terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Bom Ano 2009



creditos: Yoshiko314

como um regato
a abrir passagem
pelas fendas cobertas de musgo
também eu, tranquilamente me torno claro e transparente

Ryokan
poema zen

Convoco aqui, num gesto de mil sons, sábios, deuses e homens para que se juntem num esforço único, quase divino, de transportar até todos nós a magia de um Novo Mundo - o Universo original!

Que a Terra se espiritualize, deixando o amor fluir por entre todos os seres vivos.

Que os nossos corações se sintam muito felizes junto dos afectos ímpares de todos aqueles a quem queremos bem!

Que a Lua ilumine a alma de todos os que perderam seus entes bem queridos!

Que o Sol aqueça as mãos dos que têm frio e nada pedem!

Que a PAZ desça sobre esta Babel que se consome!

Que o perdão se faça entre os Homens de todas as vontades!

Este é o meu gesto de Paz partilhado em movimento universal pacifista!
Que as guerras deixem de dividir os povos!

Fraterno Ano Novo!




Apesar de tudo, mantenho a esperança!

Bom Ano 2009
Que todos os nossos desejos mais ternos se realizem!


G-S


Fragmentos Culturais
30.12.2008 *

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* Mensagem publicada em Dez.2007





terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal





créditos: Emmanuel Dunand|AFP 2007

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
(...)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
(...)
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado. (...)


António Gedeão, Noite de Natal
poeta, cientista, professor (1906-1997)






Para todos os que visitam Fragmentos Culturais e poisam palavras de afectos, eu gostaria de partilhar meu sentir intimista...

Votos de um Natal de fraternidade,

sem tanta artificialidade,

ambiente de universal espiritualidade.

Paz para todo o Mundo,

no gesto uno de acender uma vela!




Uma vela branca de Fraternidade!

Feliz Natal!


G-S

Fragmentos Culturais

23.12.2008
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domingo, 14 de dezembro de 2008

Pinho Vargas revisitado !




António Pinho Vargas
Casa da Música
(14.12.2008)


Voltei à Casa da Música. Desta vez para revisitar António Pinho Vargas e o seu diálogo a Solo.

Suponho que a última vez que o ouvi ao vivo foi em dueto com José Nogueira (saxofone alto), no Teatro Rivoli (bons concertos ouvi lá) ou talvez em "Jazz em Serralves".

Também não terá muita importância o local porque os ouvi frequentemente nesses dois espaços. Excelentes concertos. Sempre.

Confesso que as duas salas, a sala Rivoli e a sala Suggia me agradam muito pela intimidade que provocam espontâneamente com o público.

A Sala Suggia é linda! Mas, nesse dia estava fria. Um concerto deste género ou melhor, com um músico e intérprete que sabe estabelecer um diálogo intimista com o piano e com o público mereceria estar aquecida.

Impressões de quem sente os mais pequenos cambiantes. Não a opinião de um sentimento colectivo, eu sei!


O que é certo é que o público da 'sua' cidade, António Pinho Vargas, estava lá! Porto não é a cidade onde nasceu. É sim a cidade que o viu crescer como músico e como compositor de jazz! A fase da música erudita veio mais tarde.






Album Solo
créditos: site do autor


Veio para tocar um dos álbuns Solo o seu novo título. O pianista, hoje mais activo como compositor na área da música contemporânea e dita cássica, foi um dos pioneiros da improvisação e do jazz em português.

E foi nessa vertente que o vi despontar e que assisti à sua formação como músico, e a muitos dos seus concertos! E foi assim que me apaixonei pela sua música!

António Pinho Vargas, naquele seu jeito muito peculiar de dialogar com o público, entre cada interpretação, levantando-se para vir à boca do palco, está com a sua interioridade mais expansiva. Conhecio-o mais reservado.

Glosou o tema da 'heteronímia' com naturalidade e algum humor. No entanto, na referencia que fez a Bernardo Soares, eu diria 'ortonímia'. Mas aqui entra já o meu lado literário!

