domingo, 7 de abril de 2013

Clarice Lispector : A Hora da Estrela





Clarice Lispector !| Fundação Gulbenkian
http://www.gulbenkian.pt/



“Sou tão misteriosa que não me entendo.”

Clarice Lispector

Trinta e cinco anos após a morte de Clarice Lispector, a Fundação Gulbenkian apresenta a exposição Clarice Lispector - A Hora da Estrela, integrada nas comemorações do Ano do Brasil em Portugal.




Clarice - estudante de Direito
Acervo Clarice Lispector
Fundação Casa de Rui Barbosa

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. 
(...)

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. (...) E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura.”*

Clarice Lispector






A exposição que abriu sexta-feira, dia 5 Abril, conta com textos, fac-símiles, fotografias e documentos pessoais da escritora,  uma das mais destacadas vozes da literatura brasileira. Sem lhe retirar o mistério, a exposição parece ser um percurso quase intimista sobre Clarice Lispector.

Nascida na Ucrânia, em 1920, Clarice Lispector chegou ao Brasil com menos de dois anos de idade. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1937, viveu em Alagoas e em Pernambuco. Passou muitos anos fora, acompanhando o marido diplomata, mas nunca se desligou do Brasil, onde morreu em 1977. 

Perto do Coração Selvagem foi o primeiro dos seus 26 livros, hoje publicados em mais de 20 línguas. Muitas são as obras publicadas postumamente no Brasil (2012). Em Portugal, a sua obra está a ser editada pela Relógio d'Água.

Divulgar a obra de uma das mais destacadas vozes da literatura brasileira é um dos objectivos desta exposição, que ocupará a Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian entre 5 de Abril e 23 de Junho 2013.




Clarice Lispector
Exposição na Guilbenkian

“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. 
(...)

Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis."*


Clarice Lispector


A Galeria de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian receberá a mostra tal como foi vista no Brasil, isto é, dividida em seis núcleos. Neles, se pretendem recriar ambientes dos seus livros ou passos da sua existência. 

Juntamente com os textos, fac-símiles, fotografias e documentos pessoais, a exposição recriará ambientes e cenários que inspiraram a escritora. 

Cartas de nomes tão consagrados como Erico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes e muitos outros poderão dar a conhecer melhor a personalidade de Clarice. A ler aqui



Clarice Lispector 
Exposição na Guilbenkian
Pensada pelo poeta brasileiro Ferreira Gullar e Julia Peregrino (a responsável pela exposição Fernando Pessoa, Plural como o Universo, que a Gulbenkian acolheu no ano passado) e conceptualmente criada por Daniela Thomas e Felipe Tessara, esta mostra pretende reflectir o peculiar universo da escritora que nasceu ucraniana mas que aos 21 anos escreveu uma carta ao então presidente Getúlio Vargas a pedir a nacionalidade brasileira, nela fazendo uma belíssima 'declaração de amor à língua portuguesa.' Essa carta faz parte do conjunto de cem documentos que podem ser vistos na exposição

A Hora da Estrela (que recupera o título do último romance da escritora) recria ambientes dos livros e passos da vida de Clarice, desde o seu nascimento em 1920 na Ucrânia até à sua morte em 1977, no Rio de Janeiro.

Como escreveu Benjamin Moser em Clarice Lispector, Uma Vida, esta obra póstuma "pode considerar-se quase uma autobiografia".




Clarice Lispector
Exposição na Guilbenkian

O crítico literário português João Gaspar Simões  - um dos mais importantes teóricos da Literatura - foi um dos primeiros portugueses a escrever sobre esta autora e sobre o romance Cidade Sitiada (1949): 

"É de um hermetismo que tem a consistência do hermetismo dos sonhos. Haja quem lhe encontre a chave." 

Mesmo sem conhecerem esta frase, os criadores da exposição tiveram uma intuição semelhante à de Gaspar Simões e "construíram uma sala que reproduz o mesmo ambiente árido, claustrofóbico, monocromático mas sob o qual há segredos e mistérios à espera de uma revelação, gavetas à espera que alguém as abra."




Clarice Lispector
Exposição na Guilbenkian
Tive o bafejamento de conhecer a obra de Clarice Lispector em tempos de faculdade. E tornei-me sua leitora.

Impressionou-me a sua escrita original, e de grande simplicidade a nível da exteriorização das ideias, embora de grande reflexão sobre os limites da palavra.

Habituada a ler os grandes clássicos da literatura brasileira, Clarice Lispector apareceu-me como uma escritora sempre pronta a deambular sobre si própria enquanto ser humano. Um olhar preciso e desconcertante sobre o universo feminino, o que também me agrada.


"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”*

Clarice Lispector





A Descoberta do Mundo
Crónicas
Clarice Lispector
Relógio D'Água, 2013


A Relógio d'Agua vai apresentar na Bertrand Chiado no próximo dia 12 Abril, A Descoberta do Mundo, livro que reúne as crónicas de Clarice Lispector. A apresentação será feita por Teolinda Gersão e Pedro Mexia.

Se vive em Lisboa ou passa brevemente, não perca estes dois acontecimentos literários.

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz. (...)

Clarice Lispector, Sonho




Google Doodle 98º Aniversário de Clarice Lispector

E hoje, dia 10 Dezembro 2018, Google dedica-lhe um Doodle magnífico criado pela por Mariana Valentepara celebrar o seu 98º aniversário.

"It is very stimulating to work with collage and to be able to make a tribute to my grandmother Clarice, because I feel that I learned from her the redefinition of the meaning of the words in the word itself and to reframe images in the collage. For this celebration Doodle, I decided to tell a little bit about her path, the escape from dangerous Ukraine as a refugee, leaving Europe by ship to arrival at a new, strange and warm Brazilian Northeast harbor to finally witness her ascension as an internationally praised writer."

Mariana Valente

“I write very simply,” said the Brazilian author Clarice Lispector. “I don’t dress things up.” 

Her intensely personal short stories and novels about the innermost feelings of characters searching for meaning in life made her one of the most celebrated literary figures of the 20th century.

Doodle team


G-S

Fragmentos Culturais

07.04.2013

actualizado: 10.12.2018
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Referências:

Créditos: Fotos
DN | Gulbenkian

Citações: Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector, 
Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004

Clarice Lispector - A Hora da Estrela