quarta-feira, 29 de março de 2017

Pequenos apontamentos sobre Teatro







Nicolas Lancret (début du XVIIIe siècle)



Voici donc 55 ans que chaque année au printemps une Journée Mondiale du Théâtre à lieu. Une journée, c’est à dire 24 heures qui commencent du côté du théâtre NO et du Bunraku, qui passent par l’Opéra de Pékin et le Kathakali, s'attardent entre la Grèce et la Scandinavie, d'Eschyle à Ibsen, de Sophocle à Strinberg, entre l'Angleterre et l'Italie, de Sarah Kane à Pirandello, et aussi la France entre autres, où nous sommes et où Paris est tout de même la ville du monde qui reçoit le plus de troupes étrangères. (...)

Isabelle Huppert, message 2017

Dia 27 Março celebrou-se em todo o mundo o Dia Mundial do Teatro. Todos os anos, desde 1961, no dia 27 de Março celebra-se o Dia Mundial do Teatro.*

Trata-se de uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), através do ITI.

Dia Mundial do Teatro foi criado em 1961 pelo ITI Instituto Internacional de Teatro. E é comemorado anualmente em 27 de Março pelos Centros de ITI e da comunidade internacional de teatro.

Vários eventos nacionais e internacionais de teatro foram organizados para marcar esta ocasião.

Um dos mais importantes eventos é a difusão da mensagem do Dia Mundial do Teatro. ITI convida todos os anos, uma figura conceituada a nivel mundial ligada à arte do teatro para partilhar as suas reflexões sobre o tema do teatro e da cultura paz.






Jean Cocteau
créditos: Autor não identificado

A primeira mensagem do Dia Mundial do Teatro foi escrita por Jean Cocteau em 1962.

"J’ai aimé apprendre que le premier message de ces Journées Mondiales du Théâtre en 1962 a été confié à Jean Cocteau, tout désigné puisqu’il est, n’est-ce pas, l’auteur d’«un tour du monde en 80 jours»." (...)


Isabelle Huppert, message 2017

A mensagem 2017 foi entregue à actriz convidada Isabelle Huppert, actriz francesa de renome internacional, galardoada nos Golden Globes 2017 na categoria de Melhor Actriz Principal, e nomeada na mesma categoria nos Oscars 2017.




Isabelle Huppert


credits: ©Sylvie Lancrenon. 
Picture is copyrighted and may be used 
for World Theatre Day issues only by ITI Centres 

"En 55 ans je suis la huitième femme à qui on demande de prononcer un message, enfin je ne sais pas si le mot 'message' convient. Mes prédécesseurs (le masculin s'impose!) parlent à propos du théâtre d’imagination, de liberté, de l'origine, ont évoqué le multiculturel, la beauté, les questions sans réponses... " (...)

Isabelle Huppert, message 2017 

É de lamentar que até no teatro, como diz a actriz, 'o masculino' se imponha. Se reflectirmos nos Prémio Nobel de Literatura, o mesmo se passa. Apenas 14 mulheres escritoras receberam o galardão de 1901 a 2016.

O Dia Mundial do Teatro contou com dezenas de iniciativas pelo país, entre as quais, peças de teatro e exposições.






Anton Chekhov (1860-1904)
créditos: Osip Braz







Samuel Beckett (1906-1989)
créditos: Autor não identificado

Mas falar de teatro, é falar também de autores consagrados: Racine, Molière, Tchékhov, Samuel Beckett, Eugene Ionescu, Dario Fo, Prémio Nobel da Literatura (1940), ou Ingmar Bergman. Este último passou depois ao cinema, mas sempre com seu olhar no teatro.






 Eunice Muñoz
créditos: Manuel de Almeida/ Lusa


"Le théâtre nous protège, nous abrite... Je crois bien qu'il nous aime... autant que nous l'aimons... " (...)


Isabelle Huppert,  mensage 2017

As celebrações começaram no dia 26, à noite, com uma homenagem merecidíssima à actriz Eunice Muñoz, que este ano completa 75 anos de carreira. Foi-lhe entregue a Máscara de Ouro.






