sábado, 4 de abril de 2020

Liberdade no olhar !








via Black Castle


Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
Que me deis flores...
Sejam essas as flores que me deis...

*Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos (?), Dai-me rosas e lírios

Falar de liberdade. Poderia falar de tanta coisa! Da liberdade de expressão, tão em voga nestes nossos modernos tempos.

Mas não! Vou falar da liberdade que se espraia diariamente, diante dos meus olhos, quando ollho pela janela.

Falar deste horizonte que me me leva até ao mar distante, lá longe, quando o céu se mostra límpido, e o sol se reflecte na languidez da maré.

Falar da liberdade que tive até há bem pouco tempo, de andar por aí, nas lindas tarde de Primavera.

Falar da liberdade que os meus olhos têm ao ver o voo das gaivotas que vão e vêm, do mar em direcção à cidade. Gaivotas que poisam frente à minha janela, em posição serena. Meditativa.

Falar da liberdade de espraiar o olhar até lá longe! E viver intensamente o pôr-do-sol, bem rosado, entre nuvens leves e prédios altos.

Lá longe, sem obstáculo algum, busco a energia para viver este confinamento. Respiro fundo. Absorvo o ar que me traz aromas de infância. Sem pressa.

Falo deste horizonte, deste distanciamento do mundo que rola lá fora. Sem piedade. Pesadelo.

Recordo os doces fins de tarde. Aqui, à janela, meu pensamento voa. Sou livre.


Fragmentos Culturais

04.04.2020
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* Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa, Ática, 1973 (4ª ed. 1993).