Gosto de misturar a música e a literatura, duas artes incomensuráveis, preciosas para a alma! E que se interligam constantemente.

Foi com encantamento que o ouvi no tema 'Alma' que não estava no alinhamento do programa. Aprecio estes 'impromptus'. Remetem-me para a improvisação, a essência da música de jazz, a capacidade e o dom de os músicos nos surpreenderem.

Temas como Alma, Corazón, June, Dança dos Pássaros, As Mãos ou Tom Waits, levam-me a fragrâncias e sonoridades de uma época mais distante. Que não quero trazer aqui.

Senti perpassar pelas suas linhas melódicas límpidas Béla Bártok
na postura pressenti Keith Jarrett, quando bate com os pés a cadência sincopada, Satie na graciosidade da 'touche', Ravel na exuberância de ritmo.

Impossível separarmo-nos das reminiscências daqueles que admiramos e amamos! E que fizeram parte da nossa vida académica.


Tom Waits um dos temas que mais aprecio, ligação afectiva ao intérprete, compositor do jazz americano, aqui fica.







Compositor e músico talentoso, completo e multifacetado, António Pinho Vargas é um dos músicos mais importantes - e respeitados - da cena musical contemporânea.

Um dos meus preferidos, se não o meu músico favorito na música de jazz em português.




António Pinho Vargas


Já tinha saudade de o ouvir ao vivo, confesso! E não me decepcionou, como intérprete e muito menos como músico. 

Balancei, no etanto, na personalidade ou melhor, na simplicidade, desta vez. Mas isso são apenas impressões afectivas! 





Jorge Peixinho 1940-1995


Agradeci intimamente a homenagem feita a Jorge Peixinho, o músico inovador da contemporaneidade musical portuguesa, o precursor esquecido, mal amado no seu tempo de vida- Meu Professor de Composição no Conservatório de Música do Porto. Tímido, mas que se ultrapassava quando falava ou interpretava música contemporânea.

Pinho Vargas, na sua simpática capacidade de comunicar com o público fez quebrar a corrente gelada que atravessava a Sala Suggia, numa noite particularmente fria!

A Casa da Música não fez nada para aquecer a temperatura ambiente, tornando mais confortável uma sala tão bonita, o que permitiria ao público usufruir mais calorosamente de uma noite musical. Bem sensível!

Tiritava-se de frio, e só o afecto profundo ao intérprete fez o seu público mostrar-lhe o imenso apreço. Pinho Vargas tocou como encore,
Cantigas para Amigos.



G-S


Fragmentos musicais

19.12.2008

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domingo, 7 de dezembro de 2008

Expressões






Inbal Pinto Dance Company
Tmothy A, Clary/ AFP 2008


"Não se sabe como acontece, nem quando.(...) A vontade de anular todo o intervalo entre as coisas."

Pedro Paixão, Sem fôlego


Dançar! Expressão corporal que diz muito do que vai na alma do nosso ser! Soltar seus passos e lançar seus braços em ondas de mil sentires! É a revolta extasiante, libertadora das pulsações não experienciadas.

Todo o Ser é uma ilha na sua verdadeira essência. Todo o Ser se encontra solitariamente contido no cabo bojudo dos dias de tormentas. E na dança dos gestos não contidos, ele avança sem véus ou máscaras.

Todo o Ser espera, com olhos levantados, muito para além do quebrar das fendas de seu âmago, pela acalmia em sabores de maresia musical.

Vibrações do tempo crescendo ou pianissimo que se espraia na alma pelos gestos soltos e desanuviadores de um corpo que grita sua alma em aromas de jardins e sonoridades intensas.

Fragrâncias onde a vida repousa e se abriga.

Movimentos sincopados, dolentes ou arrebatadores, explodem depois de um da capo portentoso de sons e sintonias.

A turbulência de emoções poisadas nos olhos de quem sonha inifinito!
   
