sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Ano Rembrandt : 400 anos




Rembrandt the Musical
Roy Beusker/AP

"Henk Poort, left, plays Rembrandt, and Wieneke Remmers, right, plays Saskia, during a dress rehearsal for 'Rembrandt The Musical' in Hoorn, Netherlands, in June 2006, ain this photo released by the company. The Dutch celebrate the 400th anniversary of Rembrandt's birth on July 15, when the musical opens for a six-month run. The lavish show seeks to present Rembrandt's exuberant and sometimes tragic life."

2006-07-15



Rembrandt with Beret and Turned-Up Collar, 1606

Celebra-se nos Países Baixos ou Holanda o 400º Aniversário do Nascimento de Rembrandt, o mais famoso pintor do século XVII.

As comemorações (1606-2006) iniciaram-se em 15 de Julho 2006, dia do nascimento do consagrado pintor.

Leiden, a cidade natal de Rembrandt van Rijn foi palco da primeira iniciativa cultural, um desfile da época que decorreu durante esse fim de semana.

"Four hundred years ago today in the Dutch city of Leiden, one of the most important and versatile artists in the history of western European art was born. And such is the enduring appeal of Rembrandt van Rijn that he is attracting record numbers of visits to his native country."

The Independent


Portrait of Saskia van Uylenburgh, ca. 1635
Rembrandt (sua mulher)

A vida e obra de Rembrandt poderão ser admiradas, pela primeira vez sem restrições, pelo público que sem dúvida será vasto!

E, no entanto, o pintor não teve uma vida felis. Saskia e três filhos morreram prematuramente.

Os eventos comemorativos do "Rembrandt Festival" decorrerão ao longo de todo o ano 2006.

A peça Rembrandt The Musical teve a sua estreia no Carré Theater, Amsterdão, em 11 de Julho 2006. Nela se procura ilustrar a vida exuberante e por vezes trágica do pintor.

Esta comemoração despertou-me lembranças - a alusão a Hoorn - cidade situada a 30 Km de Amsterdão, onde permaneci por uma semana, num projecto de intercâmbio cultural, já lá vão quase três anos!


The Abduction of Europa, 1632
Rembrandt

Nessa altura, visitei parte do RijsMuseum. As telas a que tivemos acesso deslumbraram-nos pela sumptuosidade e dimensão. As paredes desapareciam, dando lugar a uma exposição deslumbrante. Lamentavelmente curta.

Cores sombrias, onde o negro predominante contrastava com a luminosidade das personagens retratadas.

Tal como a semana que lá vivi! Fevereiro gelado, tempestades nocturnas com violentos ventos de sudoeste, característicos da região, dias muito chuvosos, húmidos, enevoados, quedas de neve, um tempo frio, na meteorologia e na hospitalidade.

A luminosidade fazia-se nos rostos dos jovens amigos que comigo partilharam a experiência.

Drive You Home*, tema dos Garbage embalou minha solidão, nessas noites desconfortáveis, num país distante.

(escrito e publicado em 16.06.2006, sob pseudónimo)

G-S

Fragmentos Culturais

11.08.2006
(reescrito)
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Referência:

* Garbage, Beautiful, Drive You Home A & E Records Ltd. 2003


domingo, 6 de agosto de 2006

Hard Candy ! Um filme para reflectir !








Hard Candy
David Slave. 2005


Nem sempre há filmes interessantes, em sala de cinema.


Adoro cinema! E lamento que as salas de circuito comercial não reservem um lugar maior para o cinema alternativo. isto é de qualidade. Sei que não esgotará bilheteiras, e as salas estarão mais vazia, mas certamente terão um público atento e apreciador.


Não vou ver qualquer filme, e nem todas as salas me agradam. Aspectos como o sistema de som e dimensão de ecrã têm importância. Não penso que uma ida ao cinema seja igual a uma sessão de DVD.


E o filme é fundamental! As minhas escolhas obedecem a aspectos que passam por um bom realizador, excelentes actores, um argumento originalou a adaptação cinematográfica de um bom livro. E,
 claro está, uma banda sonora imprescindivelmente de boa qualidade.





Hardy Candy
David Slade, 2005


Hard Candy era o filme a ver, nessa semana. Estivera presente em dois Festivais de Cinema não comercial. E fora premiado no Festival de Cinema da Cataluña: "Melhor Filme e Melhor Argumento".


