domingo, 17 de novembro de 2013

Duas escritoras, um concerto, um domingo ! Alice Munro [1931-2024]




Alice Munro [1931-2024]
credits: Chad Hipolito/The Canadian Press via AP, File

"Alice Munro, the Canadian literary giant who became one of the world’s most esteemed contemporary authors and one of history's most honored short story writers, has died."


Amada Vida
   Alice Munro 
Relógio d'Agua

A escritora Alice Munro, contista canadiana, foi galardoada, em Outubro 2013 com Nobel da Literatura.

 "master of the contemporary short story”. 

Nobel Prize

Munro é assim a 13ª mulher a receber este prémio. No entanto, a escritora já recebera outros importantes prémios literários. Man Booker Prize (2009) é um deles.

Tem livros traduzidos em mais de dez idiomas. Suponho que toda a a obra de Alice Munro está publicada em  Portugal pela Relógio d'Agua

Amada Vida, uma colectânea, é segundo a autora o seu último livro. Foi editado por cá, em Maio 2013. Um estilo delicado, histórias de vidas comuns, contadas com sofisticada sensibilidade. Li de cada uma das autoras, apenas um livro.
 



Alice Munro
créditos: autor não identificado

"Alice Munro não o desmerece – mas, perdoem-me franqueza, não é melhor do que Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes ou Teolinda Gersão. Enfim.

Clarice LispectorMarguerite DurasMarguerite YourcenarSophia de Mello Breyner ou Virginia Woolf nunca o receberam. Fora muitas outras que nunca chegámos a ler, porque escreviam em húngaro, checo ou árabe, e não chegaram a ser traduzidas, ou mesmo publicadas.

"E o conto é, sem dúvida, uma delicada forma de arte, mas o trabalho do contista não se compara à exigência arquitectónica implícita no trabalho de um bom romancista."

Inês Pedrosa (excertos de artigo)

Bem, não posso concordar totalmente com Inês Pedrosa. Embora ela tenha enunciado nomes 'grandes' da literatura que muito admiro e releio.

Não é apenas pelo mérito da escrita que se recebe um Nobel. E não vejo o conto como arte menor da literatura! Bem pelo contrário.  Felizmente estão comigo dois críticos literários na revista Ler.

Há muitos romancistas. Mas há poucos escritores considerados bons na arte do conto. Nada pois, é tão linear.




Alice Munro [1931-2024]
crédito: Derek Shepman

Alice Munro, a escritora canadiana sobre quem escrevi mais acima, e que se destacou como contista, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2013, morreu dia 13 Maio 2024. Tal como Doris Lessing, perdida na sua memória. Terrível doença.

Alice Munro foi uma escritora que se afirmou literariamente ao abordar nos seus escritos temas como a escuridão e o desejo na vida quotidiana. Foi também distinguida com o Prémio Man Booker Internacional em 2009.

Como já escrevera antes, foi a primeira escritora canadiana a receber um Prémio Nobel, distinguida "pela sua mestria no conto contemporâneo”.




Outono no Parque de Serralves
créditos: Serralves 
Escrevia este post quando li a notícia da catástrofe nas Filipinas. Não podia publicar fragmentos de cultura quando vidas de milhares de pessoas eram destruidas.

Emocionada, prestei tributo a um povo sofredor. Senti-me triste. E adiei.

Hoje, voltei. Não por completo. Dividi-o. Suponho que alguns assuntos poderão ser interessantes, apesar de um pouco desfazados no tempo - tudo passa tão rápido no mundo em que vivemos! - e acrescentei outro. Mais 'actual' (entenda-se 'actual' como sendo de hoje).

Mas em fragmentos, falo dos meus afectos culturais, presentes ou passados, andando por aí, entre trabalho, momentos de pausa, música e/ou concerto(s), cinema. E claro! Leituras.