Homenagem Eunice Muñoz
Teatro D. Maria II
créditos: Palavras Ditas

A actriz Eunice Muñoz, de 88 anos, foi hmenageada no Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), em Lisboa, onde se estreou há 75 anos, participando numa conversa, na Sala Garrett, com o actor e encenador Diogo Infante, com quem contracenou várias vezes.

Entre as várias distinções da sua carreira, Eunice Muñoz recebeu, no dia 28 de Novembro de 2011 a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, entregue pelo então Presidente da República.



Também fez cinema e, em 1946, estreou-se em Camões, de Leitão de Barros que lhe valeu o prémio de Melhor Actriz do ano. 



João Baptista Almeida Garrett
Litografia (cerca de 1850)
http://sigarra.up.pt/

"O teatro é um grande meio de civilização, mas não prospera onde não a há!"

Almeida Garrett

Mas o teatro em Portugal deve muito a Almeida Garrett. Foi ele o introdutor do teatro em Portugal. E o iniciador do Romantismo na literatura portuguesa.

Desenvolveu uma acção notável, dirigindo a Inspeção Geral dos Teatros e o Conservatório de Arte Dramática. Interveio ainda no projecto do que veio a ser o Teatro Nacional de D. Maria II.

Escreveu ao longo dos anos que se seguiram um repertório dramático nacional excelente: Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842), Frei Luís de Sousa (1843). 






Isabelle Huppert, actriz convidada DMT 2017

Desde 2009, o evento principal do Dia Mundial do Teatro consiste numa representação interpretado pelo autor da mensagem que tem lugar na sede da UNESCO, em Paris.

"Le théâtre pour moi c’est l’autre, c'est le dialogue, c'est l'absence de haine. L'amitié entre les peuples, je ne sais pas trop ce que ça veut dire mais je crois dans la communauté, dans l'amitié des spectateurs et des acteurs, dans l’union de tous ceux que le théâtre réunit, ceux qui l'écrivent, ceux qui le traduisent, ceux qui l'éclairent, l'habillent, le décorent, ceux qui l'interprètent, ceux qui en font, ceux qui y vont. 

(...)

Je me souviens d'un vieux régisseur à l’ancienne, qui avant le lever du rideau, en coulisses, disait chaque soir d'une voix ferme : 

« Place au théâtre ! » Ce sera le mot de la fin."

Isabelle Huppert, message 2017

G-S

29.03.2017
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quinta-feira, 16 de março de 2017

Mês da Mulher : Filmes biográficos sobre mulheres séc. XX !




Mulheres do Século XX
Mike Mills, 2016

No Dia Internacional da Mulher, não pude escrever. Mas como tenho lido que Março é o Mês da Mulher, decido assim partilhar alguns filmes que me impressionaram. Retratam a vida de algumas mulheres que deixaram os seus nomes, de algum modo, na história mais ou menos recente.

Baseados em factos reais, Mulheres do Século XX (autobiográfico), Hidden Figures, traduzido Elementos Secretos, Florence: uma Diva fora de Tom, tradução de Florence Foster Jenkinse As Sufragistas, tradução de Suffragette, sobre o qual já escrevi anteriormente.




Florence Foster Jenkins
Stephen Frears, 2016

Desta curta lista de filmes, dois baseiam-se em histórias de vida, e dois  têm cariz histórico (social e científico). Os quatro com nomeações para os Oscars Oscars 2017 e Oscars 2016.

Mulheres do Século XX20th Century Womendo realizador Mike Mills, é um filme autobiográfico e uma homenagem a sua mãe.

Passado em 1979, o filme retrata a vida de Dorothea Fields, uma mãe solteira na casa dos 50 com um filho adolescente, Mike Millsnuma época de revolução cultural e política, nos Estados Unidos (direitos civis, final movimento hippie, início do movimento punk).