O dia mostrara-se pouco convidativo para uma escapadela até à praia. Decidi-me então por uma sessão de final de tarde, pouco movimentada, sem grandes baldes de pipocas (abomino!) nem sorvedelas de coca-cola (outra praga!).








Hard Candy
David Slade, 2005


O título original mantivera-se, coisa rara, e o tema prometia uma história complexa. 


O argumento centrava-se em duas personagens, tendo como cenário um ambiente minimalista.


Um homem de trinta anos, fotógrafo de profissão, e uma jovem adolescente de quatorze anos marcam encontro via Internet, depois de longas horas em salas de chat. 





Ellen Page & Patrick Wilson
Hard Candy
David Slade, 2005


A jovem demonstrara uma maturidade muito além da sua idade. Ao longo da trama vem a exibir um comportamento fortemente penalizador, levado a uma frieza extrema no desenvolvimento de um encontro que parecia inofensivo.


Hard Candy, dois conceitos opostos que levarão à descoberta de amarga surpresa para a personagem masculina.


Esperava um thriller bem conceptualizado, com um argumento focalizado na realidade dos encontros virtuais, com desencantos talvez, mas sem agressividade.


Enganara-me redondamente! Deparei-me com um filme perturbador, correcto, e de grande intensidade psicológica. A câmara, em grandes e fechados planos,'close-up', não nos permitia a fuga. 


Obrigava-nos a tomar partido, chamando-nos a depor, testemunhas mudas, o que deixou os espectadores presentes, desconfortáveis. Algumas pessoas abandonaram a sala. Eu cheguei a hesitar...


É um bom filme, sem sombra de dúvida! Mas de trama psicológica arrepiante!





Ellen Page
Hard Candy
David Slade, 2005

Interpretação incrível de Ellen Pageuma jovem actriz de 14 anos (quem diria?!), diálogos sibilados, planos longos e cheios, violência fria, premeditada, nas palavras e nos actos, que em um crescendo vão quase torturando o olhar e os sentidos dos espectadores.


Aprecio filmes com argumento forte, histórias bem narradas. Fragmentos da vida real sim, mas em tons de testemunho vivencial, mesmo que efabulado, mais sereno, e sobretudo, menos viciado e nunca maquiavélico.






Hard Candy
David Slade, 2005


Este filme ultrapassou os meus limites para aquele final de tarde. Sai desfeita. Como era possível uma adolescente...


O problema social e ético subjacentes são assuntos que a todos nós, regidos por valores existenciais, preocupam. E merece uma profunda reflexão da sociedade.


Mas pôr o ênfase justiceiro numa jovem que não possui ponta de ingenuidade, chocou-me! Será esse o impacto que realizador e argumentista quiseram transmitir? 


Por trás do ar cândido e infantil da intérprete, sublimemente trabalhado pela câmara, uma cabeça feita de arrojo, vontade fria, inabalável, de levar seus actos ao extremo, inexoravelmente.






Elle Page
Hard Candy
David Slade, 2005



Ver alguém tão jovem possuir uma arte de sedução tão burilada, capaz de baralhar um ser adulto, experimentado, fez-me questionar tantos conceitos!


Que juventude se estará a desenvolver, ao crescer em ambientes opacos, flou, de salas de chat, Hi5, Myspace e outras redes virtuais?


Que mentes estragadas - e veio-me à ideia o caso dos dois adolescentes do Liceu Columbine - estarão a ser forjadas pelas novas sociedades ditas 'civilizadas', sem o acompanhamento familiar adequado e ajustado aos novos desafios de uma outra sociedade?


E que jovens irão ver o filme? A maior parte estará na faixa etária, por vezes inferior, à da personagem feminina descrita. Como se envolverão?






Hard Candy
David Slade, 2005


I't's 'Fatal Attraction' for am new generation !? Preparem-se! Não é facilmente digerido. Aproveitem um dia de bem-estar. Porque vão sair bem intranquilos. 


Ou então, vejam-no como uma ficção surreal. Mas, não se enganem! É que a ficção está demasiadamente próxima da realidade.


Eu não consegui sair airosa e ligeira. E, como eu, ninguém que permaneceu naquela sala até ao final, para não falar nos espectadores que a abandonaram.


Recomendo-o, mas a um público maturo. Deixa-nos bem pensativos.


Ah ! Acompanhem os vossos adolescentes, se eles quiserem ir ver Hard Candy.


(escrito e publicado em 7.07.2006, sob pseudónimo)


G-S


Fragmentos Culturais

06.08.2006
(revisto)


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