Agustina Bessa Luís
créditos: Autor não identificado
via Fundação Calouste Gulbenkian
créditos: Autor não identificado
via Fundação Calouste Gulbenkian
"Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Escrever é corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida."
Agustina Bessa-Luís, 'Contemplação Carinhosa da Angústia
“A Agustina é uma romancista caótica. É alguém para quem o romance não é apenas uma história bem contada, mas é também uma forma de interrogar o mundo. E, portanto, não há regras estabelecidas à partida”, afirma o jornalista e escritor Pedro Mexia. “Um romance é o que se quiser. E isso perturba alguns leitores. Os que gostam, gostam muito.”
"Agustina Bessa-Luís vive numa casa senhorial, implantada no coração do Porto Romântico, no alto da encosta que nasce no Campo Alegre e desagua no rio Douro. É um mundo fechado à cidade que devora todos os dias os sinais de um passado que povoa as páginas da sua obra e descaracteriza a cidade de Camilo, de Raúl Brandão, de Ramalho Ortigão, da própria Agustina.
SPA Autores
Retrato pintado de palavras. Tal como Agustina partilhara comigo. A casa linda! Um jardim perfeito sobre o rio Douro.
A escritora partilhou comigo esse espaço recatado, naquela tarde que guardo na memória dos afectos.
A Ronda da Noite foi o penúltimo livro que li de Agustina Bessa-Luís. Desta vez, em tempos de lazer. Corria Agosto. Acompanhou-me diariamente nesse mês de verão! E foi o último magistral romance de Agustina.
Um quadro de Rembrandt e a sua interpretação levam Agustina a elaborar uma requintada narrativa. A história ficcionada da família Nabasco, seus amores e dramas, suas vivências, a par da presença indelével das personagens presentes na tela de Rembrandt, cujo título, Agustina colocou na sua obra, A Ronda da Noite.
Descobri há duas semanas O Livro de Agustina Bessa-Luís - 85 anos de Agustina - uma obra de carácter biográfico. E li.
Não resisto a deixar aqui as palavras que o encerram...
Disse para comigo: "Estou num lugar, numa hora, numa vida que não me são desconhecidos". É esse entendimento de que a nossa vida é repetição e pode ser corrigida a ponto de produzir uma forma de profecia, aquilo que nos abençoa e protege e alegra. Fazendo com que o sofrimento tenha sentido no mundo."
O Livro de Agustina Bessa-Luís, Guerra e Paz Editores, 2007
Mas hoje, dia 3 de Junho 2019, Agustina morreu. E a cidade esmoreceu. A escritora que amava o Porto, cerrou os olhos, levando neles as memórias do burgo. Os lindos Caminhos Românticos que passam à sua porta ganharam mais luz.
O rio Douro embalou-a.
“Penso que tenho a escrita como um dom que tenho o dever de valorizar e cultivar da melhor maneira que consigo. Procuro explorar esse dom, de uma forma constante e renovada sempre com o mesmo empenhamento.”
Agustina Bessa-Luís
in entrevista Ensino Magazine Online (Setembro, 2001)
memórias literárias
©texto original
Fragmentos Culturais
11.11.2007
actualizado 02.06.2019
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Agustina Bessa-Luís, 'Contemplação Carinhosa da Angústia
Conheci a escritora numa das livrarias Bertrand da cidade! Muitas vezes, em final de tarde, depois de um dia cansativo, vagueio pelos espaços de livreiros recatados. Aí, os livros dispostos em mesas e estantes, soltam um fascínio aliciante. Serenidade.
Sentindo o odor das folhas que se soltam a cada gesto lento de dedos, curiosos, tacteando o papel, divago entre palavras e paisagens de escritores. Como que buscando minhas próprias litanias, sem tempos nem distâncias.
Sentindo o odor das folhas que se soltam a cada gesto lento de dedos, curiosos, tacteando o papel, divago entre palavras e paisagens de escritores. Como que buscando minhas próprias litanias, sem tempos nem distâncias.