Temáticas que mostradas através de fotografias, servem de contexto histórico.





20th Century Women 
Mike Mills, 2016

"Dorothea, born in 1924, Depression-raised, trained as a pilot in the second world war, the first woman draughtsman in her architecture practice, but, sadly, too early a pioneer to make much difference."

The Guardian

Apesar de pioneira, talvez antes do tempo (mãe solteira, arquitecta num mundo de homens), na educação de Jamie, Dorothea (Annette Benningnão se sente capaz de o acompanhar. Jamie, um adolescente confuso e complicado a querer desvendar os mistérios da vida e desfrutar as maravilhas, mesmo sem as entender.

Solicita, então, o apoio  de duas jovens mulheres, Abbie, uma artista punk a quem arrenda um quarto, e Julie, uma inteligente e provocadora adolescente, amiga de Jamie.




20th Century Women 
Mike Mills, 2016

De natureza autobiográfica, o projecto/ filme é uma homenagem sensível de Mills a sua mãe e às mulheres que marcaram o seu crescimento. 

Existe também o lado que explora o modo como nós, enquanto seres humanos, nos definimos e somos reciprocamente definidos pela época e pelo lugar em que vivemos e crescemos. 

Um filme indie com um elenco de coloridas personagens, extremamente bem delineadas, enquanto indivíduos, que exemplificam essas ideias. Teve uma nomeação na categoria de Melhor Adaptação Cinematográfica nos Oscars 2017. Recebeu vários galardões em outros eventos que precederam os Oscars.

A interpretação de Annette Benning (de regresso aos ecrãs) é simplesmente brilhante. A actriz com quatro nomeações para os Oscars, galardoada nos Bafta, Melhor Actriz com American Beauty, e dois Golden Globe em Being Julia e The Kids Are All Righttem vindo a interpretar temáticas familiares complexas de muito valor.

A genialidade que sempre lhe conhecemos, está no modo como personifica a honestidade emocional de Dorothea em todas as suas interações, bem como no humor delicado que se regista nas margens da sua expressão. 







Mulheres do Século XX tem sido considerado o filme mais feminista (no bom sentido) escrito por um homem. Annette Bening é o filme.

Mulheres do Século XX não fala apenas de três mulheres. Fala do ser humano num mundo em transformação constante. 




20th Century Women 
Mike Mills, 2016


Fala das pessoas que atravessam décadas e percebem que o mundo não é mais aquele a que estavam habitadas. E fala especialmente de mulheres que têm filhos, e muitas vezes não sabem o que fazer com tanta informação nova, mas seguem seu próprio instincto de apoio emocional.


"There’s so much pressure on women now to be sexy, to become educated, to have a fulfilling relationship. And – oh yes! – you also have to have children, and you’re supposed to be very happy when you’re doing all of this. It’s impossible. You don’t have to do everything. Just do a little bit at a time."

Annette Bening, The Guardian





Hidden Figures
Theodore Melfi, 2016

Hidden Figurestraduzido como Elementos Secreto, é baseado em factos verídicos, como foi amplamente divulgado. A NASA dedica-lhe várias referências nos seu site oficial.






Hidden Figures
Theodore Melfi, 2016


Elementos Secretos conta a incrível história de três cientistas, mulheres afro-americanas que trabalharam na NASA - Katherin Johnson, Mary Jackson, Dorothy Vaughan

Estas três mulheres engenheiras estiveram na génese do lançamento do astronauta John Glenn para a órbita, um incrível feito que restaurou a confiança da nação, e agitou a corrida espacial.






Elementos Secretos é um filme que deve ser visto, pelos factos verídicos narrados e pela diversidade do elenco. Mas é um filme sem grandes rasgos. 

Interessante sim, pelo lado informativo da história da NASA, numa época em que os direitos dos negros não eram ainda reconhecidos integralmente. Muito menos os direitos de igualdade de mulheres afro-americanas ligadas à engenharia. E vale também pela excelente interpretação de três excelentes actrizes que personficaram as três cientistas ao serviço da NASA.


