quinta-feira, 28 de março de 2013

Páscoa, um tempo que nos toca




créditos: Oficina do Livro

Mil são as espécies de homens, e mil os seus hábitos. Cada um tem seu próprio querer, e vive com um sentimento que nem todos partilham." (...)

Nuno Júdice, Relendo Pérsio


Pensava, há pouco mais de uma semana, que queria voltar a escrever. Falta de tempo, acreditava. Numa primeira fase, até foi a falta de tempo. E a ausência do país. 

Não, não vi rostos tão tristes como os nossos. Mas vi muita pobreza na rua, tanta ou mais do que nas nossas ruas. E uma pobreza mais abandonada.

De regresso, senti um impulso imenso de escrever. Tinha assuntos culturais para partilhar, ideias para expressar. Mas atravessava os dias inundados de chuva, um a um, e acabei por me deixar afundar na falta de cor de uma primavera ausente. Nem os pássaros se atreviam a aproximar.

O inverno não é só uma ideia, é um sentimento que se vai alastrando pelo coração da Humanidade.

As linhas da natureza não são nítidas. O inverno prolonga-se. Não se ouvem os pássaros, não se vêem flores. 

Espreito com intensidade o calendário. Nada! Nada respira a primavera. Só o desconforto do céu que chora em desespero. 

"Pai, porque não vens atrás de mim?"
Mas do céu ninguém lhe responde.

Nuno Júdice, Cristo anónimo

Não! Não tenho uma visão negra do mundo. Nem vejo a Fé como fronteira entre os homens. As religiões, sim. Fé não! 

E é como se nunca mais ninguém te esperasse,
ó deus que dormes numa vigília de humanidade,
ó homem que despertas num canto da eternidade.

Nuno Júdice, Cristo morto

Sem deixar para trás as tristezas - não desaparecem em segundos - olhemos em volta. E tentemos alterar um pouco o rumo do mundo, nem que seja num singelo gesto, um sorriso que se desprende, uma mão que se abre.



créditos: Matt Cardy | Getty Images
https://www.news.yahoo.com/

A Primavera desponta? Quem sabe? Não a enxerguei ainda, nestes dias de noites frias, e manhãs brumosas que transmutam a paisagem da alma daqueles que teimam em andar em frente. 

Não há lacunas ocultadas. Feridas esparsas algumas, que sustentam o edifício com janelas - os afectos - por onde a luz, os sons, os sentimentos, apesar de frágeis, entram e se desdobram num gesto solidário que cremos ser capazes.

G-S
Fragmentos culturais
30.03. 2013
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*Referências:
Excertos de poemas in Nuno Júdice, Cartografia de Emoções, 
Publicações Dom Quixote, 2001

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher 2013




Natacha Régnier: Peur



Mathilda May: Tabou



Sylvie Testud: Humiliation



Cécile Cassel: Désespoir

A fotógrafa Carole Mathieu Castelli expõe A Travers Elles sob o tema do Dia Internacional da Mulher uma série de fotografias pouco comum. 

Já em 2010, Catherine Cabrol mostrou as suas fotografias na exposição "Violence contre les femmes : le Parlement européen s’engage", que teve lugar no Parlamento Europeu. 

Depois do sucesso da sua primeira exposição de fotografias "Corporelles" a favor da associação "Enfants du Désert", Carole Mathieu Castelli prossegue o seu trabalho 'engagé' e artístico  com o projecto "À Travers Elles".
À Travers Elles é uma exposição engagée de fotos em que grandes actrizes interpretam o percurso de Mulheres Vítimas de Violência, a favor da Fédération Nationale Solidarité Femmes, réseau de associações empenhadas na luta contra a violência conjugal em França.
Outras emoções como Isolement, Résignation, Déclic ou Réslience fazem parte da exposição.

Num mundo onde 90% são homens, eis duas mulheres fotógrafas que se impõem pela estética da sua arte.

Meu tributo a mulheres vítimas de maus tratos.
G-S

Fragmentos Culturais

08.03.2013
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Créditos: Fotografia Carole Mathieu Castelli

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