terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Cinema de culto ! David Lynch, um dos maiores, partiu !

 




David Lynch [1946-2025]
credits: Josh Telles


"There's a big hole in the world now that he's no longer with us," (...) "But, as he would say, 'Keep your eye on the donut and not on the hole.'… It's a beautiful day with golden sunshine and blue skies all the way."

David Lynch, family

in Facebook page


Lynch revelara em Agosto 2024 que estava a combater um efisema pulmonar, uma doença crónica pulmonar provocada por "many years of smoking" segundo as suas próprias palavras. E acrescentou que nunca se retiraria. Impedido de sair de casa, continuava aí a trabalhar.





David Lynch


“I wouldn’t know what to do with [colour]. Colour to me is too real. It’s limiting. It doesn’t allow too much of a dream. The more you throw black into a colour, the more dreamy it gets… Black has depth.(...)

David Lynch

David Lynch deixa para a história do cinema algumas das obras mais marcantes. Enigmáticas, originais, e surrealistas lançando assim um estilo cinematográfico conhecido como “lynchian”. E mais, do seu estúdio em Hollywood Hills, a sua orginalidade prolongou-se pela música, pintura, fotografia, vídeo experimental e vários outros interesses.






Blue Velvet
David Lynch, 1986

David Lynch, o cineasta avant-garde de culto, quatro vezes nomeado para os Oscars com  filmes como Blue Velvet (1986), Mulholland Drive (2001), Eraserhead (1977), Wild at Heart (1990), The Elephant Man (1980) e outros,  como a série dramática Twin Peaks (!990-1991) morreu na quarta-feira, dia 15 Janeiro 2025. 






credits: David Lynch

Com algumas das obras mais originais do cinema e da TV, durante cinco décadas, lançou o seu próprio estilo cinematográfico que passou a ser denominado como “lynchiano"


David Lynch é um dos principais cineastas da sua geração. Se não, o maior! A sua influência prolongou-se na música, pintura, fotografia, vídeo experimental e vários outros interesses culturais, enquanto a vida lhe permitiu. Deixa um enorme vácuo nos cinéfilos convictos.





"In the video, Lynch talks about his first love—painting—and his subsequent lifelong devotion to artmaking, from his student years at the Pennsylvania Academy of Fine Arts to his move to Los Angeles to pursue cinema, or “moving paintings."

Artforum, 2019


"It makes me uncomfortable to talk about meanings and things. It's better not to know so much about what things mean. Because the meaning, it's a very personal thing, and the meaning for me is different than the meaning for somebody else."


David Lynch





David Lynch
credits: Rob Sheridan
via Hero

Lynch nasceu em Montana (US) e cresceu em vários lugares da região central dos Estados Unidos, rodeado de vedações brancas, que viria a questionar nos seus filmes.


Estudou pintura em Filadélfia, antes de fazer a transição para o cinema experimental. A sua estreia em 1977, Eraserhead, tornou-se um clássico de culto e abriu caminho para The Elephant Man, nomeado para oito Oscars, e para uma adaptação de grande orçamento de Dune, um doloroso fracasso no seu lançamento (1984).






Inland Empire
David Lynch, 2006

Com o tempo, os filmes de Lynch tornaram-se cada vez mais oblíquos, culminando no sonho febril fragmentado de Inland Empire (2006), embora o seu road movie de 1999, The Straight Story, tenha sido inesperadamente linear e terno, evitando a violência e a depravação que marcaram grande parte da sua obra.





Mulholland Drive
David Lynch, 2001


Lynch dirigiu 10 filmes, entre eles os nomeados para Oscars Mulholland Drive, Blue Velvet and The Elephant Man.


O seu último projecto maior Twin Peaks: the Return foi transmitido em 2017 e continuou como série televisiva. 


Para mim, Twin Peaks foi o grande sucesso de Lynch, nos anos 90s transmitido em muitas televisôes mundiais. Foi o meu grande encontro com David Lynch, claramente depois de Blue Velvet no cinema. O meu filme de eleição da filmografia de Lynch, seguido de Mulholland Drive.






David Lynch
The Golden Lion for Lifetime Achievement of the Venice International Film Festival 2006


Em 2006 foi galardoado com o Golden Lion for Lifetime Achievement no Venice International Film Festival com a exibição  da sua última  obra prima, Inland Empire.


Em 2020, foi-lhe atribuido Honorary Oscar for Lifetime Achievement nos Governors Awards. 