O filme merceu a nomeação para Melhor Filme nos Oscars 2017, nos Bafta e nos Golden Globes 2017Venceu na mesma categoria nos prémios do Sindicato de Actores de Hollywood.





Hidden Figures
Theodore Melfi, 2016

As ac
trizes Taraji P. HensonOctavia Spencer e Janelle Monae levaram para casa o prémio de "desempenho excepcional de elenco num filme" atribuído  nos Screen Actors Guild Awards. Um troféu equivale ao Óscar de Melhor Filme. Merecido. Elas enchem o ecrã. De tal modo que actores como Kirsten Dunst, Kevin Costner quase se eclipsam.





Florence Foster Jenkins
Stephen Frears, 2016

Meryl Streep, solidamente brilhante e convincente na personagem de Florence Foster Jenkins, uma milionária 'socialite' da Nova Iorque do início do século XX, grande melómana, pianista-prodígio na juventude e benfeitora do mundo musical. Já o havia referido em Depois dos Golden Globes, vêm aí os Bafta 2017.

Filme biográfico, baseado na história de Florence Foster Jenkins, uma soprano amadora que, apesar da sua total e assustadora inabilidade vocal, se tornou figura musical de culto em Nova Iorque, nos anos 1920-1940. O historiador Stephen Pile considerou-a "the world's worst opera singer"

Viveu na ilusão – uma ilusão alimentada pelos que a rodeavam, fosse por amor, por consideração ou por interesse – de que era uma grande cantora lírica, quando, na verdade, desafinava indescritivelmente. 





Florence Forster Jenkins, 1937
créditos: Getty Images

Gravou discos pagos por si, deu um célebre recital no Carnegie Hall e tornou-se num fenómeno de culto ainda em vida. Uma anti-diva na verdadeira acessão da palavra, mas discreta na sua vida pessoal.

Stephen Frears, renomado realizador de Ligações Perigosas, Philomena, ou The Queen, narra história de Florence Foster Jenkins em Florence, uma Diva Fora de Tom, interessando-se acima de tudo pela história humana, para lá da dimensão cómica e ridícula da personagem, enfatizando o tom patético e dramático. Frears filma a história desta anti-diva com meticuloso rigor dramático e uma assumida propensão para a comédia. Arrebator.

Meryl Streep personifica-a numa interpretação divinal. Streep/ Florence enche o ecrã. Ficamos magnetizados, apesar dos nossos ouvidos sofrerem os horrores da desafinação que nos é transmitida com humor, e certa ternura. Quase se pressente que Streep se diverte com a sua própria desafinação.







Florence Foster Jenkins
Stephen Frears, 2016

Hugh Grant está divinamente bem na figura do marido leal e protector de FlorenceGrant é surpreendente. Tem aqui o melhor momento da sua carreira.





Florence Foster Jenkins
Stephen Frears, 2016

Quanto a Simon Helberg, o 'Howard' de A Teoria do Big Bang, dá-lhes uma réplica impecável, na figura do tímido, mas bem-humorado pianista acompanhante de Florence em concertos.






Mais uma 'história verdadeira' como conto moral e com espaço amplo para a interpretação fabulosa de uma actriz, a espantosa Meryl Streep, que faz questão de ser ela própria a desafinar.

Meryl Streep, que parece fazer tudo isto sem esforço, com a naturalidade do respirar, teve aqui a sua 20ª nomeação para os Oscars 2017, na categoria de Melhor Actriz







Sufragette
Sarah Gravon, 2015

Quanto ao filme As Sufragistas, já me debrucei sobre ele, neste blog. Se quiseram rever ou ler. Não poderia deixá-lo fora desta curta mais imensa lista de excelentes filmes que retratam mulheres.

(...)
Nós queremos ser mulheres
livres, felizes, amadas
sem a desgraça amarrada
Maria Teresa Horta, 8 de Março de 2017

G-S 

Fragmentos Culturais

16.03.2017
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