G-S


Fragmentos Culturais

(texto publicado sob pseudónimo em 14.01.2007

07.12.2008
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domingo, 30 de novembro de 2008

Este país de branco






Guarda, Portugal
foto: Autor não identificado
http://notícias.sapo.pt




Mondim de Basto | Portugal
foto: Autor não identificado
http://notícias.sapo.pt

Um forte nevão desceu sobre as serras e cidades, mais a norte de meu país!

Não é um espectáculo usual haver tanta neve em Portugal. Mas, não há dúvida! A neve baixou, cobrindo de branco-alvo as terras do interior de Portugal.


E a beleza natural das paisagens é tão intensa que não resisti a cantar o esplendor inusitado de tais momentos!


Interessante abrir as notícias do mundo e deparar-se com uma alusão visual descritivamente rica de um país que é o nosso!


"Europe's southewestern tip is a place of stark beauty prone to sudden fogs and blustery sea breezes."


travel photos

Afinal, Portugal não é só nevoeiros e maresias! Longe disso! Outras rotas turísticas bem mais ricas e menos conhecidas poderão ser traçadas! E só vai alegrar as populações locais, já por si tão isoladas.


Temos um país imensamente diversificado, brilhante. Diversidade cultural miscigenada de imponente beleza natural.

Entre o nada e alguma coisa, é sempre um prazer ler na imprensa virtual que "daqui houve nome Portugal."

Relembrar Miguel Torga, esse poeta-prosador oriundo do nordeste transmontano, é então um duplo prazer neste dia de brancos fragmentos!

“Temos de conhecer a nossa terra. Mas conhecê-la por dentro, sem preconceitos de nenhuma ordem. Amá-la, sim, mas objectivar-lhe tanto quanto possível os defeitos e as virtudes, para que o nosso afecto seja fecundo e progressivo.”. Até porque “a realidade telúrica dum país, descoberta pelos métodos dum almocreve, é muito mais instrutiva do que trinta calhamaços de história, botânica ou economia”

Miguel Torga

G-S

Fragmentos culturais


30.11.2008
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domingo, 23 de novembro de 2008

Livrarias... lugares de culto !






Chaminé da Mota
Livraria/Alfabarrista
Porto, Portugal
Fotografia: Carlos Romão

"Não há talvez dias da nossa infância que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgámos passar sem tê-los vivido, aqueles que passámos com um livro preferido."

Marcel Proust, O Prazer da Leitura




Alfabarrista/Lvraria Chaminé da Mota
créditos : Autor não identificado

Não vou falar muito desta lindíssima livraria, situada no centro antigo da cidade do Porto, mais precisamente no número 28 da Rua das Flores.

É bem melhor visitar seus quatro andares repletos de livros, caixas de música, discos de vinil e outros objectos.
  





créditos : Autor não identificado
via Google Images





Livraria Chaminé da Mota
Fotografia: Carlos Romão

Conhecida entre coleccionadores nacionais e estrangeiros, as suas preciosidades são procuradas com ansiedade e prazer estético, sobretudo as edições antigas de livros de autores portugueses e franceses.




Alfabarrista/Lvraria Chaminé da Mota
créditos : Autor não identificado
via Google Images

Um verdadeiro relicário, a Chaminé da Mota é detentora de
"algumas obras classificadas como raridade, para além de numerosos manuscritos de escritores portugueses consagrados".

Ah! Não deixem de visitar o blogue A Cidade Surpreendente! Deliciem o olhar num roteiro de imagens esplendorosas de algumas das livrarias da cidade, talvez das mais belas do mundo! Assim o afirmam os especialistas!





Alfabarrista/Lvraria Chaminé da Mota
créditos : Autor não identificado

Uma singela homenagem aos livros, esse eternos companheiros de viagem que me acompanham em qualquer parte do mundo. Um local sagrado, fruto do meu imaginário em tempos distintos e sempre presentes!

