sábado, 30 de janeiro de 2016

Amrita Sher-Gil, uma visão pessoa ! Exótica & sensorial !






Group of Three Girls, 1935
Amrita Sher-Gil


Google tem tido uma função pedagógica bem singela que me atrai. Os pequenos Doodle que, por vezes, iluminam a página principal do motor de busca.

Despertam para novas personalidades e factos em várias áreas (arte, ciência, literatura, tecnologia). Preenchem, assim, possíveis lacunas do conhecimento. Vasta é a memória dos tempos e dos lugares.

Hoje detive-me encantada no Doodle que celebra o 103º aniversário de Amrita Sher-Gil. A primeira impressão? Beleza. Cores de Gauguin? Pelo olhar de uma pintora que desconhecia. Amrita Sher-Gil.





Google Doodle 103º Aniversário de Amrita Sher-Gil
doodler:  Jennifer Hom

Fixei-me no traço delicado das figuras femininas, a textura original, cores ocre o os verdes pastel, beleza da tez doirada, a simplicidade elegante do vestuário. Referências fortes a um país que adorava conhecer. A Índia. 

Apressei-me a pesquisar sobre o quadro que deu origem ao Doodle. Publiquei-o no início da postagem.

Amrita Sher-Gil pintora de origem húnguro-indiana morreu muito jovem, aos 28 anos. Marcou, no entanto, definitivamente a história da arte moderna indiana. As suas obras estão presentes na National Gallery of Modern Artem New Delhi.










Amrita Sher-Gil [1913-1941]

"As a stylistic phenomenon never-before seen in the history of world Art, Amrita Shergil's brief and fiery decade-long painterly oeuvre is truly remarkable."

Amrita Sher-Gil's Centenary

A inimitável e flamboyantepintora visionária, Amrita Sher-Gil, um ícon da arte indiana, pioneira da Modern Art, única, no seu génio e ancestralidade.

Foi a descoberta maravilhada da jovem e promissora pintora húngaro-indiana, desaparecida prematuramente em 1941, poucos dias antes da inauguração da sua primeira grande exposição individual em Lahore.  A causa a sua morte continua desconhecida. Mas há teorias.



Amrita Sher-Gil
self-Portrait, 1930

Achei delicioso, o auto-retrato, ousado para época, contextualizando-o na cultura que representa. Aponta sem dúvida para o espírito livre de Amrita. A educação europeia? Rebeldia contra a cultura do país?

"The majority of works by Amrita Sher- Gil in the public domain are with the NGMA, which houses over 100 paintings by this meteoric artist. 

Born of a Sikh father from an aristocratic, land owing family, and a Hungarian mother, Amrita Sher-Gil’s life veered between Europe and India. She was blessed with beauty, breeding, charismatic personality and extra ordinary talent as a painter. "

National Gallery of Modern Art, New Delhi




Bride's Toilet, 1937
Amrita Sher-Gil

A citação pertence à Galeria Virtual Amrita Sher-Gil que põe à nossa disposição uma visita virtual. Não muito exuberante. 

O site oficial da Virtual Gallery é muito básico, quase primitivo perante a evolução das tecnologias. Não valoriza a obra lindíssima de Amrita Sher-Gil. Talvez falta de meios?

Felizmente que Google Arts & Culture nos dá a verdadeira dimensão da obra de Sher-Gil expostas na National Gallery of Modern Art, New Delhi. Grande qualidade. E extensa beleza pictórica.




Amrita with her sister

Sher-Gil foi para Paris aos 16 anos. Aí estudou na Ecole Nationale des Beaux-Arts. Profundamente influenciada pelos franceses Paul Cézanne e Paul Gauguinpintores que muito aprecio, demonstra esse seu interesse em vários dos seus quadros. Apesar, que a vejo mais perto de Gauguin, na sua fase pós-Tahiti.




The Child Bride, 1936
Amritia Sher-Gil

Aliás, as primeiras obras de Amrita Sher-Gil demonstram essa clara influência dos pintores franceses do círculo boémio, que na época, davam a conhecer o seu descontentamento face à 'imitação' da Natureza dos clássicos, especialmente nos mais pequenos detalhes.

Sher-Gil é considerada uma das mais importantes pintoras da Índia do século XX. O seu  legado está em pé de igualdade com os mestres da Bengal Renaissance.

"She is also the 'most expensive' woman painter of India."






Hungarian Gipsy Girl, 1932
Amrita Sher-Gil

Tal como Frida Khalocom quem partilha uma herança húngara (sua mãe era húngara, Amrita nasceu na Hungria), Sher-Gil era um espírito rebelde e aventureiro. Quebrou barreiras na arte e na vida.

Pela dupla herança ancestral, é também uma pintora de referência na Hungria, estando presente no Magyar Müvészeti Akádemia.

Segundo alguns especialistas, a obra de Amrita Sher-Gil caracteriza-se pela 'violência sensorial'. Não empregaria a palavra 'violência'. Talvez 'luxuriante beleza sensorial'?




