Jorge de Sena | RTP2 (1972)
De todas estas palavras não ficará, bem sei,
um eco para depois da minha morte
que as disse vagarosamente pela minha boca.
Tudo quanto sonhei, quanto pensei, sofri,
ou nem sonhei ou nem pensei
ou apenas sofri de não ter sofrido tanto
como aterradamente esperara -
nenhum eco haverá de outras canções
não ditas, guardadas nos corações
alheios, ecoando abscônditas ao sopro do poeta.(...)
Jorge de Sena
O poeta e ensaísta Jorge de Sena, falecido há 30 anos, foi homenageado quinta-feira, dia 10 de Julho 2008 no Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa, numa sessão patrocinada pela Fundação José Saramago, destinada a "reavivar a memória e a obra de um grande autor quase esquecido"

Jorge de Sena
Um regresso
Fundação José Saramago
Jorge de Sena, morreu em Junho de 1978 com 68 anos. Viveu a maior parte da sua vida fora de Portugal, nomeadamente no Brasil, e nos Estados Unidos, onde e morreu. Aí foi professor universitário.
É considerado uma das principais figuras da cultura portuguesa do século XX e um dos seus maiores poetas.
"Jorge de Sena não teve o reconhecimento que merecia e hoje em dia os seus livros são difíceis de encontrar nas livrarias", disse à Lusa um responsável da Fundação José Saramago, a entidade que promoveu a homenagem, com o apoio do Ministério da Cultura e da Biblioteca Nacional.
Além do Nobel português da Literatura, José Saramago, intervieram na sessão Eduardo Lourenço, António Mega Ferreira, Vítor Aguiar e Silva, e o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. O programa incluiu ainda um recital de piano de António Rosado e a leitura de um depoimento da viúva de Jorge de Sena, Mécia de Sena. |
Mécia de Sena
créditos: fotografia Fernando Lemos
"Eu conheci o Sena, sem qualquer espécie de intimidade a não ser aquela que resultou de quando ele se foi embora de Portugal porque fazia traduções para a Editorial Estúdios Cor (onde José Saramago trabalhava)." Posteriormente, "ele veio a Lisboa uma vez ou duas, uma por ocasião de um congresso de escritores em que casualmente ficámos sentados um ao lado do outro e conversámos. Depois de 1974, os contactos romperam-se porque não publicámos nada mais dele".
José Saramago
José Saramago
Fundação José Saramago
Quanto ao evento dessa noite, Saramago afirmou não acredita que fosse "uma espécie de passe de mágica que vá transformar essa situação (de alguma indiferença) numa completamente diferente, com Portugal inteiro correndo às livrarias à procura dos livros do Jorge de Sena - coisa que estaria muito bem se o fizesse -, mas não sejamos ingénuos".
José Saramago
José Saramago
Jorge de Sena
Caricatura Rui Knopfli
Caricatura Rui Knopfli
Jorge de Sena sempre se sentiu injustiçado em vida, e até mesmo depois da sua morte foram raros os momentos em que lhe foi feita justiça enquanto homem e enquanto cidadão. Tendo sido um dos mais ecléticos autores portugueses do século XX, a sua obra estende-se desde a poesia à prosa, ao drama, ao ensaio, à investigação, à história da cultura, tendo exercido a profissão de engenheiro mas também de professor.
João Carlos Costa
(...)
João Carlos Costa
(...)
Tão longe, meu amor, tão longe,
quem de tão longe alguma vez regressa?!
E quem, ó minha imagem, foi contigo?
(De mim a ti, a mim,
E quem, ó minha imagem, foi contigo?
(De mim a ti, a mim,
quem de tão longe alguma vez regressa?)
Jorge de Sena, Quinze Poetas Portugueses do séc. XX,
Assírio & Alvim, 2004
G-S
Fragmentos Culturais em tributo a um dos escritores portugueses que mais admiro!
14.07.2008
(adaptação de post publicado sob pseudónimo em 10.07.2008)
Copyright © 2008-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Não conheço muito da obra de Sena, deste-me umas pequenas pistas, aguçaste-me o apetite, terei de o ir descobrir.
ResponderEliminarmais um "enorme" post.
(desta vez coloquei aspas no enorme).
Sena é desconhecido para uma grande parte de portugueses. E apesar, de viver sempre exilado, primeiro por obrigatoriedade, depois por opção [penso que o entendo...] nunca deixou de escrever sobre seu país!