"Ó meu Cesário, apareces-me e eu sou enfim feliz porque regressei, pela recordação, à única verdade que é a literatura.

E como as viagens as leituras, e como as leituras tudo"(...)


Bernardo Soares


Há mil razões para ler um livro! E mil razões para visitar uma livraria!


G-S

Fragmentos culturais

23.11.2008

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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Lisa Ekdahl... um desencanto ao vivo!






Em 1990, Lisa Ekdahl começou a cantar jazz com o trio do pianista Peter Nordahl. Com 23 anos, compositora e letrista das próprias canções, lançou o álbum de estreia, homónimo, que a catapultou para a fama no país natal, atingindo a quádrupla platina ao fim de alguns meses.


A sua voz conquistou milhares de admiradores por toda a Europa, especialmente a partir das gravações do repertório "standard" norte-americano com o trio de Peter Nordahl, no disco "When Did You Leave Heaven".


Mais tarde, gravou dois discos de pop: "Med Kroppen Mot Jorden" e "Borton Det Bla", em 1996 e 1997, respectivamente.

JN, Cultura

Devo dizer que Lisa Ekdahl tem para mim um lugar muito especial! E foi com essa convicção musical mesclada de afectos que me sentei na belíssima ‘Sala Suggia’ da Casa da Música.


No entanto, a sua prestação decepcionou-me!! Muito! Suponho que se não fosse o trio que a acompanhava, o concerto teria sido mau!


Apesar de um jogo de luzes lindamente contextualizado, um grupo de músicos coeso (referência muito especial para teclas|sopros), a cantora mostrou uma fragilidade vocal impressionante! Já para não falar na tentativa como solista instrumental!

Compará-la a Norah Jones, Diana Krall, Stacey Kent como já li, é muito arriscado! A todas ouvi ao vivo, como apreciadora do jazz vocal feminino, e mostraram-se incomparavelmente superiores, musicalmente, voz bem colocada, sonoridades tímbricas, presença constante em palco que nada teve a ver com Lisa Ekdahl! Muito charme... pouca qualidade!

Talvez a cantora tenha menosprezado um pouco o público musical mais atento e que a conhecia desde o início da sua carreira. 

O seu melhor álbum? Lisa Ekdahl - "Sings Salvadore Poe". Esse mesmo que me levou a querer ouvi-la ao vivo.








Este um dos temas que me trouxe Lisa Ekdahl no seu encanto original!

Há vozes que não deveriam afoitar-se fora de estúdio. Tudo porque muito é feito dentro de um estúdio em termos de sonoridades...



G-S


Fragmentos musicais

17.11.2008
 
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domingo, 9 de novembro de 2008

Jazz Covers 1 : the book !





Jazz Covers
Taschen Books
https://www.taschen.com/


"Um documento da história do jazz que revela que a componente gráfica teve uma ligação muito importante com a música."

Joaquim Paulo/Lusa


Jazz Covers foi apresentado no dia 24 na loja da Taschen em Los Angeles (EUA).


"This volume features a broad selection of jazz record covers, from the 1940s through the decline of LP production in the early 1990s. Each cover is accompanied by with a fact sheet listing performer and album name, art director, photographer, illustrator, year, label, and more." 

Taschen.com

Joaquim Paulo, profissional de rádio e consultor de diversas editoras, seleccionou de uma colecção de discos com 25 mil títulos, 650 capas de álbuns de jazz, dos anos 40 aos anos 90.

O original é em inglês, mas será traduzido para alemão, francês, espanhol e japonês.



Jazz Covers
"A escolha dos discos foi muito difícil, ficaram muitos de fora, mas os critérios foram a importância histórica, o grafismo e a raridade, porque há muitos que não têm edição em CD", explicou Joaquim Paulo, que pondera realizar um segundo volume dedicado ao tema.




"Un livre désormais indispensable pour ceux qui aiment aussi le jazz avec les yeux."

