Sophia Mello Breyner
"Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite.
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quasi palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Sophia, Como sempre a noite de vento leste misturava extasi e pânico.
(numa folha solta, No fim da folha, à direita, está a indicação: «Porto, 9-V-1934»).
Sophia
créditos: Arquivo Global Imagens
Em Novembro de 2010, o espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen chegou à Biblioteca Nacional de Portugal, doado pelos cinco filhos da poeta. Uma nobre atitude, já que possibilita novas perspectivas de estudo a investigadores portugueses e estrangeiros.
Sophia: uma vida de poeta
BNP
"O espólio de Sophia traz, naturalmente, as marcas da vida, com todos os seus acidentes biográficos. São cadernos e folhas soltas com rascunhos e diferentes versões de vários tipos de textos, esboços de projectos, traduções; são cartas, agendas cheias de notas sobre afazeres do dia-a-dia (números de telefone, receitas de cozinha, contas domésticas), diários de viagem, desenhos, recortes de jornais com depoimentos e entrevistas, fotografias; são impressos que documentam gestos de solidariedade e envolvimento cívico e político."
Capa "A Menina do Mar"
Ilustrações de Sarah Affonso
Lisboa, Edições Ática, 1958
ilustrações de Sarah Affonso
Há também outras surpreendentes descobertas. Segundo a informação da BN , "no fundo de um pequeno móvel, meio abandonado estavam, escondidos e alinhados, vários cadernos, os mais antigos cadernos de poemas. Dentro da ideia de que os desperdícios contam histórias, pode-se dizer que esta é uma das partes mais interessantes do espólio."
"Um dia, mortos, gastos, voltaremos",
in caderno com textos datados entre 1933 e 1935
Publicado em "Dia do Mar"
https://www.bnportugal.gov.pt/
São os primeiros esboços de poemas, tentativas de adolescente que remontam aos seus 12, 13 anos. Por entre esses papéis, muitos dos poemas em manuscrito, que viriam a ser publicados ao longo da vida.
Sophia
créditos: Botelho
Assinalando a sessão da entrega do Espólio à BNP, no dia 26 de Janeiro de 2011, foi inaugurada a Exposição Sophia de Mello Breyner Andresen - Uma Vida de Poeta, comissariada por Paula Mourão e Teresa Amado que estará patente na BN até 30 de Abril 2011.
Também a Fundação Gulbenkian promoveu um Colóquio Internacional para assinalar esta doação e que, a avaliar pelo programa, a qualidade dos oradores, deverá ser excelente.
Também o nº 176 da revista Colóquio Letras lhe é em grande parte dedicado.
Colóquio Letras 176
Também o nº 176 da revista Colóquio Letras lhe é em grande parte dedicado.
"Minha querida filha, minha rica, chegaram aqui os seus versos, guardei um livro para mim que li e reli. Acho tudo tão lindo, dormi com o livrinho debaixo do meu travesseiro. Fiquei tão emocionada! (…) Não sei que mais hei-de dizer. Custou-me tanto a habituar-me à ideia de ter uma filha Poeta, não esperava nada que isso me acontecesse mas agora já sei como é, já compreendo tudo. (…)"
Poesia
Sophia de Mello Breyner Andresen
Homenagem Google Doodle 103º Aniversário de Sophia Mello Breyner
doodler: Matthew Cruickshank
Neste dia, 06 de Novembro 2022, Google faz uma homenagem a esta grande poeta portuguesa com um Doodle alusivo à temática Mar, tão presente na sua obra
“When I die I will return to seek
The moments I did not live by the sea.”
Poem by Sophia de Mello Breyner which inspired the Doodle artwork
Fragmentos Culturais
06.02.2011
actualizado 06.10.2022
Copyright © 2022-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Copyright © 2022-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Também lhe dediquei um post no meu blogue " A Ver o Mar". Tenho uma admiração muito grande por Sophia de Melho Breyner. A mulher, a escritora, a mãe fascinaram-me desde muito jovem e, felizmente, consegui ao longo de muitos anos incutir o gosto pela leitura da sua obra a jovens e menos jovens. Tenho pena que a casa onde morou não tivesse sido adquirida pela CML e aí feita a sua Casa-Museu. A BN saberá fazer jus a este grande vulto da cultura nacional.
ResponderEliminarBem-haja!
Beijinhos
Tal como entre os romancistas adoro Camilo,entre os poetas adoro Camões e Antero de Quental, entre as poetisas adoro Florbela Espanca e Sophia de Mello Breyner.
ResponderEliminarBeijinhos
Sou um apaixonado por Sophia e como tal considero absolutamente imperdível esta exposição.
ResponderEliminardelicada e inteligente a tua homenagem.
ResponderEliminarnão perderei a exposição.
como não admirar Sophia?!
beijo
Sinto saudades da tua assertividade! Voltarei em breve :)
ResponderEliminarBeijinhos***
Recentemente li isto dessa grande poetisa que escreve poesia como alguns outros grandes poetas nao escrevem:
ResponderEliminar"Senhor sempre te adiei
Embora sempre soubesse que me vias
Quis ver o mundo em si e não em ti
E embora nunca te negasse
te apartei"
Estive lá :)
Beijinho amigo
... já fui lê-lo, 'cata-vento'! E está lindo!
ResponderEliminarÉ mesmo uma mulher admirável, em todas as vertentes! E uma cultura vastíssima! Uma obra de infindável beleza!
Lá fora, quase todas as casas de grandes escritores são 'dignamente' conservadas, espaços públicos de vasta afluência cultural nacional e internacional!
Cá, raras são as casas de autores (em função dos grandes nomes em que a nossa literatura é fértil) que fazem parte de um percurso turístico-literário. Espaços muito procurados por pessoas ligadas aos livros.
Deixa-se morrer quase tudo :(
Sim, os filhos tomaram a atitude mais adequada! A BN será o melhor espaço para Sophia!
Um beijo
Há tantos escritores nossos que eu venero, Vítor!
ResponderEliminarMas referiste alguns :)
...ah! E quanto a Camilo, também sou grande apreciadora do romance camiliano. Um autor que tem sido muito ostracizado...
Um beijo,
... pois eu também acho, 'pinguim'! Lamentarei profundamente se a perder!
ResponderEliminarQuem sabe se até Abril conseguirei ir a Lisboa?!
... impossível, não é mesmo 'Herético'?!
ResponderEliminarMoverei alguns obstáculos para ir até à BN...
Sempre afectuoso!
Um beijo
... oh! Gonçalo! Como gostei de te 'ver' por aqui :)
ResponderEliminarBeijinhos**
... pois Sophia é mesmo uma 'poeta', Daniel! Assim o escrevi e assim é tida, tal como tu afirmas!
ResponderEliminarNatália Correia não admitia que a tratassem de 'poetisa', já que na antiguidade clássica a palavra tinha uma simbólica de menosprezo.
As mulheres, em todas as civilizações, tiveram penosos caminhos percorridos para ser aceites numa intelectualidade só aberta aos homens!
Ainda hoje não é fácil... e tu sabe-lo bem!
Sophia tem essa visão teológica que não lhe foi muito fácil!
Classicista de formação, percorreu longos caminhos...
Já reparaste na beleza da janela aberta para o Universo! E o verde que se vislumbra? A luminosidade que transcende?
Tudo lá está... e a serenidade :)
Um beijo amigo