sábado, 23 de abril de 2022

Dia Mundial do Livro : Agustina Bessa-Luís & José Saramago : livros

 




Dia Mundial do Livro
créditos: DR

"E eu aprendi, com os gregos, com os romanos, com os judeus, com os árabes, com os orientais e com os ocidentais, que aprender e ensinar são uma coisa só, quem não ensina não aprende, e que não aprende quem não ensina."

Charles Kiefer


Este é o dia de todos os autores, de todos os livros, de todas as línguas e de todas as nacionalidades, E de todos os leitores !


No Dia Mundial do Livro vou lembrar que 2022 é ano do Centenário de dois grandes escritores portugueses. Celebram-se o Centenário de Agustina Bessa-Luís e o Centenário de José Saramago. Dois enormes autores da Língua portuguesa.





No Universo de Agustina
Universidade do Minho


O Centenário de Agustina Bessa-Luis teve para pouca divulgação, o que considero uma falha grave. Não fora o início que a U. Minho assinalou no dia 21 Abril passado, com uma mesa temática e o Leitorado de Português na Universidade do Luxemburgo




Mesa temática
José Manuel Mendes. filha e neta da autora
Apresentação Centenário Agustina Bessa-Luís

Voltemos à U. Minho, uma mesa temática deu início às celebrações que vão acontecer ao longo do ano.

2022, ano em que se comemora o Centenário do Nascimento de Agustina Bessa-Luís, nascida a 15 de Outubro 1922, a Universidade do Minho (U.Minho) e a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS) dão início a uma série de iniciativas que relembram o trabalho e o percurso literário da grande escritora



Agustina
créditos: 

2004

© Adelino Meireles/Global Imagens

via DN






A primeira sessão, uma mesa temática moderada por José Manuel Mendes e que se intitulou No universo de Agustina: nasci adulta e morrerei criança, contou com a presença da filha e neta de Agustina, Mónica Baldaque e Lourença Baldaque. A iniciativa aconteceu quinta-feira, dia 21 de Abril, às 18h00, na Galeria do Paço, em Braga.





Ensaios e Artigos (1951-2007, vol. II
Agustina Bessa-Luís
Recolha e Organização de Mónica Baldaque
Fundação Calouste Gulbenkian

No início Abril 2022, o Centro Cultural Português e o Leitorado de Português na Université du Luxembourg assinalaram, também, o Centenário de Agustina com uma palestra "Agustina Bessa-Luís e as Mulheres" que teve duas sessões, em Português e em Francês, e que aconteceram, no Centro Camões - Centro Cultural Português e no campus universitário de Belval, Luxemburgo.






Agustina Bessa-Luís et les Femmes
Centro Camões, Luxemburgo


A palestra pretendeu explorar a forma como as mulheres são percepcionadas e representadas na vida e obra da escritora. Contou com a presença de Catherine Dumas, professora emérita de Língua e Literatura Portuguesas na Sorbonne Nouvelle, Paris 3, autora de uma tese de doutoramento e de um livro sobre Agustina Bessa-Luís.




Estética e Personagens
Catherine Dumas


Só estas duas instituições relembraram, para já, o Centenário de Agustina. Mas mais tarde, o centro dinamizador, foi sem dúvida Aa C.M. Amarante, bem como a C.M. Porto





Vida e Obra de Agustina Bessa-Luís
Biblioteca Pública do Porto
crédito: DR


Já José Saramago está a celebrar o Centenário desde 16 de Novembro 2021. Saramago nasceu a 16 de Novembro 1922.






https://www.josesaramago.org/


“Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida”.

José Saramago in palestra “Literatura e poder. Luzes e sombras”, Universidade Carlos III, Madrid, 19 de janeiro de 2004 


"Assinala-se a 16 de Novembro de 2022 o Centenário de José Saramago. Tal como em circunstâncias semelhantes acontece com outros grandes vultos, a efeméride constituirá uma oportunidade privilegiada para a consolidação da presença do escritor na história cultural e literária, em Portugal e no estrangeiro."

Fundação José Saramago

Conheça o programa do Centenário.




“que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia”

Nobel Prize, 1998

José Saramago, único escritor português a ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, facto que lhe deu uma projecção mundial. Claramente. 

Agustina era mais circunscrita ao mundo em que viveu. A projecção internacional de alguns dos seus grandes romances veio com a adaptação ao cinema por Manoel de Oliveira.




Agustina e Manoel de Oliveira
créditos: Autor não identificado
via Mundo do Cinema

Agustina foi um 'génio'. Autora de uma imensa obra literária. Os seus livros têm um vasto público de leitores, admiradores, e estudiosos.