Amrita Sher-Gil
Village scene, 1938

Cores fortes, cores que apelam a sensações olfactivo-visuais, texturas densas, odores de especiarias. Profundidade original.

Filosoficamente, transmite-nos um certo desconforto perante a existência. Por outro lado, uma rebeldia feminina contra o sistema de valores hierárquicos da sociedade em que viveu. Índia.

Ah! Aqui está a minha primeira impressão ao ver seu auto-retrato (1930). Foi isso que me passou. Rebeldia.



Amrita Sher-Gil
Indian Express

"Amrita Sher Gill: She's a national treasure both literally and metaphorically, and while many prefer Vivan Sundaram's photo studies of the artist, the lady who is touted as India's first modern artis."

Sem dúvida, uma pintora que nos levará tempo a descobrir, mas que desde o primeiro instante nos alicia com o magnetismo que dela se desprende. 

Ficamos rendidos à sua arte, à singularidade da personalidade, à miscigenação de influências e estilo pessoal que veio a encontrar.

Os seu quadros, preenchem muito do imaginário da nossa sensibilidade estética.




Young Girls, 1932
Amrita Sher-Gil

Nesta tarde fria de Janeiro, o tempo não convida a passeios lá fora. Mas permitiu-me este passeio pela arte. Bem singular!

Estamos em fim-de-semana. Para uns, o cinema, e/ou a leitura. Para outros, a actualização dos blogs. 

Mas, por que não o deambular pela Internet em  busca de novos temas, novos espaços? Diferentes culturas.

Antes de uma ida ao cinema, ao final de tarde, sentei-me aqui para partilhar a descoberta de Amritanuma visão sempre muito pessoal, mas aberta a outras considerações. Amrita Sher-Gi tocou-me, na sua arte, e na sua vida. Compreendo a sua rebeldia.


G-S

30.01.2016
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sábado, 23 de janeiro de 2016

Voltando ao cinema : As Sufragistas, um filme a ver !






Sufragette
Sarah Gavron, 2015

De novo aqui, desta vez para escrever sobre cinema. SufragetteAs Sufragistas, nas salas há algumas semanas. Tocou-me intensamente. 

Suffragette começa em Londres, 1912, seguindo um grupo de mulheres de diferentes extractos sociais que se unem em actos de desobediência civil para chamar a atenção para a sua causa: direito ao voto no feminino. 





Helena Bohnam Carter, Carey Mulligan, Meryl Streep
Sufragette
Sarah Gavron, 2015

Suffragette, titulo original de As Sufragistas, realizado por Sarah Gavron. Nota-se a sensibilidade feminina no modo como o filme, baseado em factos históricos, retrata um grupo de mulheres que lutaram pelo direito ao voto no Reino Unido, finais do século XIX e inícios do século XX.

A pressão iminente das autoridades obrigou um grupo de mulheres a agir na clandestinidade, em conflito social, mas também pessoal. Sacrifícios incomensuráveis contra a sociedade da época.





Sufragette, 
Sarah Gavron, 2015

Um elenco extraordinário. Meryl StreepHelena Bohnam Carter, actrizes sempre empenhadas na defesa do lugar das mulheres na sociedade actual. É, no entanto, em Carey Mulligan - uma excelente revelação em O Grande Gatsby - que recai a intensidade dramática da luta pela dignidade.





Sufragette
Sarah Gavron, 2015

Maud perde a família, o filho, o marido, os amigos, o emprego. Mas nada a faz desistir, a partir do momento que se empenha na causa.

De aparência dócil, renitente em fazer parte do movimento já radicado, é de corpo e alma que finalmente se entrega a causa que nos dias de hoje parece simples, natural. O direito ao voto no feminino.

A exaustão provocada pelas injustiças sofridas e que testemunha à sua volta, a subjugação que vive no dia-a-dia, leva-a a a integrar o movimento que exige o direito ao voto para as mulheres, de modo a obter dignidade e respeito por parte da sociedade.



Sufragette, 
Sarah Gavron, 2015
http://www.imdb.com/

“We’re half the human race,” Maud tells the inspector tasked with quelling the protest. “You can’t stop us all.”

O filme de Sarah Gravon é de cunho histórico, desde a primeira imagem. O movimento feminino do direito ao voto foi um dos primeiros passos na luta feminista por direitos iguais na pós-revolução industrial com o surgimento da Fundação União Nacional pelo Sufrágio Feminino.



Sufragette
Sarah Gavron, 2015

"A vida das mulheres daquela época era muito, muito difícil. O horário de trabalho era terrível, elas ganhavam muito menos do que os homens", comenta Carey, nos bastidores da produção.




British sufragette  Emmeline Pankhurst, 1911
(1858 - 1928)
credits: Topical Agency/ Getty Images





Meryl Streep/ Emmeline Pankhurst
https://www.imdb.com/

Na Inglaterra do início do século XX, uma organização mais radical surgia, a WSPU – Women Social and Political Union/ União Social e Política da Mulher – liderada por Emmeline Pankhurst (1858-1928) aqui interpretada por Meryl Streep.




