Mário Laginha | Bernardo Sassetti
www.casadamusica.pt
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Ainda tenho os ouvidos presos, impregnados daquelas sonoridades soltas, misto de alegria e melancolia originários do cruzamento destes dois excelentes músicos e pianistas. Trata-se do concerto de ontem à noite, dia 25 de Julho, na Casa da Música.
Na belíssima sala que tem o nome da violoncelista Guilhermina Suggia, as pessoas aguardavam, com curiosidade serena, ouvir a obra inédita. A sala estava praticamente cheia. Mais uma vez o espaço do coro foi aberto. Eu gosto de lá ficar quando se trata de um concerto de piano solo. Dá-nos uma dimensão muito intimista com os solistas, já que bem de perto os admiramos e podemos seguir com maior recolhimento a arte de tocar piano. No entanto, não foi aí que me sentei.
Casa da Música Na belíssima sala que tem o nome da violoncelista Guilhermina Suggia, as pessoas aguardavam, com curiosidade serena, ouvir a obra inédita. A sala estava praticamente cheia. Mais uma vez o espaço do coro foi aberto. Eu gosto de lá ficar quando se trata de um concerto de piano solo. Dá-nos uma dimensão muito intimista com os solistas, já que bem de perto os admiramos e podemos seguir com maior recolhimento a arte de tocar piano. No entanto, não foi aí que me sentei.
créditos: AP
britanica.com
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Para mim, uma sala de concerto é lugar de culto. Aí perpassa um ritual. Essa mística que vai de uma plateia na penumbra, silenciada, para um palco minimalista onde as silhuetas dos concertistas se destacam com grande simplicidade, é de grande partilha.
Não foi diferente desta vez! Os dois músicos solistas fizeram sua entrada no palco, e durante mais de duas horas, encheram a sala de sonoridades portuguesas tocadas em ritmos de jazz numa miscigenação estética de enorme originalidade.
Não foi diferente desta vez! Os dois músicos solistas fizeram sua entrada no palco, e durante mais de duas horas, encheram a sala de sonoridades portuguesas tocadas em ritmos de jazz numa miscigenação estética de enorme originalidade.
Mário Laginha e Bernardo Sassetti estrearam com mestria e muita sensibilidade a obra inédita "Trago Fado nos Sentidos", encomendada pela Casa da Música para integrar o ciclo de homenagem a Amália Rodrigues, na passagem dos 10 anos da morte da fadista.
"A música de Mário Laginha e Bernardo Sassetti tem-se cruzado frequentemente em mundos tão diversos como o jazz, a música clássica ou as canções de José Afonso. Desde que tocaram juntos pela primeira vez há quase uma década, têm sido vários os pretextos para novos encontros entre os dois músicos. O fado não é estranho à dupla, tendo já originado novas composições, arranjos e reinterpretações, e é o mote para este concerto dedicado à memória de Amália Rodrigues, dez anos depois da sua morte."
Que me perdoem os admiradores de Amália e do fado! Mas não sou apreciadora do fado, canção nacional representativa do país! Embora reconheça que Amália fez muito por Portugal, e que foi ovacionada nos quatro cantos do mundo, tendo cantado nas melhores salas de música.
Em contrapartida, o jazz é a música que tem tudo a ver comigo! Identifica-se com o meu universo pessoal.
Em contrapartida, o jazz é a música que tem tudo a ver comigo! Identifica-se com o meu universo pessoal.
Mario Laginha
via Público
Mas, aos primeiros acordes, quedei-me, ouvido atento em completa quietude, captando os sons que se desprendiam dos dois majestosos pianos de cauda. Serenidade, graciosidade, ouvia-se em touches ora suaves ora velozes que se espalhavam pela sala.
Foi incontestável a riqueza tímbrica destes dois enormes vultos da música de jazz, numa fusão cuidada, plena de cambiantes rasgados que iam das sonoridades mais extrovertidas às tendências mais intimistas
Partindo de alguns fados celebrizados por Amália, Laginha e Sassetti construíram paisagens surpreendentes, genuinamente portuguesas, bem ao ritmo do jazz.
Houve momentos muito belos! Recordo ao acaso, o fado menor, impregnado de melancolia ou a morna esfuziante de ritmo!
E todos nós espectadores|ouvintes colocados em espaços distintos, mas usufruindo das mesmas emoções, nos deixámos enlear por tão forte expressão de afectos atirados em música, como rosas perfumadas de mil tonalidades para Amália.
E depois, aquela cumplicidade envolvente de tocar juntos que deixaram transparecer, estendendo a sua criatividade muito para além das fronteiras do jazz, saltava para o público num jogo feito de espontaneidade e prazerosa alegria.
Os músicos tornaram ainda mais rico este momento de jazz que por ser feito de improviso, terminou em cadências de blues, num encore a quatro mãos, divertido, quase pueril, como quem brinca com os sons resgatados a um piano pleno de magia!
Um deslumbrado encantamento para o sentir! E para o olhar! Uma noite linda!
G-S
Fragmentos Culturais
27.07.2009
Copyright © 2009-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
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