segunda-feira, 29 de junho de 2015

Apocalipse Suspenso?




Mark Mawson / Rex Features

"Desde o século XVIII pensamos que estamos no fim da história, que somos mais sábios, mais justos, temos a ideia de estar à beira do paraíso e, não se sabe porquê, de repente esse sonho desaparece"



Mark Mawson / Rex Features

"Estamos numa espécie de nevoeiro, cercado pelo caos, e temos de encontrar meios para navegar neste novo espaço que não está definido, mas onde é preciso redescobrir novos caminhos."

 

Mark Mawson / Rex Features

"Pouco importa que tenha havido Miguel Ângelo, Rafael, Beethoven, Mozart. Nada está garantido."

"A humanidade viveu o seu buraco negro com a história que se conhece de Hiroxima e Auschwvitz, estando-se agora sob uma ameaça latente no horizonte de uma civilização que sabe que é mortal."

 

Mark Mawson / Rex Features
"Se pensamos que a cultura nos vai dar a solução, não. A cultura não é uma resposta, é a questão. Faz parte da interrogação, mas não tem resposta."

Textos: Eduardo Lourenço, excertos de uma conferência em que participou em 2009.

Fotos: Mark Mawson Making a splash: Aqueous Electreau water art (selecção de imagens)

Nunca estes pensamentos do filósofo, ensaísta, me pareceram tão actuais.

G-S

Fragmentos Culturais

29.06.2015
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Créditos | Credits: 

Fotografia| Photography Mark Mawson| Rex Features
The Telegraph

sábado, 13 de junho de 2015

Cadénas d'amour : Para onde foram os amores ?




Cadénas d'amour, Pont des Arts, Paris
créditos : Getty Images


Paris tornous-se a cidade do amor. Veneza ficou na história da literatura, embora mantenha uma simbólca muito especial.

Mas Paris tem mesmo aquela aura de enamoramento que, mesmo sem querermos, sentimos quando passeamos por certas ruas de Paris. Não sei. Talvez as belas histórias de amor que o cinema nos tem feito viver, despertasse esta paixão. Midnight in Paris de Woody Allen mantém vivo esse fascínio.

Mas também há a história cultural. Grandes pensadores, artistas, escritores, músicos viveram ou passaram por Paris.

E depois havia aquele mítico lugar de culto. Pont des Arts. Pont des Arts que passou a ser visitada mais para selar juras de amor eterno do que propriamente pela arte. 



Cadénas d'amour, Pont des Arts

Confesso. Eu própria não resistia a por lá passar, sempre que ia a Paris. Sem dúvida, minha cidade preferida. Embora tenha gostado muito de Roma.

Paris tem sempre tanto para ver! A arte envolve-nos, mesmo que revisitemos os locais mais tradicionais do roteiro cultural. Há sempre novas exposições, novas sinergias. E o contraste cada vez mais frequente entre o clássico e o contemporâneo atrai-me profundamente. 

E há a música. Nas salas da especialidade - oh! como estou desejosa de entrar na Philharmonie de Paris - nas igrejas, capelas. Sim. Em cada igreja, pequena capela, concertos em vários dias da semana. Locais de culto para ouvir música. Adoro a paz que se sente nesses espaços ao fruir da música.

Bom, perdia-me já nas minha cogitações sobre Paris, quando o tema é cadénas d'amour.

Os títulos dos medias causaram impacto a nível mundial. "Les cadenas, c’est fini sur le Pont des Arts". Todos os enamorados que lá selaram seus amores com um cadeado alvoroçaram-se. Que vai ser das suas promessas?

Pois é. Desde o passado dia 1 Junho, a mairie de Paris fechou a ponte por uma semana para remover todos os cadeados lá pendurados.



 Cadénas d'amour,  Pont des Arts

Símbolos metálicos demasiado pesados para a velha ponte - 45 toneladas e perto de um milhão de cadeados presos nas balaustradas, colocados por turistas amorosos do mundo inteiro - foram retirados integralmente desde o início de Junho. Pont des Arts manteve-se encerrada durante uma semana.

Claro que o anúncio da limpeza deste lugar 'sagrado' para os apaixonados do mundo inteiro, suscitou muitas reacções desfavoráveis, vindas de todo o mundo.

Por um lado, os românticos deploravam: "grand symbole jeté à la poubelle", outros "un bout de patrimoine qu’on enlève". Ainda alguns viam nesse ritual "œuvre artistique urbaine". Enfim, não deixa de causar tristeza.




Cadénas d'amour,  Pont des Arts

Para reconfortar os enamorados inconsoláveis, Paris, pela voz do responsável pela Cultura, deu "carte blanche à des artistes du street-art de renommée internationale" para embelezar os tabiques provisórios que foram instalados até que os novos painéis de vidro sejam colocados no início do outono, evitando aasim novos cadénas d'amour.

Segundo as entidades oficiais, quatro artistas que participaram na experiência da célebre Tour Paris 13, via Galerie Itinerrance foram convidados.

Entre os artistas de street art que os parisienses e turistas vão poder admirar as obras, está o português Pantonio.



créditos : Joël Saget | AFP
Pantonio, street-art artiste, Portugal

Estes quatro artistas internacionais de street art, Brusk, Jace, El Seed Pantonio criaram painéis sob a temática do amor em Paris.





Pont des Arts deve ter sido reaberta ao público no dia 8 Junho. Sem cadénas d'amour. Mas o responsável da Cultura quer que Paris preserve a imagem de cidade dos enamorados : "Nous souhaitons que Paris reste la capitale de l'amour et du romantisme".

Uma campanha de sensibilização, já iniciada em Julho de 2014, pedia aos apaixonados que testemunhassem o seu amor apenas fazendo 'selfies' junto dos cadénas d'amour, na Pont des Arts. E foi-lhes proposto que as publicassem no Twitter, accompanhadas do hashtag @lovewithoutlocks (amour sans cadenas).

E afinal que vai ser feito de tantas juras de amor, perdão, cadénas d'amour? Paris não sabe ainda muito bem o que fazer com as toneladas de cadeados retirados, 
mas por agora serão guardados "en vue de leur réutilisation pour un nouveau geste romantique".



cadénas d'amour, pont des Arts

Guardemos então estas imagens na nossa memória poética, já que Paris perdeu estes testemunhos vivos de amor eterno.

E relembrei o poema belíssimo de um dos poetas franceses que mais admiro. Guillaume Apollinaire que descreve assim o encanto das pontes de Paris

Le Pont Mirabeau
Sous le pont Mirabeau coule la Seine
           Et nos amours
     Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine
 
           Vienne la nuit sonne l'heure
           Les jours s'en vont je demeure
 
Les mains dans les mains restons face à face
           Tandis que sous
     Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse
 
           Vienne la nuit sonne l'heure
           Les jours s'en vont je demeure
 
(...)

Guillaume Apollinaire, Pont Mirabeau*

in Alcools, 1913
1ª publicação Fev. 1912

Fragmentos Culturais

G-Souto

13.06.2015
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* Poema integral aqui