quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Jorge de Sena & Sophia Mello B. Andresen : dois enormes vultos da Cultura Portuguesa !






Jorge de Sena | Sophia de Mello B. Andresen
créditos: RTP

Jorge de SenaSophia de Mello Breyner Andresen celebram o seu Centenário nos primeiros dias de Novembro. Jorge de Sena nasceu no dia 2 Novembro 1919 em Lisboa. Sophia nasceu neste dia, 6 Novembro, mas no Porto.





Jorge de Sena
créditos: fotografia Eduardo Gageiro

Sobre Sophia e Sena já escrevi. Jorge de Sena, a propósito da transladação dos seus restos mortais para a Pátria, Portugal (2009). Sophia Mello Breyner. quando seus filhos doaram o Espólio de sua mãe à Biblioteca Nacional de Portugal (2011).

"Assim, no presente, porque é preciso resistir “um pouco mais à morte que é de todos e virá” e, mesmo que se morra, “o poema encontrará uma praia onde quebrar suas ondas”. 

Eles são Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen e aqui contam-se as suas histórias, as suas conversas, recorrendo também às palavras escritas pelos próprios, que a "vida é melhor em cartas e versos."





Jorge de Sena
créditos: fotografia: Fernando Lemos 
via Público

cem anos nascia, em São Jorge de Arroios, Lisboa, Jorge Cândido de Sena. Formado em engenharia, mas apaixonado pela escrita, é considerado um dos maiores poetas portugueses do século XX e uma personalidade incontornável no panorama cultural da época.

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço

A pouca sorte de nascido nela. 

Sena, A Portugal

Tem uma vasta obra como poeta, ficcionista, crítico ensaísta, historiador, tradutor e diversas outras áreas ligadas às disciplinas humanistas. É tido como um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX.

Procurou exílio no Brasil, foi professor universitário nos Estados Unidos, para onde se mudou em 1965.

Regressou a Portugal depois do 25 de Abril, mas a estadia foi curta. A relação com Portugal, a sua pátria, seria sempre complicada, tal como o próprio referia na sua poesia:

 “porque eu não mereço a pouca sorte de ter nascido nela“.

Jorge de Sena





Sophia Mello Breyner Andresen
créditos: Autor não identificado
via Portal da Literatura

Sophia nasceu no Porto, neste dia, 6 Novembro 1919. Foi no Porto que passou a infância. Estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Publicou os primeiros versos em 1940, nos Caderno de Poesia. 

Sophia de Mello Breyner Andresen tinha um amor inexplicável pelo mar e o dom da palavra, decerto antes de sequer esboçar a primeira. É o vasto espólio de palavras, poemas e textos que estão a ser celebrados ao longo deste ano com eventos que se prolongarão até ao fim de 2019.

Escreveu também contos, artigos, ensaios e teatro. Traduziu Eurípedes, Shakespeare, Claudel, Dante e, para o francês, alguns poetas portugueses.
Nas celebrações do Centenário em honra da poeta, houve espectáculos, colóquios, exposições, leituras, concertos, prémios, filmes sobre a vida e a herança de uma das autoras mais marcantes do século XX em Portugal e no mundo. Sophia.

Dois do maiores nomes da cultura e literatura portuguesa. Jorge de Sena, o "intelectual indigesto" da cultura portuguesa como alguém lhe chamou, foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário. Prefiro a expressão " crítico temerário":

"Como escritor temerário que sempre foi, e sentindo-se “outcast de grupos literários e profissionais”, Sena falou de tudo, de todos e da maneira que entendeu ser a certa, mesmo que por vezes tenha sido desagradável ou agressivo."


"Há mesmo quem compare as várias e justas celebrações do centenário de Sophia de Mello Breyner Andresen com as escassas iniciativas a propósito do centenário de Jorge de Sena, quatro dias mais velho do que Sophia."
Francisco Sarsfield Cabral


Sophia de Mello Breyner
Jorge de Sena
Correspondência 1959-1978

Considerados dois dos maiores poetas portugueses do século XX, mantiveram em vida uma profunda amizade que ficou registada, entre outros escritos, na correspondência regular, desde o final dos anos 1950, após o exílio de Sena, e que constitui não só uma obra da literatura e da estética, como um retrato da época, até aos anos 1970.

"A verdade é que Sophia e Sena eram admiradores mútuos e grandes amigos. Em 2006 foi publicado um livro (ed. Guerra & Paz) bem interessante, com a correspondência entre ambos."

Francisco Sarsfield Cabral

Não vou alongar-me. Há imensos artigos, colóquios e outros eventos interessantes que aconselho vivamente. 

Pretendo apenas prestar a minha singela homenagem a estes dois grandes escritores que estudei na Faculdade de Letras da U. Portoe partilhei mais tarde o gosto e a admiração com os mais jovens. 

