sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago, a literatura ficou mais só ? Está mais viva ! Centenário 2022





Centenário José Saramago 2022





José Saramago [1922-2010]
créditos: Autor não identifcado

"A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que aquilo que somos capazes de viver."

José Saramago





José Saramago [1922-2010]
Prémio Nobel de Literatura 1998
via SIC

A língua portuguesa perdeu o seu escritor mais controverso e sem dúvida um dos mais inovadores da literatura contemporânea. José Saramago, laureado com o Prémio Nobel da Literatura 1998. Único escritor protuguês a ser galardoado com este Prémio de Literuratura.

A sua Fundação está vestida de negro! Apenas um comunicado discreto.

"...despedindo-se de forma serena e tranquila."

Escrevi em Março de 2008...

"Sei que José SaramagoPrémio Nobel da Literatura 1998, não tem grandes simpatias! Conheço-o apenas pelos seus livros! E a ideia que tenho da sua personalidade vem das entrevista, das suas palavras, e de outras palavras que vou ouvindo ou lendo nas críticas literáriass e nos meios de comunicação social."




José Saramago 
Nobel Prize in Literature 1998
credits: Nobel Prize Award

Não posso, nem devo, de modo nenhum, tirar-lhe o mérito. Pela inovação na literatura portuguesa do seu arrojado  código de escrita.

Tenho para mim que só a partir dele, outros grandes nomes se aventuraram nessa criativa perspectiva de olhar a escrita de um outro modo.

A palavra escrita tal como a palavra oral sofrem a evolução natural. Modernizam-se! Evoluem. E enriquecem as línguas, tantas vezes! Assim, tentar manter uma língua espartilhada numa escolástica sintáctica 
perene, é impossível!

A evolução é saudável! Claro que me refiro ao uso da Língua Portuguesa com muita dignidade, até respeito, e orgulho, valorizando-a em tudo o que ela tem de mais belo, já que na sua génese se encontram as línguas clássicas: Grego e Latim."


G-S (03.03.2008)




José Saramago
créditos : RTP

Conheço-o bem pelos seus livros. Li, em grande número. Por profissão, e por gosto. 

Os que mais gostei ? Memorial do Convento (lido e tantas vezes analisado em contexto literário, pedagógico), O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira, A Caverna, entre vários outros.




O Evangelho Segundo Jesus Cristo
José Saramago,1991

"É um romance, nada mais. Um romance que se atreve muito, um livro honesto, um livro limpo, que vai com certeza confundir muita gente, que vai indignar também não pouca gente"

José Saramago

Sempre consegui separar o homem do escritor. Mais importante do que quem cria, é a própria criação! Gosto de o ler! Tem um sabor diferente, a sua escrita! Aprecio a liberdade. Sem sintaxes ataviadas, uso das palavras com inovação, e junção a seu belo prazer, dignificando sempre a língua, num modo imaginativo, articulado com esse discurso ficcional muito próprio. 





A última obra que li, até ao momento da sua morte, foi Caim! Mais um livro do autor a provocar tanto desconcerto entre leitores e críticos. E devo dizer que não me chocou. Nem tive receio das palavras e ideias nele contidas. Um livro que se lê com apreço. Uma introspecção crítica.

Não gosto muito de Pilar, sua mulher. Não sei explicar a razão, mas são daquelas coisas de instinto. Pareceu, no entanto vista à distância, sempre dedicada. 

Escreveu Pilar, sua mulher, no blog da Fundação Saramago, quando anunciou o novo livro do escritor:

"Este livro agarra-nos, digo-o porque o li, sacode-nos, faz-nos pensar: aposto que quando o terminardes, quando fizerdes o gesto de o fechar sobre os joelhos, olhareis o infinito, ou cada qual o seu próprio interior, soltareis um uff que vos sairá da alma, e então uma boa reflexão pessoal começará, a que mais tarde se seguirão conversas, discussões, posicionamentos", escreve ainda a presidente da Fundação Saramago no texto."

Quase a concluir, Pilar del Río classifica o romance de José Saramago, 86 anos, como "literatura em estado puro".


Pilar del Rio


Caim
José Saramago, 2009


Reconheço que assim foi! Li o curto romance de uma vez, mas bem devagar! Paradoxo? Talvez não! Impossível não reagir, questionar, meditar! Olhei várias vezes esse infinito, numa introspecção bem silenciosa. Tal como quando li O Evangelho Segundo Jesus Cristo.

Transcrevo a curta frase que resume a obra: “A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele”. 

Saramago, Caim, 
Caminho, Outubro 2009, 1ª edição, pág. 91

Suponho, pela leitura que fiz, que Deus - deus como Saramago preferia escrever - não lhe era assim tão indiferente!