Radio TSF Jazz Laure Albernhe (Paris)




T
he Explosive side of Sarah Vaughan
Columbia 1963
https://www.taschen.com/

Da galeria de eleitos fazem parte Miles Davis, Chet Baker, Thelonious Monk, John Coltrane, Ornette Coleman, Count Basie, Art Blakey, Bill Evans, Ella Fitzgerald e Chick Corea, mas também Stan Getz, Claus Ogerman, Teuo Nakamura, Vince Guaraldi, Moacir Santos e Maurice Vander.




George Benson |
 Body Talk
https://www.taschen.com/

Muitos dos discos foram seleccionados também por revelarem uma "cumplicidade entre os designers e os músicos. Há uma sintonia entre o que a capa mostra e a música", sobretudo dos anos 1950 e 1960, comentou Joaquim Paulo.




John Coltrane | Love Supreme

https://www.taschen.com/

A capa do ‘A Love Supreme’, do Coltrane, em termos estéticos, é uma coisa assombrosa. Não pela paixão que, musical e afectivamente, tenho pelo disco, mas porque, graficamente, é, de facto, uma capa maravilhosa. 

Devo dizer que fiquei extasiada com a qualidade estética desta edição que apenas vi em imagens digitais.

O tema apaixona-me!! Primeiro porque adoro jazz, outra das minhas paixões para além dos livros. Depois porque tenho a sorte de ter uma pequeníssima colecção de discos em vinyl de alguns dos maiores músicos de jazz!

Tudo me leva a crer que encontrei a minha melhor prenda de Natal!

G-S



Fragmentos de jazz, Everytime we say goodbye, Coltrane, 1961

09.11.2008
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sábado, 1 de novembro de 2008

Biblioteca Municipal José Cardoso Pires : 10 anos após sua morte





José Cardoso Pires
créditos: Abel Manta
http://www.museudelisboa.pt/

"...cada livro é uma busca da minha identificação com o País e comigo próprio."


José Cardoso Pires




Biblioteca Municipal José Cardoso Pires
Vila de Rei
http://viladerei.bibliopolis.info/

Foi inaugurada a 26 de Outubro de 2008, a Biblioteca Municipal José Cardoso Pires, data em que se assinalou o 10º aniversário da morte do escritor. Fica situada em Vila do Rei, sua terra natal.

Para além dos habituais espaços de leitura para adultos e crianças, audição de música, visionamento de filmes e consulta Internet, a biblioteca dispõe de uma sala que alberga parte do espólio do escritor, natural do Concelho de Vila de Rei, doado pela sua família ao Município.

Cedido pela família de José Cardoso Pires, será disponibilizado para consulta parte do espólio do autor, que inclui obras oferecidas (com dedicatória) por outras personalidades, como Alves Redol, António Lobo Antunes, Eugénio de Andrade, António Alçada Baptista, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Luísa Dacosta ou Jacinto Prado Coelho.







José Cardoso Pires
créditos: Autor não identificado
viva Biblioteca de Estarreja

A Biblioteca Municipal José Cardoso Pires contará, assim, com mais de 3 000 mil livros, um quadro original de Victor Palla, a máquina de escrever que acompanhou o escritor até quase ao final da sua vida e uma grande quantidade de livros a ele dedicados pela maioria dos escritores portugueses da segunda metade do século XX.

Na ocasião, será também inaugurada uma exposição de peças elaboradas por vários artistas plásticos, que responderam ao desafio de ilustrar algumas das obras do escritor falecido há dez anos. 

A mostra intitula-se “José Cardoso Pires, Ilustrações da Escrita” e inclui trabalhos de Júlio Pomar e Sá Nogueira, bem como outras obras, como “O Grande Fabulário de Portugal e do Brasil” ou o primeiro número de uma edição especial de quinze exemplares de “Dinossauro Excelentíssimo”, que contém um desenho original de João Abel Manta e um fragmento manuscrito de José Cardoso Pires.

in Público




José Cardoso Pires
créditos: via RTP

Devo confessar que não é um dos meus escritores favoritos, embora tenha lido muitos dos seus livros. Reconheço o imenso valor da sua obra e a sua independência literária.