Lamento o facto de não ter sido feita uma homenagem a Jorge de Sena. Teria tidp todo o direito a ela. Apenas pequenas homenagens, Colóquio de Letras nº 200 da Fundação Gulbenkian e Centenário Jorge de Sena de FEUP





O Físico Prodigioso
Jorge de Sena, 1964
Edições 70

"No ano do seu centenário, a FEUP associa-se às comemorações oficiais deste nome maior da literatura portuguesa com uma Maratona Literária. Haverá melhor forma de celebrar este autor, que é também um dos mais prestigiados alumnus FEUP, e por isso mesmo considerado por nós o Escritor da Casa?"

FEUP, Centenário Jorge de Sena

"Nesta obra, mais uma vez Jorge de Sena se nos revela como escritor plural, criando um ambiente medieval, religioso e mítico, evocando cantigas de amigo e sublimando um texto marcado pelo erotismo, breve marca do humano, punida pela moralidade vigente."

Duas notas finais, sobre duas obras, uma de cada autor. Admiro os dois, muito. Diferentemente. Mas são dois dos meus autores mais queridos.





Sinais de Fogo
Jorge de Sena
Guimarães Editores

Sinais de Fogo, único romance, publicado inacabado, um ano após a morte do autor, em 1979. de uma força pujante que retrata a sociedade burguesa dos finais da 1ª metade do Sec. XX. 

É considerado a obra-prima deste que é um dos nomes maiores das letras portuguesas. Jorge de Sena

A acção desenrola-se predominantemente na Figueira da Foz, quando eclode a Guerra Civil em Espanha. 

"Sinais de Fogo" abriga em si o despertar de um jovem, entre um grupo de amigos e familiares, para a sexualidade, a política e a poética. De uma erudição e de um rigor literário inexcedíveis, aqui se fixa um olhar sobre o ano de 1936 português, tendo como pano de fundo o início da Guerra Civil de Espanha.

Um jovem estudante, Jorge, vai passar as férias de Verão a casa do seu tio Justino, na Figueira. 

"Quando cheguei à Figueira, a estação era um tumulto de espanhóis aos gritos, com sacos e malas, crianças chorando, senhoras chamando umas pelas outras, homens que brandiam jornais, e uma grande massa de gente comprimindo-se nas bilheteiras."

É com frequência considerado um romance autobiográfico.





Musa
O Búzio de Cós
E Outros Poemas
Sophia Mello Breyner Andresen
editora Assírio & Alvim

”Musa e O Búzio de Cós e outros Poemas”, os dois últimos livros de poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicados na década de 90, formam uma unidade de duas faces e constituem um fecho, um ponto de chegada que funciona como uma espécie de coda. 

"A junção dos dois livros na presente edição abre uma perspectiva de leitura da fase final da obra da poeta e activa, naturalmente, um impulso interpretativo que nos leva a focar a obra na sua globalidade. […] Aqui, com variações, os temas e os motivos de sempre: a exaltação do esplendor do mundo, a praia atlântica, o sul, a Grécia, a denúncia do que é fácil e falso, a escrita do poema, a forte afirmação vital, a fidelidade à palavra, a crença absoluta na poesia…"

Lamentavelmente,  Jorge de Sena não teve direito a Centenário a nível nacional, como teve Sophia.




Colóquio Letras 200
Jorge de Sena
Janeiro 2019

Há, no entanto, eventos dispares, isolados importantes! Jornada Jorge de Sena na Gulbenkian com a publicação nº 200 da Revista Colóquio Letras.

O lançamento foi marcado por uma conferência, na qual especialistas portugueses e brasileiros repensaram, à luz do século XXI, a obra multifacetada do autor de Sinais de Fogo, segundo informação disponibilizada pela Gulbenkian.

Já em 1988, a Colóquio de Letras no duplo nº 104-105 prestou Homenagem a Jorge de Senna.

Na Biblioteca de Portugal o Colóquio A Crítica de Jorge de Sena que terá lugar de 6 a 8 Novembro 2019.





Colóquio A crítica de Jorge de Sena
BN Portugal

"O colóquio pretende discutir, durante três dias, a produção ensaística de Jorge de Sena, actividade tão profícua quanto a de poeta, como aliás o próprio reconhece num depoimento que escreve em 1976 («O poeta e o crítico na mesma pessoa – um depoimento sobre algumas décadas de experiência pessoal», publicado em Dialécticas Teóricas da Literatura) acerca da coexistência destas duas facetas que sempre conviveram de forma harmoniosa e regular desde o início da sua carreira de escritor.


Tudo celebrações a nível particular da universidade do Porto, Biblioteca Nacional e dos media, como o Público. Homenagem justa? Não! A possível.

Sophia continua a receber a justa homenagem até Dezembro 2019.

Sena e Sophia escreveram, foram e são lidos. São estudados, são citados. E sempre serão!


G-Souto

Fragmentos Literários

06.11.2019
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