David Lynch Palme d'Or
Festival de Cannes 1990
credits: Getty Images


Mas muitos anos antes, recebera já a Palme d’Or no Festival de Cannes com o filme Wild at Heart. Fora anteriormente nomeado por tês vezes. Foi ainda galardoado como Best Director com Mulholland Drive en 2001.


David Lynch faria hoje 79 anos ! 





"Film exists because we can go and have experiences that would be pretty dangerous or strange for us in real life. We can go into a room and walk into a dream. If we didn't want to upset anyone, we would make films about sewing, but even that could be dangerous. But I think finally, in a film, it is how the balance is and the feelings are. But I think there has to be those contrasts and strong things withing a film for the total experience."


David Lynch


G-S

Fragmentos Culturais

20.01.2025

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Novo Ano ! Faça-se Luz !







La Dame Ovale
Leonora Carrington Green Tea, 1942
Exposition 'Surréalisme'
Centre Georges Pompidou


Parto para 2025 e deixo inacabados, com esperanças e desilusões. Paradoxo. Mas é sempre bom pensar e sentir com verdade. 


"Mudar o mundo é mudar os ponteiros onde se marca o bem e o mal. Não quer dizer pô-los ao contrário, mas dar-lhes andamento certo.

A vontade de transformar o mundo. Desgraçado do povo que não compreende isso: ele não tem génio. E triste do poeta que não sente assim, porque ele não tem simpatia pela vida."

Agustina Bessa-Luís, Mudar o Mundo


Tenho uma enorme aspiração que o mundo mude para muito melhor! Aspiração profunda, sentida. Direi como Agustina com uma pequena alteração... 

"Desgraçada 'da Humanidade' que não compreende isso: ela não tem génio." 


Não tem sensibilidade, Não quer ter a bondade de ser fraterna. 


O que está feito é irreversível ! Mas podemos ter múltiplos gestos para tentar mudar.


Tenho lido boas e más profecias para 2025. Vamos acreditar na intermédia. 


Faço votos sinceros que o mundo mude em 2025! Isso está na minha vontade e na vontade de cada um de nós! 


E na vontade daqueles que se julgam 'donos do mundo' ! Faça-se LUZ no Universo !

Só quando formos muitos para os coartar, é que chegaremos ao nosso dom maior. Mudar o mundo para muito melhor!


Bom Ano 2025 para todos, especialmentos para os poucos mas fiéis amigos que continuam a ler-me.


G-S


Fragmentos Culturais


30.12.2024

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

BBC Women 100 2024 : Maria Teresa Horta [1937-2025]

 




Women 100 2024
créditos: BBC

"The BBC has revealed its list of 100 inspiring and influential women from around the world for 2024."

Entre elas estão estão a astronauta Sunita Williams, a sobrevivente de violaçóes Gisèle Pelicot, a actriz Sharon Stone, as atletas olímpicas Rebeca Andrade e Allyson Felix, a cantora Raye, a vencedora do Prémio Nobel da Paz Nadia Murad, a artista visual Tracey Emin, a activista climática Adenike Oladosu e a escritora Cristina Rivera Garza.




Maria Teresa Horta

crédito: Tiago Miranda

via Expresso


E resistente escritora e poeta, Maria Teresa Horta, também aí está incluída  !


"Writer and journalist Maria Teresa Horta is one of Portugal’s most prominent feminists and author of many award-winning books, but she is perhaps best known as co-author of the internationally acclaimed Novas Cartas Portuguesas (New Portuguese Letters), written with Maria Isabel Barreno and Maria Velho da Costa."

BBC 100 Women 2024




Novas Cartas Portuguesas, 1a edição, 1972

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

Estúdios Cor





Novas Cartas Portuguesas, 1a edição, 1972

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

Estúdios Cor

via Bestnet Leilóes


A escritora e jornalista portuguesa Maria Teresa Horta é descrita como "uma das feministas mais proeminentes de Portugal e autora de muitos livros premiados" destacando as "Novas Cartas Portuguesas", escrito em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. 

Foi editado, em Abril de 1972, pela Estúdios Cor, dirigido por Natália Correia. Em um país onde as mulheres eram educadas para se manterem distantes dos acontecimentos e da cultura, Natália Correia conseguiu rasgar os horizontes. A sua voz fazia-se ouvir! 

Daí não me admirar nada que a poeta, e política desse voz também a estas "Três Marias".

O livro foi apreendido em Junho, a censura 'catalogou' a obra como 'imoral' (?) Foi proibido e retirado das livrarias. As autoras e editor, foram incriminados e levados a tribunal. O caso só terminou com a revolução de 25 de Abril de 1974. Nessa altura, já era um best-seller em Portugal e no estrangeiro.