Não vou tecer explicações sobre as minhas preferências literárias.
No entanto, a partir do livro De Profundis Valsa Lenta, senti-me mais próxima da sua escrita.








De Profundis - Valsa Lenta
José Cardoso Pires 

Publicações Dom Quixote
https://www.bertrand.pt/

De Profundis - Valsa Lenta ocupa efectivamente um lugar à parte na obra do autor. Um dos meus preferidos da obra deste escritor.

Aí Cardoso Pires narra seu caso limite, um daqueles casos que raramente podem ser contados. O escritor sofrera um acidente vascular cerebral que lhe afectara o centro da fala e da escrita com perda total da memória. Esteve em estado de coma.

João Lobo Antunes, o médico que o assistiu, escreveu no Prefácio: "Não havia dúvida, o José Cardoso Pires sofria de uma afasia fluente grave, ou seja, não era capaz de gerar as palavras e construir as frases que transmitissem as imagens e os pensamentos que algures no seu cérebro iam irrompendo."


Desta 'morte branca' fica por explicar como foi possível regressar de um ponto que se julgava sem retorno. É portanto o auto-retrato de uma experiência-limite que me tocou profundamente. 




Lavagante
José Cardoso Pires (Póstumo)
Edições Nelson Matos, 2008

https://www.almedina.net/

Dez anos, também, depois da da sua morte, foi lançado Lavagante, um texto inédito.

O Lavagante, encontro desabitado foi publicado, pela primeira vez, em 1963, numa versão de três páginas, no nº 11 d'O Tempo e o Modo e intitulava-se, então, O Lavagante e Outros Exemplares. Mencionava-se na revista que se tratava de um capítulo do próximo romance.







O Delfim
José Cardoso Pires
Moraes, 1968

Surgida por ocasião da passagem dos dez anos sobre a morte do escritor - 26 de Outubro - a novela (a mais completa das três versões dactilografadas), é anterior a O Delfim (1968). Existem outras, manuscritas como O Lavagante e a Mulher do Próximo.

Conta Ana Cardoso Pires, uma das filhas, que, nas voltas do Espólio, deu com a breve narrativa aprisionada num atado. Não era mexida pelo pai há muito, seguramente desde o 25 de Abril. Papel amarelecido, esmaecido, todo por igual. 


in Público

Não o li! Folheei-o numa das livrarias por onde passo em finais de tarde, em meu peregrinar literário, tal ritual 'místico' do prazer profundo que despoletam em mim os livros.

Apesar de nele encontrar fragmentos literários de grande sensibilidade, não senti a atracção suficiente para o comprar... não me perguntem por que razão!


Os livros são perfeitos instrumentos de saber e muito prazer estético. Há que sentir, mal os tocamos, que a química se desencadeia! Não aconteceu.




José Cardoso Pires
créditos: Júlio Pomar, 1949



Para os grandes apreciadores do autor, ver o vídeo RTP Ensina: José Cardoso Pires: prosa sem adjectivos.

"Aos cinquenta anos dei por mim a fumar ao espelho e a perguntar E agora, José. Fumar ao espelho, qualquer José sabe isso, é confrontarmo-nos com o nosso rosto mais quotidiano e mais pensado.

(...)


Aqui tens, José, o homem que te interroga. Que te fuma e te duvida. Que te acredita.

E com esta me despeço, adeus, até outro dia, e que a terra nos seja leve por muitos anos e bons neste lugar e nesta companhia.

Pá, apaga-me essas rugas. Riscam o espelho, não vês?"

Cardoso Pires por Cardoso Pires, Fumar ao Espelho entrevista de Artur Portela, 1ª edição, Publicações D. Quixote, 1991



G-S

Fragmentos literários


02.11.2008

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