Nicolau Breyner 1940-2016
créditos: Autor não identificado
via Jornal I
"Não tenho medo de morrer. Tenho é pena de deixar de viver."
Nicolau Breyner
Portugal estremeceu ontem, ao final da tarde, com a perda de Nicolau Breyner. Eu estremeci. Foi uma morte inesperada.
Por vezes, só nos apercebemos quão éfemera é a vida, ao vemos partir um daqueles seres que quase consideramos imortais.
Perdidos na inocência do tempo, crescemos a vê-los tão reais que achamos impossível o seu desaparecimento.
Nicolau partiu, mas deixou um percurso inimitável, de talento indescritível. E muita bondade que distribuiu por todos quantos cruzaram a sua vida.
Nicolau Breyner
créditos: Orlando Almeida/ Global Imagens
Pessoas como Nicolau Breyner percebem desde sempre que a vida é preciosa demais para ser vivida sem autenticidade. Viveu a vida de forma autêntica, amou com paixão, teve a capacidade de sonhar, de sorrir sempre, e fazer sorrir, de ousar reinventar.
Seres como Nicolau nascem sabendo que são predestinados para deixar uma obra de vida! E deixou. Era um homem muito generoso.
"Eu gosto que gostem de mim, é um facto. É um fraco que eu tenho, porque eu gosto muito das pessoas. Quero que me recordem com um sorriso, com carinho."
Nicolau Breyner, in Alta Definição
E suponho que conseguiu o que gostaria de atingir. Ser amado por todos. Desejo que tenha morrido serenamente. Merecia.
Nicolau Breyner & Maria do Céu Guerra
Joaquim & Rosa
Os Gatos Não Têm Vertigens
António Pedro Vasconcelos, 2014
Com aquela mesma serenidade que fez o papel de 'fantasma' no filme de António-Pedro de Vasconcelos, Os Gatos Não Têm Vertigens. Vi o filme no cinema. E mais tarde, revi com ternura, num dos canais de televisão, há poucos meses.
Nicolau Breyner tinha esse dom. A ternura, a serenidade com que interpretou a personagem Joaquim, o marido que morre, mas não se ausenta.
Interpretou o papel baseado na sua própria crença religiosa. De que há vida para além da vida.
Fui ver o filme, como já escrevi. E apesar de se dizer que Nicolau tinha um papel secundário, a sua presença inundou todo o filme. Desde o início, na sala de dança com Rosa, até ao momento final, o reencontro de Rosa e Joaquim, na mesma sala de dança, mas já em outra vida. Final comovedor. E muito ternurento.
Raramente perco um longa metragem de António-Pedro Vasconcelos. O realizador tem o dom de falar de temas sérios, dramáticos, dando-lhe um cunho de leveza, sem retirar nada aos dramas de vida que as suas histórias contam. Imprime aos seus filmes a utopia que todos desejamos para um mundo melhor.
É o caso de Os Gatos Não Têm Vertigens. E encontrou em Nicolau Breyner o actor ideal para personificar Joaquim.
Se ainda não viu, esteja atento porque vai certamente passar uma noite destas num dos canais de televisão. Em sinal de tributo
Combóio Nocturno para Lisboa
Billie August, 2013
Nicolau Breyner fez parte do elenco fabuloso no filme Combóio Nocturno para Lisboa. Contracenou com Jeremy Irons, Charlotte Rampling, entre outros.
A sua interpretação não deveu em nada aos actores com quem contracenou, apesar da sua intevenção curta.
Jeremy Irons, Billie August, Nicolau Breyner
Realizado por Billie August, o mesmo de A Casa dos Espíritos (1993), também filmado em Portugal.
Night Train to Lisbon
Pascal Mercier, 2007
Combóio Nocturno para Lisboa, é a adaptação cinematográfica do best-seller mundial homónimo, escrito em 2004 pelo suíço Peter Bieri, sob o pseudónimo Pascal Mercier. Escrevi sobre este filme em 2013.
Nicolau Breyner
créditos: Autor não identificado
via DN
"A missão do actor é simplesmente emocionar as pessoas. Levá-las ao riso ou às lágrimas. Fazer com que nos odeiem ou nos amem. Enfim.... É fazê-las sonhar. Quando isso acontece, a vossa missão está cumprida".
Nicolau Breyner, NB Academia
G-S
Fragmentos Culturais
15.03.2016
Copyright © 2016-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Há homens grandes e não pelas façanhas profissionais mas pelos quilates da formação humana. Que falta. A simplicidade e a generosidade parecem-me os melhores atributos entre tantos, em Nicolau! E depois digo sempre isto: mais do que homenagear, devemos sempre seguir os exemplos dos grandes.
ResponderEliminarUm beijo
(NB: Fui ver "Cavaleiro de Copas"!Há uma certa poesia, uma quase derivação existencial, com uma estética imagética, é quase um não-filme, mas gosto destas surpresas no meio alucinado dos enredos e da acção!)
Há homens grandes, sim! E como nos entristece a sua partida repentina :-(
ResponderEliminarQuase todos referem essas duas imensas qualidades em Nicolau, só possíveis num ser humano inteiro.
Sensibilizada pela tua presença amiga, Daniel! Sempre tão bom ler-te!
N.B. Não consegui ver 'Cavaleiro de Copas'. Apesar das críticas negativas (que em nada afectam as minhas escolhas), esteve muito pouco tempo em sala comercial.
Admiro profundamente Terrence Malick. E reunia três actores de quem sou fã incondicional (Christian Bale, Cate Blanchett e Natalie Portman).
Malick transmite sempre essa 'poesia existencial' numa derivação alargada para que seja o espectador a explorar... Quanto à 'estética da imagem' é seu apanágio, mesmo quando em 'alucinados enredos'.
Quem sabe, terei ainda a oportunidade de ver o filme em grande ecrã, numa reposição?
Um beijo