ResponderEliminarTem uma obra vastíssima, é talvez um dos escritores 'lusitanos' mais cultos, mas se não fosse a 'Fundação Saramago' que o homenageou... continuaria votado 'ao esquecimento' :(
Como todas as grandes figuras portuguesas! Não tem emenda este país :((
Sensibilizada, Tiago, leitor 'fiel', pelo teu olhar amigo em 'fragmentos'!
Uma boa semana!
Beijo,
Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão.
ResponderEliminar... concordo com a 'citação'!
ResponderEliminarNão costumo 'apagar' os comentários que possam fazer! A não ser que os considere atentatórios do meu 'livre arbítrio'!
As palavras a quem as escreve, a responsabilidade a quem vem por bem ou por mal...
Parece-me bastante provocatório o link que aqui deixou, é o mínimo que posso dizer... mas fica ao seu inteiro critério, 'fg'!
Fragmentos,
ResponderEliminarJorge de Sena...descubro-o um dia por acaso!!!!
E retomo-o anos depois! Um MUNDO FANTÀSTICO!
Merecida, mais do merecida qualquer evocação!
Bjkas!
Pela mão da minha querida Avelaneira Florida chego aqui e tenho de me associar a esta justa e bem montada homenagem a Jorge de Sena.Parabéns pelo seu blogue!
ResponderEliminarSegundo parece, o grande problema de Jorge de Sena - que foi um grande escritor e um grande estudioso da nossa Literatura - é que ele era muito,( talvez demasiado), susceptível. Tinha algumas boas razões para isso mas elas eram agravadas por esse traço de carácter.
José Gomes Ferreia (no seu Diário - Dias Comuns III, que casualmente ando a ler agora), refere-se a Jorge de Sena numa curta entrada. Depois de lhe chamar "portentoso Sena", escreve:
«Para que empurrar os outros, afinal sempre dispostos a aplaudi-lo com aquele carinho gentil-homem de justiça, mais vulgar entre nós do que o Sena pensa? Arrombar portas que não existem - para quê?»
Isto é: para quê as queixas constantes sobre a ingratidão da Pátria, - que Sena não perdia ocasião para fazer - se ele até era reconhecido como um grande escritor?
Não sei se será assim. Sei que vale a pena lê-lo. E estes "fragnmentos" são oportunos para o relembrar.
Hi :)
ResponderEliminarThanks for the great information about this poet.
Last week I had been trying to read the translation of Saramogo's book about Christ.Due to a bad translation I really lost interest in that and I kept it away.
@deepak -I am learning Portuguese thru inter net.Hoping that I will learn very faster.
muito obrigada por esta informação. E sabe sempre bem ler Jorge de Sena.
ResponderEliminarOs teus comentários estão respondidos. Raramente respondo aos comentários de imediato quando são publicados;)
ResponderEliminar'Avelaneira',
ResponderEliminarJorge de Sena é tão vasto na sua obra... temos de o ler 'compassadamente'!
A Fundação Saramago está de parabéns! Tem vindo a desenvolver uma série de eventos dignos de registo!
Sensibilizada pelo teu olhar em 'fragmentos'!
Um beijo
... respeito a opinião de José Gomes Ferreira, autor que gosto bastante, também!
ResponderEliminarMas, por conhecer razoavelmente bem a sua obra, noto que estamos perante personalidades e temperamentos totalmente diferentes - Sena e Gomes Ferreira!
É verdade que Sena jamais abandonou essa vertente 'revoltada' contra o seu país!
Esteve com ele até ao final de seus dias.
... eu costumo pensar, que quando as pessoas não esquecem as injustiças que sofreram... é porque essas foram 'demasiado' violentas, na sua perspectiva, claro! E esta é sempre muito subjectiva!
Mas é a maneira de ser de cada um! E isso, eu considero 'intocável'!
Não sei se Sena foi tão reconhecido assim, como Gomes Ferreira afirma! Pelos seus pares, sim! Suponho que foi! Mas pela 'Pátria'... não me parece, pelo que li e estudei.
Numa coisa estamos de acordo, 'Méon'! Vale mesmo a penas ler Sena!
Até posso afirmar que gosto muito mais de o ler do que de o ouvir...
Sensibilizada pelo seu olhar atento e vasto em 'fragmentos!
É sempre muito salutar 'tertuliar' mesmo em ambientes virtuais!
Hi Deepak,
ResponderEliminarWell, it's not so easy to read 'Evangelho Segundo Jesus Cristo' by Saramago... it's a bit hard even in portuguese! And if the translation is not so good...
If you are learning portuguese, that's good :)
Thanks for your visit!
... sabe mesmo, 'jasmim'!
ResponderEliminarSena tem coisas lindíssimas!