"Estavam no quarto. Fernando Pessoa sentado aos pés da cama, Ricardo Reis numa cadeira. Anoitecera por completo. Meia hora passou assim, ouviram-se as pancadas de um relógio no andar de cima, É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele depois de o ter ouvido pela primeira vez. Fernando Pessoa tinha as mãos sobre os joelhos, os dedos entrelaçados, estava de cabeça baixa. Sem se mexer, disse, Vim cá para lhe dizer que não tornaremos a ver-nos, Porquê, O meu tempo chegou ao fim, (...)

José Saramago,
 O Ano da Morte de Ricardo Reis, 
Caminho, 1984, 1ª edição

Este excerto poderia bem pertencer a... ano da morte de José Saramago. 

Quase diria que o diálogo se passaria entre Saramago e Borges, autor que muito admirava.







E hoje, 16 Novembro 2021, iniciaram-se as celebrações do Centenário José Saramago, ano em que o escritor faria 99 anos. Pos esse motivo o Centenário terá duração de um ano, até 26 Novembro 2022, ano do seu nascimento.




Um Programa vastíssimo que seguiram atentamente. Desde a literatura, à música, teatro, dança, cinema, e outras, tudo celebroua efeméride, com apoio da Fundação José Saramago. Não esquecendo a vertente pedagógica dirigida às escolas: Ensino Básico e Ensino Secundário com as Leituras Centenárias.




As pequenas memórias
José Saramago


Termina hoje o Ano José Saramago com um Programa especial que engloba as Leituras Saramaguianas (escolas secundárias, Portugal e Espanha), a leitura integral de As Pequenas Memórias, no Auditório da FJS.

"O meu objetivo foi sempre recuperar, reconstruir, reconstituir a criança que eu fui. Essencialmente, ao que me parece, as adolescências assemelham-se todas. Só as infâncias são únicas."

José Saramago

Na delegação de Azinhaga, terra natal do autor, será plantada a centésima árvore do projecto 100 oliveiras para Saramago


 



Teatro Nacional São Carlos


A festa termina à noite no Teatro São Carlos com a apresentação da ópera Blimunda, de Azio Corghi, numa nova produção baseada no Memorial do Convento, realizada para festejar o Centenário de Saramago.


[Não escrevo] por amor, mas por desassossego. Escrevo porque não gosto do mundo em que vivo. [“Saramago: ‘Yo no escribo por amor, sino por desasosiego”, El Día, Tenerife, 15 de janeiro de 2003. Notícia de la Agencia EFE]

José Saramago

G-S

Fragmentos Culturais

18.06.2010

actualizado 16.11.2022

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Livros & filmes : A Mulher do Viajante no Tempo... revisitado !





A Mulher do Viajante no Tempo
 Robert Schwentke, 2009



"A romantic drama about a Chicago librarian with a gene that causes him to involuntarily time travel, and the complications it creates for his marriage."

Os dias têm-se feito frescos, uma atmosfera estranha nesta primavera descontinuada. Nada melhor do que uma sessão de cinema, num final de tarde de sábado, assim desconfortante.

Passei os olhos pelos cartazes das salas de exibição. Nada que me cativasse de imediato! Quando assim acontece, revejo com mais atenção. Deparo-me então com um filme adaptado de um romance de ficção científica! Um romance de ficção científica? Vejamos! 




A Mulher do Viajante do Tempo
Audrey Niffenegger, 2004
Editora Presença

A Mulher do Viajante no Tempoum romance com características de ficção-científica por revelar uma concepção inovadora do fenómeno da viagem temporal. Captou-me! Estava decidido.

Entrei! Pouca gente! Óptimo! Pude escolher tranquilamente um lugar e aguardei. A sala era pequena, música ambiente calma, o que não é usual. Afundei-me na cadeira e esperei pela clássica escuridão de onde sobressai um ecrã gigante luminoso. Um momento muito nosso, não é mesmo?






Baseado no livro The Time Traveller's Wife, o primeiro romance de Audrey Niffenegger internacionalmente muito bem recebido. Gosto de filmes que partem de livros, já o escrevi. Oferecem quase sempre um enredo coerente e um ritmo muito próprio. Se já despertei a vossa curiosidade, podem folhear o livro online, aqui




The Time Travel'd Wife
Audrey Niffenegger
www.amazon.com

Spirited... Niffenegger pays ingeniously in her temporal hall of mirrors.

The New Yorker

Não vou deixar aqui a sinopse, nem do filme, nem do livro. Não quero tirar-vos o imenso prazer da descoberta.

Apenas umas dicas: Henry é bibliotecário especializado em livros raros, Clare uma escultora. Mas nem vou contar como se encontram...