Do Outono voltou a sentir-se o aroma, nesta luminosidade leveAs folhas soltas arrumam-se pelos cantos, perdidas. O sol de Inverno tem dado alento aos nossos dias. 

Das janelas, avista-se a paisagem em tons pastel sob o infinito suave. Na rua, aconchegam-se os agasalhos.

Tempo ideal para escrever, falar de música e/ou concertos - uma noite passada na Sala Suggia - livros, com uma fumegante tisana aromatizada por perto. Noite fria. Lua cheia.




Doris Lessing [1919-2013]
créditos: Toby Melville Files | REUTERS

"A compelling storyteller with a fierce intellect and a warm heart”

Doris Lessing, Prémio Nobel da Literatura 2007 morreu esta manhã, 17 de Novembro 2013. A escritora britânica, nascida nIrão em 1919, vivera no Zimbabué, mudando-se em 1949 para Inglaterra. Aí publicou seu primeiro romance, The Grass is Singing (1950).


"that epicist of the female experience, who with scepticism, fire and visionary poet has subjected a divided civilisation to scrutiny".

Nobel Prize



Doris Lessing

Doris Lessing foi a 11ª escritora (no 'feminino') a receber o Nobel. Não era muito conhecida, na altura, o que muitas vezes acontece. Lembremos Herta Mueller (2009).

Mas triste é saber que Lessing perdera a memória há algum tempo. Que lástima! Uma vida intelectual tão intensa. Atroz doença.

Não lembrava mais ter sido escritora, nem galardoada com o Nobel. Quase tudo se esvaíra. Mas adorava ouvir ler. Quando os amigos a visitavam, liam-lhe excertos dos seus livros. Dizem que se emocionava, mas não recordava tê-los escrito. E, no entanto, tem uma vasta bibliografia, cerca 60 obras publicadas.

Autora de O Caderno Dourado, A Erva CantaO Quinto Filho, e tantos outros. Era conhecida pelos seus romances, contos, poesia e outros obras, mas também pelas suas posições anti-apartheid, anti-colonialista e feminista.

BBC dedica-lhe vários artigos que pode ler. Também há um interessante vídeo a ver aqui. Nele, Lessing, na 1ª pessoa, fala de si e dos seus livros. 



Aimee Mann 
crédito: via Google Images Archive


Finalmente, a música. Música! Aimee Mann quase encheu a Sala Suggia, no dia 7 Novembro 2013. Casa da Música. Concerto semi acústico, intimista.

A cantautora californiana que muitos associam ao tema One em Magnolia, filme de Paul Thomas Andersen (1999), encantou os fãs pela simplicidade e talento. Veio apresentar seu último trabalho Charmer, lançado em Setembro 2012. 

Se esperavam um noite quente, bem animada, desenganem-se! Aimee Mann permaneceu igual a si própria, tal como transparece na sua música. Calma, simpática, talentosa sem dúvida, muito pragmática.





Aimee Mann | Casa da Música
crédito: Gustavo Machado/ Arte-Factos

Ninguém se levantou, entusiasmou, ou acompanhou suas canções. Tudo muito soft, ao jeito mesmo de Aimee Mann. No registo quase monocórdico, ninguém ousou levantar-se, trautear, balancear. Nada. 

Não fossem as luzes, o envolvimento humano, a sala, quase não nos sentiríamos num concerto ao vivo. 

É óbvio que a belíssima One da banda sonora de Magnolia fez sucesso. Mas sem muito envolvimento. A canção é intimista.

Apenas para o encore, nos levantámos. Uma ovação de agradecimento (a cantora permaneceu em palco mais de duas horas) trouxe o novo trabalho Aimee Mann e os seus músicos, bem como Ted Leo, que fez a primeira parte do concerto e dividiu alguns temas com Aimee Mann, na segunda parte.

Saí desiludida? Não. Pressentia este género de concerto. Conhecia o estilo da cantora. Para valorizar a sua voz, dois excelentes músicos, baixista/voz e pianista, imprimiram um estilo mais pop aos temas instrospectivos de Aimee Mann.