E depois o modo como ele perspectiva as várias vertentes da cultura! Por exemplo, gosto profundamente do que escreveu sobre 'Música'!
Sensibilizada pelo teu olhar em 'fragmentos'!
Um beijo
... hum! Quanta 'importância' me dás, Dark_
ResponderEliminar:)
Não é bem assim como afirmas, mas agradeço o teu cuidado e 'gentileza'...
Olá, desculpe passar aqui sempre na correria...passei aqui para deixar-te
ResponderEliminarum convite...
100,000,000 de pessoas unirão a sua luz,
no que será o maior Protesto de Luz pelo Tibete
No dia seguinte serão enviadas cartas a todos os presidentes de governo mundiais informando-os exactamente quantos seus concidadãos desejam um Tibete Livre. Pedindo a cada um deles que actue pela Liberdade do Tibete.
http://candle4tibet.org/
http://candle4tibet.ning.com/
beijos e até a volta
Hanah
Mesmo não tendo a divulgação merecida e justa, também é verdade que não é tão desconhecido assim. Pelo menos não tanto que deêm razão a estas suas palavras: "De todas estas palavras não ficará, bem sei, um eco para depois da minha morte", porque as suas palavras irão perdurar sempre ao longo dos tempos.
ResponderEliminarBeijinhos.
De Correr Mundo
ResponderEliminar«De correr mundo as terras e os humanos
como paisagem que ante os olhos passa,
e às vezes percorrer umas e outros
nos breves intervalos entre duas viagens,
uma incerteza deixa que é diversa
da que se aprende no convívio longo:
quem se demora vê , sob as fachadas
ou as perspectivas de alta torre feitas,
um gesto em que se mostra uma outra vida,
ou troca frases que desnudam crua
o que de interno ser sob as fachadas vive;
mas quem só passa e mal aos outros toca
com mais que olhares ou fugidias vozes,
mais adivinha o que não é paisagem
mas dia a dia tão diverso dela
ou pelo menos para além ansioso.
Mas, se num caso a vida se conhece
e noutro caso nos conhece a nós,
por ambos aprendemos que do mundo
se vive o que não passa, ou se não vive
o que passando é só terras e gentes-
o conhecer, porem, não se conhece nunca.
Apenas resta a escolha. Antes, pois,
correr do mundo as terras e os humanos
que consumir-se alguém ao lado deles sempre.» Jorge de Sena
Deixo um abraço amigo para Vós...
«(…) Ressuscito poemas e nas vozes dos anjos,
ventanias de aromas povoam as casas de pedra da aldeia do mundo,
o âmbar e a cidreira repousam junto das nossas memórias,
almas unidas até além da morte...Mulher,
somos verbo, pujança e trilho.
E quando o céu povoa silêncios, recolhemos
e reunidas reinventamos as palavras
adormecidas nas vozes de estrelas,
guardiãs da nossa consciência, eternamente.
E lutamos.» Cristina Correia.
hanah,
ResponderEliminarSensibilizada pelo 'convite' poisado em 'fragmentos'!
Um beijo
... estou atenta, não precisaria me lembrar :)
Art,
ResponderEliminar... realmente, penso que haverá um número alargado de pessoas que tenha já lido Jorge Sena e alguma da sua poesia!
Mas, não serão muitos os que conhecerão a vasta obra legada!
Mesmo eu, estudiosa que fui e sou... ainda me falta conhecer muito... embora tenha já lido um pouco de todos os géneros literários que Sena 'tocou'!
Reconheço, tal como tu, preze embora a 'distância' que o tem rodeado, que a sua personalidade perdurará na memória da literatura portuguesa e do mundo!
Há estudos profundos da sua obra feitos nos Estados Unidos e que nós pouco conhecemos... ou 'não queremos' conhecer...
Dou imenso valor a Saramago por nesta fase da sua vida se dedicar a uma maior divulgação da obra de grandes escritores!
Sensibilizada pela atenta amizade ao longo dos anos!
Um beijo amistoso,
Sensibilizada, Cristina Correia pelo seu imenso e sensível contributo, nesta postagem dedicada a uma dos maiores postas de Língua Portuguesa!
ResponderEliminarApetece-me em tom de resposta poética... deixar aqui alguns versos de Pessoa, que poderiam ter sido escritos por Sena...
[...]
Em outro mundo, onde a vontade é lei,
Livremente escolhi aquela vida
Com que primeiro neste mundo entrei.
Livre, a ela fiquei preso e eu a paguei
Com o preço das vidas subseqüentes
De que ela é a causa, o deus; e esses entes,
Por ser quem fui, serão o que serei.[...]
Fernando Pessoa,
Um abraço