A Mulher do Viajante no Tempo, 2009
 Robert Schwentke, 2009





A Mulher do Viajante no Tempo, 2009
 Robert Schwentke, 2009

Voltemos ao filme! Todos estamos mais ou menos familiarizados com este eterno dilema - o tempo - e a forma como ele pode moldar as nossas vidas. A Mulher do Viajante no Tempo não é  um filme inovador na temática. Mas, à medida que o filme foi avançando, senti reforçar o invulgar de um ponto de vista







A verdade é que mesmo viajando no tempo, Henry não consegue mudar o rumo principal da sua história, antes pelo contrário. Cada vez mais se torna inevitável. E a sua história torna-se somente aquela, devido ao seu dom. Um ciclo temporal determinado. 

A intensa narrativa vem dizer-nos isso mesmo! Tentarmos controlar o tempo, só nos faz desaparecer da vida e determiná-la cada vez mais. 






A Mulher do Viajante no Tempo, 2009
 Robert Schwentke, 2009
https://www.imdb.com/

Apesar dos avanços e recuos da narrativa, através de vários espaços no tempo, a história filmada segue num ritmo bem tranquilo e vamo-nos envolvidos na vida e no destino das personagens. E quase lamentamos, - oh! parca ilusão - que Henry não tenha conseguido, já que se tratava de ficção científica, alterar o rumo dos acontecimentos.





A Mulher do Viajante no Tempo


 Robert Schwentke, 2009

Pressenti, ao longo de A Mulher do Viajante sem Tempo, algumas reminiscências de dois filmes inesquecíveis! Fazem parte dos meus afectos cinematográficos! Daqueles filmes que sempre nos vêm à memória!


A cena quase final da festa de anos em Meet Joe Black, presente também nesta película, romanesca, mas de intensa beleza estética, bem como o similar fogo de artifício.

Também no desaparecimento de Henry e na expectativa de Clare, vi o poético filme The Ghost. Um filme que mexeu com muitas convicções.








A Mulher do Viajante no Tempo

 Robert Schwentke, 2009

Nada disso tira valor a este filme! Simplicidade na narrativa cinematográfica, numa possível leitura, muito pessoal, do best-seller que mostra  que o verdadeiro amor é capaz de transpor todas as barreiras – inclusive a mais implacável de todas. O tempo.





The Time Traveler's Wife
music from the movie
scored by Michael Danna


Um filme suave, onde não falta um delicioso humor, e uma excelente banda sonora do conhecido Michael Danna, em mini audição Amazon!



Realizado por Robert Schwentke, guião de Bruce Joel Rubin (o mesmo que escreveu Ghost) produzido por Brad Pitt (não esqueceram Meet Joe Balck) que comprou os direitos de autor em 2003, mesmo antes do livro ter sido publicado. 







A Mulher do Viajante do Tempo
Audrey Niffenegger, 2003
Editorial Presença

"A Mulher do Viajante no Tempo" (2003) é a primeira obra de Audrey Niffenegger, artista plástica, escritora e professora de arte na Columbia College, uma universidade de Chicago. 

Depois de algumas dificuldades em publicar o livro, este tornou-se um best-seller nos Estados Unidos e no Reino Unido. Niffenegger tem sido muito elogiada pela sua visão única sobre a viagem no tempo. 

Apesar de ser considerado um romance de ficção científica, os sentimentos de Henry e Clare são tão reais, tão intensos e verdadeiros que se torna impossível não nos envolvermos nas emoções das personagens. 

O livro é narrado alternadamente por Clare e Henry, aspecto que o guião de Bruce Joel Rubin preserva.

The time will come
when, with elation
you will greet yourself arriving
at you own door, in your own mirror,
and each will smile at the other's welcome, [...]

Derek Walcott, Lover After Love

No que me diz respeito, estou a ler! E para meu enorme gáudio, depois de algumas tentativas frustradas, consegui encontrar o livro que me tinha sido dado como inexistente, já que a edição portuguesa remontava a 2004. Imaginem, um livro na 1ª edição, perdido nas prateleiras de uma pequena livraria de um centro comercial. Há pequenos pormenores que não devemos deixar escapar! Não há acasos.




A Mulher do Viajante no Tempo
 Robert Schwentke, 2009
https://www.imdb.com/

Ontem, pela madrugada, apanhei o filme, num daqueles canais de cinema. Fiquei-me, perdida no tempo, a rever a história que me prendeu nos fios de cronos. Uma narrativa emocional que não se afasta muito da obra que a originou. Antes a torna inesquecível na viagem inusitada da sobrevivência do amor.


G-S

Fragmentos Culturais

14.06.2010
Actualizado 10.09.2020
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