Nesse dia, estava distraidamente embrenhada no prazer inestimável da companhia e sabedoria dos livros, quando dei pela presença, mesmo ao meu lado, de uma senhora muito discreta que me sorriu! Reconheci de imediato. Agustina Bessa-Luís. Uma das escritoras portuguesas que mais admiro e leio. Sorri também, partilhando aquele gosto de estar ao lado de Agustina.
A Sibila
Agustina Bessa Luís
Guimarães editores, 1954
Andava naquela altura a dar (numa perspectiva académica) o seu romance A Sibila (1954, 1ª edição). Prezo as primeiras edições pelo amor que dedico aos livros e à literatura.
"Em literatura, como na arte, precisamos de ter dois gostos, um gosto pessoal que escolha os nossos prazeres, os livros e os quadros de que nos cercamos, e um gosto histórico que sirva os nossos estudos... "
Gustave Lansen
Agustina Bessa Luís
António José de Almeida - Documentário Biográfico (2007)
Trocámos impressões sobre a sua obra. Fascinada, escutava, bebendo as palavras que a escritora, em tom coloquial e muito afável, ia trocando comigo, num dos poucos recantos da livraria, já que o espaço era pequeno.
Ouvia encantada com profunda admiração, a simplicidade desta excelente contadora de histórias, aproveitando com veneração a magia do instante.
No final, afoitei-me a pedir-lhe se poderia vir trocar impressões, numa conversa informal, com outros leitores que estudavam comigo a sua obra.
Anuiu com a mesma amistosidade E deu-me o seu contacto telefónico. Fiquei de lhe ligar dois ou três dias depois.
Mesmo antes de nos despedirmos, não resisti a estender-lhe com delicadeza o seu livro de memórias Vento, Areia e Amoras Bravas (1990) solicitando que o autografasse. É um livro relacionado com memórias da minha infância.
Agustina tirou da carteira a sua caneta de tinta permanente e escreveu uma dedicatória muito afectuosa. Quando Agustina se retirou, apertei o livro contra o coração. Meus pais, invisíveis, sorriram. Um momento inesquecível!
Teve tempo então para passear comigo pelo seu jardim, enquanto continuávamos a conversar, e me falava sobre a sua casa, o seu jardim, local de inspiração. E as suas vivências nesse espaço.
"Em literatura, como na arte, precisamos de ter dois gostos, um gosto pessoal que escolha os nossos prazeres, os livros e os quadros de que nos cercamos, e um gosto histórico que sirva os nossos estudos... "
Gustave Lansen
Agustina Bessa Luís
António José de Almeida - Documentário Biográfico (2007)
Trocámos impressões sobre a sua obra. Fascinada, escutava, bebendo as palavras que a escritora, em tom coloquial e muito afável, ia trocando comigo, num dos poucos recantos da livraria, já que o espaço era pequeno.
Ouvia encantada com profunda admiração, a simplicidade desta excelente contadora de histórias, aproveitando com veneração a magia do instante.
No final, afoitei-me a pedir-lhe se poderia vir trocar impressões, numa conversa informal, com outros leitores que estudavam comigo a sua obra.
Anuiu com a mesma amistosidade E deu-me o seu contacto telefónico. Fiquei de lhe ligar dois ou três dias depois.
Agustina Bessa Luís
Guimarães editores, 1990
Agustina tirou da carteira a sua caneta de tinta permanente e escreveu uma dedicatória muito afectuosa. Quando Agustina se retirou, apertei o livro contra o coração. Meus pais, invisíveis, sorriram. Um momento inesquecível!
A Sibila
Agustina Bessa Luís
Guimarães editores
Mais tarde, talvez uma semana, fui a sua casa, como amavelmente me convidara, num gesto de amistosa cordialidade. Conversámos sobre o "Encontro com Agustina Bessa-Luís - A Literatura e o Descritivo na Música", a sessão/aula que teria lugar na Escola Vocacional de Música, em 1996.