Sufragette, 
Sarah Gavron, 2015
Devido à lei Cat and Mouse, (1913), as mulheres eram presas por trivialidades, e submetidas a tratamento brutal. Cenas de grande violência, tão bem interpretadas! Extremo realismo por parte das actrizes que dão vida às 'guerreiras' da época. Vidas reais.




Emily Davison/Natalie Press
A liderança de Pankhurst era contundente e culminou em situações de confrontos sérios, desde agressões violentas, à morte Emily Davison (1872-1913). 





Sarah Gavron, realizadora

A realizadora Sarah Gavron afirmou que recorreu a diários, relatos não publicados de mulheres da época, bem como a aruivos de polícia, para recriar a história.

“When we spoke to the academics that consulted on the film they said they weren’t surprised that today it’s still hard to get women’s history taken seriously. It took a long time to get on the school curriculum ­– I wasn’t taught anything about it and later read a few lines at the bottom of a history book. I think it’s partly a symptom of inequality and the fact that these stories have been written out of our history.”

Sarah Gravon

Não duvido que todos estes factos históricos ligados à desigualdade sofrida pelas mulheres e à sua luta pelo direito ao voto, tenham sido retirados dos livros de estudo sobre história.

Ao inspirar-se nos diários e relatos na primeira pessoa, Gavron faz um filme que os reflecte com intensa emotividade.





Maud Watts/ Carey Mulligan
Sufragette, 
Sarah Gavron, 2015

Sufragette faz a ligação deste contexto histórico através da vida familiar de Maud Watts (Carie Mulligan), mulher casada com Sonny (Ben Whishaw), mãe de George (Adam Michael Dodd), que trabalha numa lavandaria desde criança, explorada, violada, quando ainda adolescente, pelo desumano patrão. 

A sua história personifica o dia-a-dia doloroso da maioria de mulheres dessa época. 

É a partir da dor pessoal, e do sofrimento de outras mulheres e de algumas adolescentes que a rodeiam - o trabalho infantil é uma constante na história que envergonha os países desenvolvidos - que Maud Watts se decide a aderir ao movimento.

Injustiças no trabalho, assédio, autoritarismo em família, as mulheres aderem ao movimento liderado por Emmeline Pankhurst para reivindicar dignidade pelo direito ao voto.




Maud Watts/ Carey Mulligan
Sufragette
Sarah Gavron, 2015

A abordagem é feita pelo retrato dessas mulheres em relação a emprego, família, amigos e dignidade. A violência do sistema legal, até onde aquelas mulheres estiveram dispostas a ir, para alcançar seus objectivos, termina em 1913, na narrativa fílmica. 

Carey Mulligan defende sua personagem com firmeza, indo da condição pacífica a líder revolucionária decidada. Helena Bonham Carter, farmacêutica, é uma coadjuvante, com empenhamento pessoal, apoiada pelo marido, que, apesar da época, defende a luta da mulher, em relação a mulheres como Maud.

A participação de Meryl Streep – como a grande voz por trás do movimento – é curta, mas marcante. Como só a actriz sabe impregnar cada personagem a que dá vida, no cinema.

As Sufragistas, um filme denso, com conteúdo muito relevante, cumpre seu papel de chamada histórica, alertando para um absurdo que já foi considerado normal – e que não deve, nem pode, ser repetido entre minorias similares. 

"Conduzido com segurança, talvez perca alguma força, apenas por não surpreender. Segue um percurso quase esperado e já visto em filmes semelhantes. Mas em nada diminui a sua qualidade, ainda que não o eleve a uma condição de acentuado destaque."




The cast and crew of Suffragette 
credits: Brigitte Lacombe

O silêncio na sala foi total durante todo o filme. As pessoas afundavam-se ainda mais nas cadeiras. O peso da história sentia-se na pele. 

Sala cheia, público feminino e masculino em igualdade. A maior parte das pessoas permaneceu nos seus lugares. Poucas trocavam impressões. Não se sentia necessidade de falar. 

Os factos históricos tinham desfilado reais, ao longo da hora  meia. O negro do ecrã, depois do genérico final, adensou a dramaticidade dos acontecimentos narrados.

O filme é um tributo emocionado a essas mulheres, à sua luta, à veemência com que se entregaram, mesmo pondo em risco a vida, o bem estar, as famílias, o trabalho, o respeito da sociedade da época.

Suponho que depois de ver As Sufragistas, nenhuma mulher deve ausentar-se deste direito, conseguido com tanto sacrifício.

Homens e mulheres devem ver o filme. É a história da nossa sociedade no início do século XX. Não muito distante.

2017 celebra o Centenário do Sufrágio destas mulheres britânicas, na luta pelo direito ao voto. É graças à sua luta que hoje temos o direito ao voto. 


G-S


Fragmentos Culturais

23.01.2016

actualizado 08.03.2018
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