Voltarei a estes dois enormes vultos da literatura portuguesa, mais tarde. Hoje celebro os seus livros neste Dia Mundial do Livro com dois ou três excertos de obras suas.





Memorial do Convento
José Saramago
Editorial Caminho, 1982

"Se a música pode ser tão excelente mestre da argumentação, quero já ser músico e não pregador, Fico obrigado pelo cumprimento, mas quisera eu, senhor padre Bartolomeu de Gusmão, que a minha música fosse um dia capaz de expor, contrapor e concluir como fazem sermão e discurso, Ainda que, reparando bem no que se diz e como, senhor Scarlatti, se exponham e contraponham, as mais das vezes, fumo e nevoeiro, e se conclua coisa nenhuma. A isto não respondeu o música, e o padre rematou, Todo o pregador honesto o sente quando baixa do púlpito. Disse o italiano, encolhendo os ombros, Fica o silêncio depois da música e depois do sermão, que importa que se louve o sermão e aplauda a música, talvez só o silêncio exista verdadeiramente." 

in Memorial do Convento

José Saramago,1982

Traduzido em mais de 20 línguas, a obra conta com mais de 50 edições.

Memorial do Convento inspirou a ópera Blimunda, de Azio Corgi, criada no Scala de Milão em 1990




Vale Abraão
Agustina Bessa-Luís, 1991
Guimarães Editores

A recriação de uma Madame Bovary, destinada a servir de guião para um filme de Manoel de Oliveira, trouxe à autora a necessidade de descobrir a natureza flaubertiana que concebeu Emma Bovay, a Bovarinha. e a tomou como seu espelho. 

Apesar de de ter lido Madame Bovary de Gustave Flaubert, e Vale Abrãao de Agustina, para além de muitos outros de seus livros, nao vou tecer considerações literárias, dado que não é esse o objectivo desta publicação.




Vale Abraão, adatação cinematográfica
Manoel de Oliveira, 1993
Quinzaine des Réalisateurs
Festival de Cannes 1993


“Uma coisa Ema apreciava na casa de Vale Abraão: a varanda. Dizem que a varanda é uma palavra celta, que significa barreira. Talvez seja. Não se sabe porque teve tão alto crédito na arquitectura rural e urbana. É uma espécie de ventre que se projecta sobre a rua; é uma demonstração de poder e afectação de desejos. Serve para cortejar o mundo e dar prova das condições do indivíduo, comparando-o ao imaginário em que a sociedade cresce e perdura.
A varanda, tanto permite o olhar que avalia, até ser pecaminoso (…), como serve de recreio às mulheres demasiado fechadas e consumidas de obrigações. A varanda é mais sensual do que licenciosa. É um lugar de aprazível pausa; enquanto que a reixa é uma forma de confessionário e um obstáculo permissivo dos apetites.”

in O Vale Abraão, Agustina Bessa-Luís, 1991



A Sibila
Agustina Bessa-Luís
Guimaráes Editores, 2º edição, 1956


Agustina Bessa-Luís teve o talento de nos escutar na profundidade da nossa alma, transformando em palavras coisas que sentimos mas não conseguimos descrever. Sibila é o seu romance de maior interioridade, talvez.





Mural de Homenagem de Agustina
Faculdade de Letras do Porto
via Relógio d'Água


"Escrever uma página inspirada não acontece todos os dias. Às vezes movemos o pensamento pelos atribulados caminhos do doméstico, que corrompem a subtileza e a graça; outras vezes pomos na cabeça o nosso gorro sábio, e resulta uma enfadonha tabuada de sentimentos." 


Agustina Bessa-Luís, 1966 


G-S

23.04.2022

actualizado 23.04.2024

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segunda-feira, 18 de abril de 2022

Tributo a Madelena Sá e Costa, violoncelista e pedagoga !

 




Madalena Sá e Costa
créditos: Arquivo da Família Sá e Costa

" Nasci no mundo da música e fui violoncelista e professora."

Madalena Sá e Costa, Memórias e Recordações, 2008

A violoncelista Madalena Sá e Costa morreu neste dia. Violoncelista e pedagoga, foi discípula de Guilhermina Suggia. Nasceu numa família  muito ligada à música.  Foi distinguida com diferentes prémios ao longo da sua carreia. Grande amiga de Hélia Soveral.




Guilhermina Suggia
créditos: Hemeroteca Digital Municipal de Lisboa

Neta do violinista e fundador do Orpheon Portuense, também primeiro director do Conservatório de Música do Porto, Bernardo Moreira de Sá. Filha do compositor Luiz Ferreira da Costa, mais conhecido como Luiz Costa, e da pianista Leonilda Moreira de Sá e Costa.




