domingo, 13 de dezembro de 2009

Ágora : um filme que nos toca !





Ágora
Alejandro Amenabar, 2009

Desta vez, fui mesmo das últimas pessoas a abandonar a sala, depois de o filme terminar e o genérico correr. Contemplativa, tocada, tentava absorver todos os pormenores de um filme que posso considerar como o mais impressionante que vi ao longo deste ano. 

Como eu, um casal permanecia sentado, olhando fixamente a tela que rolava ao som da banda sonora de inefável beleza de Dario Marianelli.

O impacto da veracidade dos acontecimentos, a trágica destruição da Biblioteca de Alexandria, um 'oráculo' para os  apaixonados pelos livros, como eu, a morte  quase piedosa de Hypatia que Amenábar põe nas mãos de Davus, seu antigo escravo e discípulo, a música de profundo sentimento lírico, tudo isto nos deixa em silêncio meditativo por mais alguns momentos.




Hypathia & Davus
Raquel Weisz & Max Minghella
Ágora
Alejandro Amenabar, 2009




Agora | Rachel Weisz
créditos: Getty Images
Festival de Cannes 2009
(fora de competição)
Hypatia é a figura principal deste épico de Alejandro Amenábar. A  partir da  Biblioteca de Alexandra, Hypatia leva a cabo uma luta para salvar  os livros  do  mundo antigo, ameaçada por perseguições religiosas. 
"4th century A.D. Egypt under the Roman Empire... Violent religious upheaval in the streets of Alexandria spills over into the city's famous Library. Trapped inside its walls, the brilliant astronomer Hypatia and her disciples fight to savw the wisdom of the Ancient World..."

Hypatia, filósofa, astrónoma, e matemática é uma mulher que me atraiu desde sempre, pela força de carácter, pela coragem de defender as suas ideias, pelo pensamento livre, interrogando-se sobre o porquê das coisas, pela busca da verdade, uma mulher de saberes e grande beleza, atributos impensáveis  em época alguma.




Hypatia 
 (c. 355 ce-March 415, Alexandria) 

Professora, suponho que a primeira no feminino, no Museu de Alexandria, Egipto, o centro intelectual e cultural grego que albergava várias escolas independentes e a célebre Biblioteca de Alexandria.

Movimentava-se livremente, conduzindo o seu próprio chariot, contrário às normas do comportamento público das mulheres. Teve uma considerável influência política na cidade. 

Deu origem à escola neoplatónica e nela recebeu discípulos de várias religiões. Foi cruelmente assassinada da maneira mais ignóbil que há memória.




Les femmes qui lisent sont dangereuses
Laure Adler/ Stefan Bollmann


Lembro que escrevi sobre Hypatia, em Janeiro de 2008, no post Mulheres que Lêem são Perigosas, o livroa propósito de um livro de Laure Adler & Stefan Bollmann, "Les Femmes qui lisent sont Dangereuses", Flamarion, 2006.








Hypatia que nos prende pelo modo como tenta entender incansavelmente o mundo que a rodeia, as pessoas que se aproximam, a sua dedicação total ao conhecimento. A humildade de reconhecer as suas limitações, e acima de tudo, a flexibilidade de reavaliar os seus pressupostos e de desafiar o que previamente dera como verdadeiro, numa incansável busca intelectual e científica.





 Hypatia e filósofo Then
Ágora
Alejandro Amenabar, 2009

As cenas da observação do firmamento são de inatingível beleza, na percepção dos astros, ao som do tema musical The skies do not fall!








"From the writing point of view, once we started researching, we realized that this particular time and world had a lot of connections with our contemporary reality. We realized that in making a movie about the past, we were actually making a movie about the present."

Alejandro Amenábar

Um filme que não deixará ninguém indiferente e que promete, apesar da polémica, entrar na corrida para os Oscars.





Hypathia/ Raquel Weisz
Alejandro Amenabar, 2009




Hypathia & Max Minghella
Ágora
Alejandro Amenabar, 2009

Raquel Weisz, soberba na sua interpretação, simboliza de forma cristalina, a razão, a tolerância, e inevitavelmente o seu martírio, bem secundada por Max Minghella, arrebatador, apaixonado, filho do célebre realizador Anthony Minghella


Cenários de incrível veracidade histórica, uma biblioteca e manuscritos que dói a alma supor como foram destruídos, numa mística de rara beleza pelos saberes e culturas.


O teu fim que não
tem fim é como um
floco de neve a
dissolver-se no ar
puro.


Bassui, mestre zen, 1327-1387



G-S

Fragmentos Culturais

13.12.2009

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