terça-feira, 26 de novembro de 2013

Dia Internacional para a Eliminação da Violência de Género



Vanessa Paradis 

"I welcome the chorus of voices calling for an end to the violence that affects an estimated one in three women in her lifetime. I applaud leaders who are helping to enact and enforce laws and change mindsets. And I pay tribute to all those heroes around the world who help victims to heal and to become agents of change ."
Secretary-General Ban Ki-moon
No Dia Internacional para Eliminação da Violência Contra as Mulheres, agora também denominado Dia Internacional para a Eliminação da Violência de Género, as Nações Unidas divulgaram os seguintes dados:
"Entre 500,000 a dois milhões de pessoas são traficadas anualmente para situações que incluem prostituição, trabalho forçado, escravatura. 
As mulheres e meninas representam cerca de 80% das vítimas detectadas.
Em Portugal, trinta e duas mulheres já terão morrido este ano, vítimas de actos de violência masculina. 
Basta
- digo –
que se faça
do corpo da mulher

a praça – a casa
a taça

a água

Com que se mata
a sede
do vício e da desgraça

Maria Teresa Horta, Basta

(in Poesia Reunida, pág. 448, Dom Quixote-Leya, 2009)


Para que não se esqueça.

G-S

Fragmentos 

26.11.2013
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domingo, 17 de novembro de 2013

Duas escritoras, um concerto, um domingo !




Outono no Parque de Serralves
créditos: Serralves 
Escrevia este post quando li a notícia da catástrofe nas Filipinas. Não podia publicar fragmentos de cultura quando vidas de milhares de pessoas eram destruidas.

Emocionada, prestei tributo a um povo sofredor. Sentia-me triste. E adiei.

Hoje, voltei. Não por completo. Dividi-o. Suponho que alguns assuntos poderão ser interessantes, apesar de um pouco desfazados no tempo - tudo passa tão rápido no mundo em que vivemos! - e acrescentei outro. Mais 'actual' (entenda-se 'actual' como sendo de hoje).

Mas em fragmentos, falo dos meus afectos culturais, presentes ou passados, andando por aí, entre trabalho, momentos de pausa, música e/ou concerto(s), cinema. E claro! Leituras.

Do Outono voltou a sentir-se o aroma, nesta luminosidade leveAs folhas soltas arrumam-se por cantos, perdidas. O sol de Inverno tem dado alento aos nossos dias. 

Das janelas, avista-se a paisagem em tons pastel sob o infinito suave. Na rua, aconchegam-se os agasalhos.

Tempo ideal para escrever, falar de música e/ou concertos - uma noite passada na Sala Suggia - livros, com uma fumegante tisana aromatizada por perto. Noite fria. Lua cheia.



Doris Lessing (1919-2013)
foto: Toby Melville Files | REUTERS

"A compelling storyteller with a fierce intellect and a warm heart”

Doris Lessing, Prémio Nobel da Literatura (2007) morreu esta manhã. A escritora britânica, nascida nIrão em 1919, vivera no Zimbabué, mudando-se em 1949 para Inglaterra. Aí publicou seu primeiro romance, The Grass is Singing (1950).


"that epicist of the female experience, who with scepticism, fire and visionary poet has subjected a divided civilisation to scrutiny".

Nobel Prize



Doris Lessing

Doris Lessing foi a 11ª escritora (no 'feminino') a receber o Nobel. Não era muito conhecida, na altura, o que muitas vezes acontece. Lembremos Herta Mueller (2009).

Mas triste é saber que Lessing perdera a memória há algum tempo. Que lástima! Uma vida intelectual tão intensa. Atroz doença.

Não lembrava mais ter sido escritora, nem galardoada com o Nobel. Quase tudo se esvaíra. Mas adorava ouvir ler. Quando os amigos a visitavam, liam-lhe excertos dos livros que ela escrevera. Dizem que se emocionava, mas não recordava tê-los escrito. E, no entanto, tem uma vasta bibliografia, cerca 60 obras publicadas.

Autora de O Caderno Dourado, A Erva CantaO Quinto Filho, e tantos outros. Era conhecida pelos seus romances, contos, poesia e outros obras, mas também pelas suas posições anti-apartheid, anti-colonialista e feminista.

BBC dedica-lhe vários artigos que pode ler. Também há um interessante vídeo a ver aqui. Nele, Lessing, na 1ª pessoa, fala de si e dos seus livros. 



Amada Vida
   Alice Munro 
Relógio d'Agua

Uma outra escritora, Alice Munro, contista canadiana, foi galardoada em Outubro com o Nobel da Literatura 2013

 "master of the contemporary short story”. 