Madalena e Helena Sá e Costa
créditos: Arquivo da Família Sá e Costa

Madalena Sá e Costa formou com a irmã, a pianista Helena Sá e Costa (1913-2006), uma dupla de intérpretes e peadgogas que marcou a cena musical do Porto e do país. Amiga de infância de Hélia Soveral, que foi aluna de Luiz Costa, e  igualmente professora de renome do antigo Conservatório de Música do Porto na mesma época que Madalena Sá e Costa.




Antigo Conservatório de Música do Porto
Palacete dos Viscondes de Vilarinho
via Google Images

"Quando nasci, creio que se ouvia música por toda a casa", escreveu, em 2008, no livro de “Memórias e Recordações”.

Madalena Sá e Costa Memórias e Recordações, 2008

Nascida no Porto em 20 de Novembro de 1915, Madalena Sá e Costa estreou-se aos 19 anos no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, tendo completado o conservatório em 1940 e concluído a sua formação musical com Paul Grümmer, Sandor Végh e Pablo Casals, entre outros.




Madalena Sá e Costa
créditos: DR
via Sábado

"O primeiro instrumento que toquei foi o violino. O meu avô tinha um ‘Guadagnini' e, quando ia almoçar a casa dele, fugia para a sala onde estava guardado esse violino e tocava umas notas. Às vezes, punha-o entre os joelhos e tocava-o na posição de violoncelo”,

Madalena Sá e Costa, Memórias e Recordações, 2008

Quando os pais lhe perguntaram se queria estudar um instrumento e, qual seria, respondeu violoncelo por influência de Guilhermina Suggia com quem os pais tocavam.

"Meus pais eram grandes pianistas. (...) deram concertos com artistas da craveira de George Ernesco, Guilhermina SuggiaPablo Casals, entre outros."

Antes, em 1935, por iniciativa do pianista alemão Edwin Fischer, Madalena Sá e Costa e a irmã frequentaram os cursos de música em Potsdam e actuaram, em trio com Fischer, na Alemanha, França e Bélgica.




Madalena Sá e Costa aos 101 anos
créditos: Catarina Furtado
via Glosas

Foi professora no antigo Conservatório de Música do Porto e no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga.

Formou dezenas de gerações de músicos. Um dos seus alunos, o violoncelista e professor Paulo Gaio Lima que morreu prematuramente em 2021.

Ao longo de uma carreira em que trabalhou com maestros como Pedro de Freitas Branco ou Frederico de Freitas, sua irmã Helena Sá e Costa. Recebeu, entre outros, os prémios Orpheon Portuense (1939), Emissora Nacional (1943), Morrisson, da Fundação Harriet Cohen (1958), Guilhermina Suggia/Secretariado Nacional de Informação (SNI), em 1966.



Madalena Sá e Costa
créditos: DR
via Sábado

A violoncelista tocou ainda em orquestras, sob a direcção dos maestros Ivo Cruz, Fritz Riegger, Jacques Pernood, Gunther Arglebe, Ferreira Lobo, Pedro Blanch e Silva Pereira

Fez parte da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (1966-84), da Orquestra Sinfónica do Porto (1970) e da Camerata Musical do Porto (1979-89).

O livro autobiográfico de Madalena Sá e Costa, encontrei um exemplar da 1ª edição (2008) na Feira do Livro do Porto 2021. num dos poucos alfarrabistas presentes. E fiquei feliz! Memórias da minha passagem pelo Conservatório de Música do Porto, como aluna da Professora Hélia SoveralAs duas eram muito amigas. E conviviam de muito perto com os alunos de ambas.


 





Memórias e Recordações
Madalena Sá e Costa
Clube do Autor

"Esta herança que de forma simples e cativante é narrada na primeira pessoa por Madalena Sá e Costa, na obra “Memórias e Recordações” musicais que é também acompanhada de uma preciosa iconografia, acumulada ao longo de três gerações." 

O livro, com nova edição de Glosas 13 (Novembro 2015), conta com um texto escrito pela própria homenageada, bem como alguns testemunhos iconográficos da maior importância seleccionados por Madalena de Sá e Costa, em particular um autógrafo inédito de Guilhermina Suggia


A edição de 2015 foi apresentada na Casa da Música, suponho que no 101º aniversário de Madalena Sá e Costa, contando com a presença da autora.

"Tive com grandes mestres da música, em piano, meus Pais, primeiro minha Mãe, aos cinco anos, e depois meu Pai. Em violoncelo, Augusto Suggia, e também. logo de princípio, Guilhermina Suggia. Mais tarde, em Berlim, o professor Paul     Grümmer."

Madalena Sá e Costa, Memórias e Recordações, 2008

G-S

Fragmentos Culturais

18.04.2022
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