Gaetan Lee/2007
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Havia ainda outro jardim o da minha vida
exíguo é certo mas o do meu olhar
Eugénio Andrade, Sobre Flancos e Barcos
Como uma laranja sumarenta e gigantesca, o sol apagou seus fios e deitou-se. Lento, seguro, tranquilo, foi desaparecendo languidamente por entre os telhados, antenas e fiapos de nuvens da minha cidade!
Momento compartilhado pelas suas companheiras - as estrelas - que sorrateiras e brincalhonas piscavam em luminosidade acolhedora, harmoniosa, formando já fileiras em artísticos e desenhados recortes de luz cinza-prata.
Até os alegres pássaros espavoridos e silenciados a preceito, se contiveram contemplativos. Nenhum se atreveu a perturbar este momento paradisíaco dos céus da minha cidade.
Já a noite cai! Os espaços azul-breu quente, enchem-se de luzes trémulas, transparentes, melancólicas, dispostas em cascata, agora atravessados por uma brisa solta e fresca que volteia serenamente numa distracção do tempo, na transcendência do momento. Prepara-se o despertar misterioso e terno da bela Lua!
E o silêncio pôs-se melodiosamente, quase com religiosidade, num recanto alargado da minha cidade.
A noite em tons rosa-arroxeado, com aromas quentes de campos verdes, e divagares da paisagem, espalha mansamente seu manto.
Um ritual de fim-de-tarde que posso contemplar, sempre que regresso a casa, buscando acalmia de mais um dia perturbador.
Ah! a noite doce no calor do sonho de uma inquieta alma de poeta!
G-S
Fragmentos Culturais
15.04.2008
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