Nobel Prize

Munro é assim a 13ª mulher a receber este prémio. No entanto, a escritora já recebera outros importantes prémios literários. Man Booker Prize (2009) é um deles.

Tem livros traduzidos em mais de dez idiomas. Suponho que toda a a obra de Alice Munro está publicada em  Portugal pela Relógio d'Agua

Amada Vida, uma colectânea, é segundo a autora o seu último livro. Foi editado por cá, em Maio 2013. Um estilo delicado, histórias de vidas comuns, contadas com sofisticada sensibilidade. Li de cada uma das autoras, apenas um livro. 





Alice Munro
créditos: autor não identificado

"Alice Munro não o desmerece – mas, perdoem-me a franqueza, não é melhor do que Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes ou Teolinda Gersão. Antes pelo contrário.

Clarice Lispector, Marguerite Duras, Marguerite Yourcenar, Sophia de Mello Breyner e Virginia Woolf nunca o receberam. Fora muitas outras que nunca chegámos a ler, porque escreviam em húngaro, checo ou árabe, e não chegaram a ser traduzidas, ou mesmo publicadas.

"E o conto é, sem dúvida, uma delicada forma de arte, mas o trabalho do contista não se compara à exigência arquitectónica implícita no trabalho de um bom romancista."

Inês Pedrosa (excertos de artigo)

Bem, não posso concordar totalmente com Inês Pedrosa. Embora ela tenha enunciado nomes 'grandes' da literatura que muito admiro e releio.

Não é apenas pelo mérito da escrita que se recebe um Nobel. E não vejo o conto como arte menor da literatura! Bem pelo contrário.  Felizmente estão comigo dois críticos literários na revista Ler.

Há muitos romancistas. Mas há poucos escritores considerados bons na arte do conto. Nada assim tão linear.


Aimee Mann | Casa da Música
créditos: Gustavo Machado


A música! Aimee Mann quase encheu a Sala Suggia, no dia 7 Novembro. Casa da Música. Concerto semi acústico, intimista.

A cantautora californiana que muitos associam ao tema One em Magnolia, filme de Paul Thomas Andersen (1999), encantou os fãs pela simplicidade e talento. Veio apresentar seu último trabalho Charmer, lançado em Setembro 2012. 

Se esperavam um noite quente, bem animada, desenganem-se! Aimee Mann permaneceu igual a si própria, tal como transparece na sua música. Calma, simpática, talentosa sem dúvida, muito pragmática.





Aimee Mann | Casa da Música
crédito: Gustavo Machado

Ninguém se levantou, entusiasmou, ou acompanhou suas canções. Tudo muito soft, ao jeito mesmo de Aimee Mann. No registo quase monocórdico, ninguém ousou levantar-se, trautear, balancear. Nada. 

Não fossem as luzes, o envolvimento humano, a sala, quase não nos sentiríamos num concerto ao vivo. 

É óbvio que a belíssima One da banda sonora de Magnolia fez sucesso. Mas sem muito envolvimento. A canção é intimista.

Apenas para o encore, nos levantámos. Uma ovação de agradecimento (a cantora permaneceu em palco mais de duas horas) trouxe de novo Aimee Mann e os seus músicos, bem como Ted Leo, que fez a primeira parte do concerto e dividiu alguns temas com Aimee Mann, na segunda parte.

Saí desiludida? Não. Pressentia este género de concerto. Conhecia o estilo da cantora. Para valorizar a sua voz, dois excelentes músicos, baixista/voz e pianista, imprimiram um estilo mais pop aos temas instrospectivos de Aimee Mann.

Uma noite serena, como esta de domingo, apesar da lua cheia. E a noite em azul-rei está linda.


G-S
Fragmentos Culturais

17.11.2013
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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Filipinas, quanta desolação !




Woman | Getty Images


Gelando-me o ventre
os ventos golpeiam as ondas -
noite de lágrimas.

Matsuo Bashô


sampaguitas (flor nacional das Filipinas)

"O tempo não traz de volta o que o tempo leva; e as águas que vão dar a outras águas arrastam no seu curso as ervas mortas."

(...)

"essa tristeza cai-me na alma, rouba-me o sorriso dos teus lábios, prende-me à tua dor tão distante como o horizonte."

Nuno Júdice, excertos de dois poemas
in Cartografia de Emoções, 2001

Há momentos que não temos muito ou quase nada para escrever. Tempo de reflexão, olhar ferido. 

Desolação.


G-S

12.11.2013
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