Agustina Bessa Luís
créditos: Ricardo Meireles
via Máxima/Cultura
Teve tempo então para passear comigo pelo seu jardim, enquanto continuávamos a conversar, e me falava sobre a sua casa, o seu jardim, local de inspiração. E as suas vivências nesse espaço.
Ainda hoje, recordámos todos, a encantadora palestrante, a sua invulgar erudição a par de um discurso coloquial narrativo de grande singeleza.
Agustina Bessa-Luís [1922-2019]
créditos: Daniel Rodrigues
via Expresso/ Cultura
Escreve os seus livros à mão, com caneta de tinta permanente. E guarda as páginas originais, escritas numa letra redonda, numa pasta de couro. A escrita é a sua vida. Sem aquela casa, Agustina Bessa-Luís era outra escritora. Sem as neblinas do Douro, a sua obra não seria tão luminosa."
Retrato pintado de palavras. Tal como Agustina partilhara comigo. A casa linda! Um jardim perfeito sobre o rio Douro.
A escritora partilhou comigo esse espaço recatado, naquela tarde que guardo na memória dos afectos.
Agustina : Vida e Obra
Exposição Biblioteca Almeida Garrett, 2015
A Ronda da Noite foi o penúltimo livro que li de Agustina Bessa-Luís. Desta vez, em tempos de lazer. Corria Agosto. Acompanhou-me diariamente nesse mês de verão! E foi o último magistral romance de Agustina.
Um quadro de Rembrandt e a sua interpretação levam Agustina a elaborar uma requintada narrativa. A história ficcionada da família Nabasco, seus amores e dramas, suas vivências, a par da presença indelével das personagens presentes na tela de Rembrandt, cujo título, Agustina colocou na sua obra, A Ronda da Noite.
A Ronda da Noite
Agustina Bessa Luís
Guimarães Editores, 2006
"Às vezes, enquanto descia as escadas,Maria Rosa ia olhar para a e, apoiada à sua bengala, olhava para Saskia vendo nela parecenças com Margô. 'Era destas mulheres em que não se apaga o pecado original', pensava. No fundo, são precisas cem vidas para ajuizar duma pessoa..."
Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite, Guimarães Editores, 2006
Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite, Guimarães Editores, 2006
O Livro de Agustina
uma autobiografia
Guerra e Paz editores, 2014
Descobri há duas semanas O Livro de Agustina Bessa-Luís - 85 anos de Agustina - uma obra de carácter biográfico. E li.
Não resisto a deixar aqui as palavras que o encerram...
Disse para comigo: "Estou num lugar, numa hora, numa vida que não me são desconhecidos". É esse entendimento de que a nossa vida é repetição e pode ser corrigida a ponto de produzir uma forma de profecia, aquilo que nos abençoa e protege e alegra. Fazendo com que o sofrimento tenha sentido no mundo."
O Livro de Agustina Bessa-Luís, Guerra e Paz Editores, 2007
Retrato de Agustina
Aguarela de Alberto Luís, 1973 (?)
via Expresso/ Cultura
Mas hoje, dia 3 de Junho 2019, Agustina morreu. E a cidade esmoreceu. A escritora que amava o Porto, cerrou os olhos, levando neles as memórias do burgo. Os lindos Caminhos Românticos que passam à sua porta ganharam mais luz.
O rio Douro embalou-a.
Agustina Bessa-Luís
créditos: Autor não identificado
via Sábado/ Cultura
“Penso que tenho a escrita como um dom que tenho o dever de valorizar e cultivar da melhor maneira que consigo. Procuro explorar esse dom, de uma forma constante e renovada sempre com o mesmo empenhamento.”
Agustina Bessa-Luís
in entrevista Ensino Magazine Online (Setembro, 2001)
As suas palavras tenho-as, por companhia.
G-S memórias literárias
©texto original
Fragmentos Culturais
11.11.2007
actualizado 02.06.2019
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