As 3 Marias
via Museu do Aljube

A proibição da obra pelo governo da época, no ano da publicação, 1972, e o julgamento do processo conhecido por "Três Marias", por alegada ofensa à moral pública, segundo os padrões da censura da época, fizeram manchetes e inspiraram protestos em todo o mundo", escreveu a BBC.


O impacto internacional divulgado em França pela escritora Simone de Beauvoir - escritora que estudava na Faculdade de Letras -, chamou-me de imediato à atenção, até pela divulgação da proibição do livro em Portugal que as "Três Marias", assim vulgarmente denominadas, foram alvo de um processo.





Novas Cartas Portuguesas, 2a edição, 1974

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horts e Maria Velho da Costa

Futura

https://www.livraria-trindade.pt/


Li o livro, edição 1974. Guardo-o religiosamente, entre muitos outros. Mas este tem um saboir especial. O primeiro livro de uma era que começara com Natália Correia, cujo Centenário foi celebrado em 2023. Foi mesmo?!


Já não lembro onde adquiri esta edição. Sei que li o livro, saboreando cada palavra, cada página... Era uma nova era! Uma escrita a três, sem sabermos quem escrevera o quê, dado o compromisso, assumido pelas autoras, de nunca revelarem a autoria individual dos vários textos.


Era o renascer de um tempo novo, sim, que se abria na literatura feminina portuguesa. Desta vez, fora-se mais longe, numa época tão castradoraa nível das ideias. 


Embora de família conservadora, fui sempre muito atenta às ideias que saíam fora do comum, talvez pelas viagens constantes com meus pais a França, centro da cultura e das novas ideias que invadiam a arte em várias frentes. Hoje dir-se-ia mais avançadas no que que diz respeito ao papel das mulheres. Fui a única, entre vários irmãos, a querer tirar um curso universitário.

Enfim, era aguerrida no pensamento e nas ideias, gostava de as debater entre alguns, mas conservadora no estar. 





Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

via RTP Ensina


A obra "As Novas Cartas Portuguesas"  e as suas autoras foram alvo de defesa pública internacional de várias e conceituadas personalidades. Marguerite Duras, - autora que lia - Doris Lessing, que só li muito mais tarde, e Iris Murdoch e Delphine Seyrig.


Quando se juntaram para compor uma teia de poemas, cartas, ensaios e contos, Maria Isabel Barreno [1939-2016], Maria Velho da Costa [1938-2020] e Maria Teresa Horta [1937], não imaginaram, talvez que o seu livro provocasse tão efusivas manifestações, muito menos a nível internacional.


O livro Novas Cartas Portuguesas adquiriu uma enorme carga simbólica.


Infelizmente duas das escritoras já nos deixaram. Só Maria Teresa Horta continua a escrever. O que ela mais gosta de fazer.





Maria Teresa Horta 
crédito: Autor não identificado
via Google Images Archive

Posso sentir-me perto de Teresa, como 'amiga'. Sem nunca a ter conhecido, pessoalmente. Leio muitos dos seus últimos poemas. Agora mais escassos. Pelo menos vindos a público na sua página oficial.


Tem Livros belíssimos! De alguns, deixei por aqui vários excertos. 


Mas o que mais admiro hoje em dia é a sua poesia. Alguns poemas e curtas passagens de poemas de Maria Teresa Horta também lerão por aqui. 


Gosto do erotismo que imprime aos seus versos. Não em todos. Os menos 'despidos'. Gosto dos mais ternos, imbuidos de um erotismo mais afectuoso.


Maria Teresa Horta foi recentemente distinguida pelo Ministério da Cultura com a “Medalha de Mérito Cultural”, pelo seu contributo incomparável para a cultura portuguesa. 


A poeta não gosta de prémios, gosta de escrever. Sempre à mão. A poesia é a sua linguagem e o erotismo o seu tom de alma. 


Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

Maria Teresa Horta, Poema sobre a recusa




Maria Teresa Horta [1937-2025]

via RTP


Maria Teresa Horta deixou-nos neste dia, 04 de Fevereiro 2025.


Começo a juntar a fraca
claridade
dos dias demasiados curtos

e a sua gélida sombra
sobra entre os meus dedos

(...)

Clamo em vão, a procurar abrigo
na floresta onde fico
à espera entre as árvores

da vitória da luz sobre a escuridade

Maria Teresa Horta, Solstício de Inverno, Dezembro 2015


G.S

Fragmentos Culturais

12.12.2024

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