terça-feira, 8 de junho de 2010

Mar em dia de chuva









Oceano Atlântico, Porto | Filipe Navarro



Celebra-se hoje o 'Dia Mundial dos Oceanos'! Ser-me-ia impossível não falar do mar! Esse outro lado de meu ser!


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.[...]

Sophia Mello Breyner, Mar


Meu lado encantatório tem destes desvarios imagéticos. Fujo, fujo do tempo pluvioso que me agride e percorre, e vou em frente ao mar.


Lá, mais além, na evidência da procura e reencontro de minh'alma, vejo-me em paisagens e fragrâncias que perfumam meu rosto de brisas feitas de puro interior.


Serpenteio meu olhar pela imensidão desse mar, voo por entre cumes cintilantes de montanhas feitas de espuma, percorro cadências e sons elaborados pelo espraiar entristecido das ondas. Ressonância imersa de interioridade.

Sentada em frente ao mar de cinza hoje vestido, deixo a vida poisar em meu humilde corpo e divago, qual peregrina!

Regresso! Um último olhar nostálgico sobre o plúmbeo horizonte. Fecho o portão do meu pensamento prateado no sagrado lugar - o mar! 


(ensaio literário original)


O mar ergue o seu radioso sorrir de estátua arcaica
Toda a luz se azula.
Reconhecemos nossa inata alegria:
A evidência do lugar sagrado.

Sophia Mello Breyner, Mar-Poesia, Promontório, p. 70
Caminho, Lisboa, 3ª edição, 2001


G-S

Fragmentos Culturais

08.06.2010
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