terça-feira, 27 de novembro de 2007

A Mário Cesariny





Figuras de Sopro
Mário Cesariny, 1947


sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra
configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra (...)


Mário Cesariny, Autografia, Assírio & Alvim


Poeta e artista surrealista, não é dos preferidos. Mas venero-o pela inovação, pela subversão inquebrantável perante dogmas, constante rebeldia, na arte e na vida, e pelo sentido de humor, mesmo nos momentos finais da sua vida

(...)

Acredita na imortalidade?
Não sei. Quando lá chegar, eu telefono (risos)...


Mário Cesariny, última entrevista a Vladimiro Nunes







Autografia
Miguel Gonçalves, 2004

Atlanta Filmes
https://www.rtp.pt/

"Com este documentário pretende-se retratar não o poeta e pintor Mário Cesariny mas sim a sua vida, o seu percurso e a sua individualidade. Como espaço de acção privilegiou-se o seu quarto, por ser este actualmente a base da sua criação e da sua intimidade. É aqui que resiste tudo o que não se perdeu."

Miguel Gonçalves Mendes, Verso de
Autografia, 2004






Mario Cesariny
Arte Lisboa 2006
via Triplov


(...) E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou

em franca ascensão para ti O Magnifico

na cama no espaço duma pedra em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais
nem
lágrimas à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu
partido de manhã encontrado perdido entre
lagos de incêndio e o teu retrato grande!

Mário Cesariny, Autografia, Pena Capital, Assírio & Alvim


Em 2005, Cesariny aceitou o Prémio Vida Literária da APE


G-S


Fragmentos Culturais

27.11.2007
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domingo, 25 de novembro de 2007

Dia Internacional para Eliminação da Violência contra as Mulheres






Stop Domestic Violence against Women
http://www.coe.int

Por sendas oblíqüas,
violência urbana
violência doméstica.
Delitos, impunidade e dor,
na penumbra das cidades.

Andréa Motta, 30.11.2004



Um dos objectivos da campanha do Conselho da Europa tem como lema:

"Tudo começa com um grito e nunca deve acabar num grande silêncio".


G-S

Fragmentos de solidariedade

25.11.2007

Copyright © 2007-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®

domingo, 18 de novembro de 2007

É tempo de mudar!





Farjana Khan Godhuly/AFP/Getty Images






Abir Abdullalh/EPA 2007
https://static.guim.co.uk/Guardian


"Que frios os lugares onde se nasce e morre."



Agustina Bessa-Luís, Aforismos
Guimarães Editores, 1988, 1ª edição

Segundo dados oficiais, mais de 2,200 mil pessoas morreram e muitas centenas ficaram sem casa, devido ao mais devastador ciclone já ocorrido no Bangladesh!

Mulheres, homens, crianças, indefesos, resignados, habitando um dos países mais pobres do mundo, são atingidos na sua mortalidade, sem tempo de instintiva reacção de defesa.

O Mundo não pára só para olhar! Une-se numa missão humanitária de solidariedade, sem barreiras nem fronteiras.

É tempo de reflexão, de mudança, de interioridade!

"Os povos mais ricos de autoridade vital são os que desprezam mais assombradamente as coisas amenas e os que nunca cantam a vida - celebram-na, mas não a cantam."

Agusina Bessa-Luís, Aforismos
Guimarães Editores, 1988, 1ª edição

G-S

Fragmentos de sentires, Sacrifice, Lisa Gerrard & Pieter Bourke


18.11.2007


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domingo, 11 de novembro de 2007

Memórias com Agustina Bessa-Luís !







Agustina Bessa Luís
créditos: Autor não identificado
via Fundação Calouste Gulbenkian


"Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Escrever é corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida."


Agustina Bessa-Luís, 'Contemplação Carinhosa da Angústia


Conheci a escritora numa das livrarias Bertrand da cidade! Muitas vezes, em final de tarde, depois de um dia cansativo, vagueio pelos espaços de livreiros recatados. Aí, os livros dispostos em mesas e estantes, soltam um fascínio aliciante. Serenidade.

Sentindo o odor das folhas que se soltam a cada gesto lento de dedos, curiosos, tacteando o papel, divago entre palavras e paisagens de escritores. Como que buscando minhas próprias litanias, sem tempos nem distâncias.






Agustina Bessa Luís
créditos: Autor não identificado
http://www.uc.pt/noticias/


Nesse dia, estava distraidamente embrenhada no prazer inestimável da companhia e sabedoria dos livros, quando dei pela presença, mesmo ao meu lado, de uma senhora muito discreta que me sorriu! Reconheci de imediato. Agustina Bessa-Luís. Uma das escritoras portuguesas que mais admiro e leio. Sorri também, partilhando aquele gosto de estar ao lado de Agustina.






A Sibila
Agustina Bessa Luís
Guimarães editores, 1954

Andava naquela altura a dar (numa perspectiva académica) o seu romance A Sibila (1954, 1ª edição). Prezo as primeiras edições pelo amor que dedico aos livros e à literatura.