Uma noite serena, como esta de domingo, apesar da lua cheia. E a noite em azul-rei está linda.


G-S
Fragmentos Culturais

17.11.2013

actualizado 14.05.2024
Copyright © 2013-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®

13 comentários:

  1. São momentos assim que eu adoro...o sol quase, quase e desaparecer, o sentir o frio a chegar, enquanto eu passo por este cantinho e me abandono em agradável leitura.
    Por aqui há sempre algo de novo para aprender ou aumentar o nosso (meu) conhecimento. Obrigado!

    Fragmentos, momentos, que tornam esta vida muito mais agradável e saudável.

    As tragédias... nem consigo dizer nada, simplesmente a minha solidariedade.

    Tudo de bom.

    :)
    ;)

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  2. Fragmentos,

    Espero e desejo que esteja tudo bem consigo!

    Entrei, através da Hélia Soveral,
    e, de imediato,
    o título da mensagem
    chamou por mim.
    À primeira leitura, atrevo o comentário.
    É mais uma demonstração da alta qualidade (Palavra, Ilustração e Conhecimento) a que estamos habituados.
    São momentos da vida real, ao ritmo da Arte e Cultura, que nos enriquecem, despertam e dão força
    para enfrentar o dia a dia.
    São momentos eternos,
    cuja partilha muito,
    muito lhe agradeço.

    Um beijo grande de amizade.

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  3. Querida amiga

    Havia algum tempo que aqui não passava. Confesso, igualmente, que tive de procurar no Google para votar a esta sala assim, límpida e sem a mistura de mercado caótico que se me afigura para mim o Google+ e a panóplia dispersa que me engana sempre. E como é bom voltar a um espaço onde cada post é de uma simultânea beleza e densidade, que cativa e faz saborear, lendo sem pressas, voltando atrás, incursando em links a revisitar e/ou outros novos.

    Muitas vezes, mais do que comentar os assuntos abordados, é fazer uma degustação literária e humana dos mesmos, já que a sensibilidade perpassa-os sempre.

    Também a mim, como a qualquer pessoa, julgo eu, tocou a tragédia das Filipinas (A associação Ajuda à Igreja Que Sofre e tantas outras tentam igualmente ajudar com donativos, e nem que sejam dez euros é já um contributo que se faz, tal como a Associação Cais e tantas outras embora para ajudas diferentes...

    Gostei das citações feitas a a propósito da tragédia, e também lamento muito o desaparecimento dessa grande escritora que aprendi a apreciar ao longo do tempo e que é Doris Lessing. Não sei porquê penso também muito noutros nomes assim, como Simone de Beauvoir ou Marguerite Yourcenar,sem falar noutros que mencionas como Virginia Wolf ou mesmo Alice Munro, sem esquecer Vinícius ou Clarisse Lispector que recentemente teve exposto em Lisboa muito do seu trabalho...

    Agradeço o comentário amável no meu canto, e far-te-ia o convite de voltares lá brevemente dado que é com emoção e alegria que dou à estampa o meu primeiro livro, de poesia e prosa poética, que terei todo o gosto em enviar autografado a quem o pedir, ou que prefira encomendar pelo site da editora. Não fiz lançamento púbçico; eu sei que é muitíssimo mais eficaz mas não sou muito dado às multidões e auma espécie de comercialização do livro. Sei que assim é, mesmo junto de quem já editou aqui pela blogosfera, mas tendo sempre à máxima preservação possível e não consigo incomodar ninguém com convites que podem parecer insistências de que não gosto. Fica, porém, atenta, e como provavelmente preferirás a edição e-book que sairá muitíssimo mais barata comparataivamente à de papel, também ela existirá...

    Deixo um beijinho amigo e uma vez mais grato pela sempre amizade...

