlanda e sobretudo o Reino Unido estiveram no seu trajecto. A viagem termina amanhã em França.






Emocionada e sob uma chuva de aplausos recebeu no dia 20 Junho o título de "Doutor Honoris Causa" em Oxford, universidade onde estudou e viveu feliz com sua família antes que seu destino mudasse em 1988.

"Durante todos estes anos difíceis em prisão domiciliar (...) as minhas recordações de Oxford (...) ajudaram-me a responder aos desafios que precisava enfrentar",

"During the most difficult years I was upheld [by] my memories of Oxford," said Suu Kyi.  "These were among the most important inner resources that helped me to cope with all the challenges I had to face."


Aung San Suu Kyi



Créditos : REUTERS

Aung San Suu Kyi termina a sua viagem em 29 Junho em Paris. Aí, recebeu o título de "cidadã honorária da cidade", concedido em 2004. Foi acolhida com todas as honras. E teve como acto oficial final, o simbólico gesto de plantar "un arbre de la liberté" nos jardins do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ontem 27 Junho.


Reconhecendo sentir-se cansada, depois desta intensa viagem rodeada de afectos e emoções, afirmou: "Quando as pessoas me fazem perguntas sobre todos os sacrifícios que fiz, sempre tenho a tentação de dizer que o que mais sacrifiquei foi o sono".



Sei que seria possível construir o mundo justo 
As cidades poderiam ser claras e lavadas 
Pelo canto dos espaços e das fontes 
O céu o mar e a terra estão prontos 
A saciar a nossa fome do terrestre 
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia 
Cada dia a cada um a liberdade e o reino (...)

Sophia de Mello Breyner Andresen, A Forma Justa 
in A Forma das Coisas






Etnia Rohingya
créditos: Getty Images

Pelas útltimas notíciasAung San Suu Kyi não está a honrar a distinção que lhe foi entregue. E são muitas as vozes que a acusam de estar a fazer uma limpeza étnica no seu país. Milhares de  Rohingya estão a ser forçados a abandonar o seu país.


O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, exprimiu na passada terça-feira, o seu repúdio perante tal situação. E afirmou que Aung San Suu Kyi tem a última oportunidade para parar com esta ofensiva:
"If she does not reverse the situation now, then I think the tragedy will be absolutely horrible, and unfortunately then I don't see how this can be reversed in the future."

António Guterres, Secretário-Geral ONU




crise etnia Rohingya/ Myanmar
créditos: AFP

Também o líder espiritual Dalai-Lama apelou Aung San Suu Kyi para terminar pacificamente esta crise do povo  Rohingya:

"May I take the liberty of writing to you once again to tell you how dismayed I am by the distressing circumstances in which the situation seems to have deteriorated further," 

Dalai-Lama, em carta enviada 


Há vozes que se levantam a nível já mundial para que lhe seja retirado o Prémio Nobel da Paz.

Por isso deixo aqui a continuação do poema:

Cada dia a cada um a liberdade e o reino 
— Na concha na flor no homem e no fruto 
Se nada adoecer a própria forma é justa 
E no todo se integra como palavra em verso 
Sei que seria possível construir a forma justa 
De uma cidade humana que fosse 
Fiel à perfeição do universo (...)


Sophia de M. Breyner Andrrsen, O Nome das Coisas, excerto


Triste e desiludida. Aung San Suu Kyi por quem manifestei minha admiração, sei agora que não a merece.


G-S


Fragmentos Culturais


28.06.2012

actualização 17.09.2017

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Nota: A ler o poema integral de Sophia M.B. Andresen aqui