"Em literatura, como na arte, precisamos de ter dois gostos, um gosto pessoal que escolha os nossos prazeres, os livros e os quadros de que nos cercamos, e um gosto histórico que sirva os nossos estudos... "

Gustave Lansen




~


Agustina Bessa Luís
António José de Almeida
 - Documentário Biográfico (2007)

Trocámos impressões sobre a sua obra. Fascinada, escutava, bebendo as palavras que a escritora, em tom coloquial e muito afável, ia trocando comigo, num dos poucos recantos da livraria, já que o espaço era pequeno. 


Ouvia encantada com profunda admiração, a simplicidade desta excelente contadora de histórias, aproveitando com veneração a magia do instante.

No final, afoitei-me a pedir-lhe se poderia vir trocar impressões, numa conversa informal, com outros leitores que estudavam comigo a sua obra.


Anuiu com a mesma amistosidade E deu-me o seu contacto telefónico. Fiquei de lhe ligar dois ou três dias depois.







Vento, Areia e Amoras Bravas
Agustina Bessa Luís
Guimarães editores, 1990

Mesmo antes de nos despedirmos, não resisti a estender-lhe com delicadeza o seu livro de memórias Vento, Areia e Amoras Bravas (1990) solicitando que o autografasse. É um livro relacionado com memórias da minha infância.

Agustina tirou da carteira a sua caneta de tinta permanente e escreveu uma dedicatória muito afectuosa. Quando Agustina se retirou, apertei o livro contra o coração. Meus pais, invisíveis, sorriram. Um momento inesquecível!





A Sibila
Agustina Bessa Luís
Guimarães editores



Mais tarde, talvez uma semana, fui a sua casa, como amavelmente me convidara, num gesto de amistosa cordialidade. Conversámos sobre  o "Encontro com Agustina Bessa-Luís - A Literatura e o Descritivo na Música", a sessão/aula que teria lugar na Escola Vocacional de Música, em 1996. 





Agustina Bessa Luís
créditos: Ricardo Meireles
via Máxima/Cultura

Teve tempo então para passear comigo pelo seu jardim, enquanto continuávamos a conversar, e me falava sobre a sua casa, o seu jardim, local de inspiração. E as suas vivências nesse espaço.

Ainda hoje, recordámos todos, a encantadora palestrante, a sua invulgar erudição a par de um discurso coloquial narrativo de grande singeleza.







“A Agustina é uma romancista caótica. É alguém para quem o romance não é apenas uma história bem contada, mas é também uma forma de interrogar o mundo. E, portanto, não há regras estabelecidas à partida”, afirma o jornalista e escritor Pedro Mexia. “Um romance é o que se quiser. E isso perturba alguns leitores. Os que gostam, gostam muito.”






Agustina Bessa-Luís [1922-2019]
créditos: Daniel Rodrigues
via Expresso/ Cultura

"Agustina Bessa-Luís vive numa casa senhorial, implantada no coração do Porto Romântico, no alto da encosta que nasce no Campo Alegre e desagua no rio Douro. É um mundo fechado à cidade que devora todos os dias os sinais de um passado que povoa as páginas da sua obra e descaracteriza a cidade de Camilo, de Raúl Brandão, de Ramalho Ortigão, da própria Agustina.


Escreve os seus livros à mão, com caneta de tinta permanente. E guarda as páginas originais, escritas numa letra redonda, numa pasta de couro. A escrita é a sua vida. Sem aquela casa, Agustina Bessa-Luís era outra escritora. Sem as neblinas do Douro, a sua obra não seria tão luminosa."

SPA Autores


Retrato pintado de palavras. Tal como Agustina partilhara comigo. A casa linda! Um jardim perfeito sobre o rio Douro. 

A escritora partilhou comigo esse espaço recatado, naquela tarde que guardo na memória dos afectos.





Agustina : Vida e Obra
Exposição Biblioteca Almeida Garrett, 2015


A Ronda da Noite foi o penúltimo livro que li de Agustina Bessa-Luís. Desta vez,  em tempos de lazer. Corria Agosto. Acompanhou-me diariamente nesse mês de verão! E foi o último magistral romance de Agustina.

Um quadro de Rembrandt e a sua
interpretação levam Agustina a elaborar uma requintada narrativa. A
 história ficcionada da família Nabasco, seus amores e dramas, suas vivências, a par da presença indelével das personagens presentes na tela de Rembrandt, cujo título, Agustina colocou na sua obra, Ronda da Noite.






A Ronda da Noite
Agustina Bessa Luís
Guimarães Editores, 2006

"Às vezes, enquanto descia as escadas,Maria Rosa ia olhar para a e, apoiada à sua bengala, olhava para Saskia vendo nela parecenças com Margô. 'Era destas mulheres em que não se apaga o pecado original', pensava. No fundo, são precisas cem vidas para ajuizar duma pessoa..."

Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite, Guimarães Editores, 2006
 





O Livro de Agustina
uma autobiografia
Guerra e Paz editores, 2014

Descobri há duas semanas O Livro de Agustina Bessa-Luís - 85 anos de Agustina - uma obra de carácter biográfico. E li.

Não resisto a deixar aqui as palavras que o encerram...

Disse para comigo: "Estou num lugar, numa hora, numa vida que não me são desconhecidos". É esse entendimento de que a nossa vida é repetição e pode ser corrigida a ponto de produzir uma forma de profecia, aquilo que nos abençoa e protege e alegra. Fazendo com que o sofrimento tenha sentido no mundo."

O Livro de Agustina Bessa-Luís
, Guerra e Paz Editores, 2007





Retrato de Agustina
Aguarela de Alberto Luís, 1973 (?)
via Expresso/ Cultura

Mas hoje, dia 3 de Junho 2019, Agustina morreu. E a cidade esmoreceu. A escritora que amava o Porto, cerrou os olhos, levando neles as memórias do burgo. Os lindos Caminhos Românticos que passam à sua porta ganharam mais luz. 

O rio Douro embalou-a.





Agustina Bessa-Luís
créditos: Autor não identificado
via Sábado/ Cultura


“Penso que tenho a escrita como um dom que tenho o dever de valorizar e cultivar da melhor maneira que consigo. Procuro explorar esse dom, de uma forma constante e renovada sempre com o mesmo empenhamento.”


Agustina Bessa-Luís
in entrevista Ensino Magazine Online (Setembro, 2001)


As suas palavras tenho-as, por companhia. 


G-S 


memórias literárias
©texto original

Fragmentos Culturais


11.11.2007

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domingo, 4 de novembro de 2007

Paula Rego [1935-2022] : Retrospectiva Paula Rego no Museo Reina Sofia 2007






Paula Rego, 2004
Créditos: Getty Images


"Pintar é (um acto) prático mas também mágico. Estar no meu estúdio é como estar dentro do meu próprio teatro”

Paula Rego




Dancing Ostriches 3 (1995)
http://library.thinkquest.org/

Está a decorrer no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, a mais importante Exposição de Paulo Rego dos últimos anos.



Paula Rego, Madrid 2007
créditos: Expresso/Autor não identificado
via Expresso

"Paula Rego (Lisboa, 1935) es una de las pintoras figurativas más relevantes de la escena internacional. Su producción artística está enraizada en experiencias y recuerdos personales, en siniestras fantasías y en la historia del arte y la literatura. A principios de la década de 1950 se traslada a Inglaterra para estudiar en la Slade School of Fine Art y adopta Londres como ciudad de residencia principal."


Paula Rego afirma que as suas maiores influências são James Ensor, Bordalo Pinheiro e Goya. A a sua fabulosa obra estará então bem próximo das muitas obras de Goya expostas no museu ao lado, Museo del Prado.


Duas centenas de pinturas, desenhos e gravuras integram a Exposição de Paula Rego. É a maior e mais completa mostra retrospectiva da pintora já apresentada em Espanha e uma das mais importantes realizadas nos últimos anos.

A exposição é comissariada pelo historiador Marco Livingston e estará patente até ao dia 30 de Dezembro 2007.

As obras apresentadas, algumas das quais pela primeira vez, percorrem os 52 anos da carreira de Paula Rego. São 90 quadros, 60 desenhos e 70 gravuras.



"A sua obra artística - lê-se ainda - está enraizada em experiências e recordações pessoais, em perversas fantasias e na história da arte e da literatura". *




The blue fairy whispers to Pinochio


"Mis cuadros son fábulas con un lado cómico y otro trágico" é o título da entrevista  a Paula Rego, publicada no jornal espanhol El Pais, em 22 Setembro 2007.





"La pintora portuguesa residente en Londres Paula Rego es una de las figuras más relevantes de la actualidad, con un mundo poblado por personajes extraños y escenas perturbadoras. La próxima semana el Museo Reina Sofía de Madrid le dedica una retrospectiva." (...)


El País/ Arte y Feminismo






Swallows the Poisoned Apple (1995)
Paula Rego
https://www.wikiart.org/en/paula-rego/

"Ela é uma das artistas mais humanas que ainda vivem. O seu trabalho toca muito e, a esse nível, mesmo pessoas normais que não estejam muito por dentro da história da arte ou da arte contemporânea vão sentir-se cativadas e até envolvidas pelas fantásticas narrativas e pelo imaginário por trás dos seus trabalhos."

Marco Livingstone, comissário e historiador
in Público, 01.08.2007

A exposição seguirá, no início do ano, para o Museum of Women in the Arts, em Washington, onde estará patente entre Fevereiro e Maio de 2008.



G-S

Fragmentos Culturais*

04.11.2007
actualizado 09.06.2022
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** A selecção das obras é pessoal e não se prende com a temática da Retrospectiva.