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  4. Tudo muda, facto, a uma velocidade vertiginosa.
    Mas o teu post não ficou ultrapassado pelos acontecimentos.
    Gostei dos temas e da forma como os abordaste. Coisa que é uma constante no teu blogue...
    G., tem bom resto de semana.
    Um beijo, minha querida amiga.

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  5. Depois de uma semana bem atarefada, de um dia chuvoso, pegajoso, e também intenso, sabe bem passar por aqui...
    e ficar.

    Calmamente, a beber das palavras e das emoções partilhadas o sentido da vida! como numa tarde de outono...

    "Brigados", pela presença deste abrigo no revoltear dos dias!
    Tudo de bom, " Fragmentos"!!!!!
    MC

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  6. uma "tisana" cálida e reconfortante - teu post...

    beijo

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  7. Têm sido momentos lindos, neste Outono que se pôs sereno, apesar do frio.

    Só posso agradecer essa tua amizade, 'aflores'.

    Bom ter amigos atentos!

    Tudo de bom !
    ( e excelentes fotos nesses teus domingos matinais)

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  8. Petrus,

    Muito obrigada, estou bem! Espero que tudo esteja bem, também para si.

    Foi com muita alegria que li seu comentário. Bom tê-lo por aqui !

    Héia Soveral, nosso ponto de união. Muita saudade da pedagoga e da amiga :-(

    A vida, sem a arte em todas as suas áreas, se assim podemos expressar, seria tão 'sem vida'.

    A Arte preenche muitos dos nossos afectos.

    Quem sabe, um dia nos reencontramos assistindo a um bom concerto na Casa da Música, por exemplo !

    Para si também, um beijo grande de amizade.

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  9. Querido Daniel,

    Tens razão, esquecera de deixar o link no Google +
    Mas já lá está...

    Tal como respondi à tua mensagem, sei que Google + (que não é uma melhoria tecnológica, é apenas mais um canal) foi criado para competir com FB.

    Gosto de blogar, e embora o faça com muito menos frequência, sinto-lhe a falta, quando me afasto demasiado.
    Prendem-me as amizades que criei virtualmente, algumas bem mais atentas do que as reais.
    E prende-me a vontade de escrever... de vez em quando.

    Não imaginas como sofri por não ter visitado a exposição dedicada a Clarice Lispector , na Gulbenkian :-(
    Cheguei a dedicar-lhe um post muito sentido, de grande admiração.

    Quanto ao teu livro, preferi escrever no teu blogue o que senti ao saber...
    Estarei lá, em pensamento, não virtualmente.

    Quanto aos e-books, sabes bem que não troco um livro em papel por um e-book.

    Gosto muito das tecnologias, mas aí não me deixo vencer.

    Foi tão bom ter-te de volta!

    Um beijo de grande amizade

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  10. Sabia que me darias razão em relação à velocidade dos acontecimentos nesta era da informação, Nilson.
    O que agora é novo, no momento seguinte pode estar ultrapassado. E tu sabes bem disso.

    Agradeço a tua amizade que se tem mantido desde que comecei a escrever em Fragmentos. E as palavras sempre afectuosas.

    Tem uma boa semana!
    Um beijo da G.

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  11. Os dias sucedem-se tão rapidamente! E já estamos no início de uma nova semana, amiga MC.

    Contrariamente às semanas passadas, esta manteve-se linda! Fria sim, mas linda! Um Outono delicioso.

    E que bom sentir que gostas de ficar por aqui, lendo-me um pouco, sempre que tens uma pausa...

    Muito obrigada pela tua boa amizade. Há momentos que deixo passar um pouco mais da minha sensibilidade, neste espaço que não tem esse princípio.

    Tudo de bom, MC! Tem uma boa semana!

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  12. Adorei teres comparado o meu post a uma ' "tisana" cálida e reconfortante, '. Um lindo elogio, 'Herético' :-)

    Beijo

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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