Intouchables
Olivier Nakache, Éric Toledano, 2011
Como gosto muito de cinema, voltemos a falar de cinema. Sugestões bem distintas. Vejamos.
Estava já atenta. Ouvira falar de Intouchables durante os César 2012 com a atribuição do prémio de Meilleur Acteur a Omar Sy. Depois disso, o sucesso tem acompanhado o filme em França e em muitos outros países. Os americanos compraram os direitos de autor para fazer um remake! Não será uma boa ideia!
Baseado na autobiografia de Philippe Pozzo di Borgo, um aristocrata francês (Corse) que aos quarenta e dois anos vê o seu futuro comprometido quando um acidente de parapente o deixa tetraplégico.
Deste acontecimento tão trágico, decorreu, no entanto, o encontro 'improvável' entre Philippe e Abdel, um jovem rebelde dos subúrbios de Paris que é contratado como auxiliar para cuidar de Philippe.
O que mais me atraía? O facto de ser baseado numa história verídica. Gosto de filmes baseados em factos de vida. E gosto muito de François Cluzet. Belíssimo actor.
Inspirados por esta história verídica, Olivier Nakache e Éric Toledano realizaram o filme Intouchables / Amigos Improváveis que conta com François Cluzet e Omar Sy nos principais papéis.
Traduzido como Amigos Improváveis, o filme conta a amizade entre um tetraplégico (François Cluzet) e um jovem marginal senegalês (Omar Sy) oriundo dos desafortunados subúrbios parisienses que se vê contratado, como que por um golpe de sorte, para cuidar do milionário paralisado.
Realizado por Eric Toledano e Olivier Nakache venceu o Grande Prémio Sakura do Tokyo Film Festival 2011.
Numa entrevista, os realizadores afirmaram pretender mostrar neste filme os dois lados da fragilidade humana, a fragilidade física e a fragilidade social, conferindo-lhe um excelente sentimento de entreajuda.
Resultado? Uma comédia dramática que nos desvenda o lado positivo da vida e que nos vai arrancando excelentes gargalhadas salpicadas de muita ternura.
Mais um filme sobre a força da amizade. Desta vez, a amizade e lealdade, abordadas entre o jovem Albert e o seu cavalo 'Joey'. E também baseado num livro. Facto que sempre relevo. War Horse de Michael Morpurgo, autor inglês, muito conceituado na literatura juvenil.
Cavalo de Guerra / War Horse explora o tema de uma forma belíssima, naquele jeito que só Steve Spielberg consegue imprimir, transformando a adaptação do livro homónimo Cavalo de Guerra de Michael Morpurgo (1982) numa verdadeira fábula cinematográfica.
Sim, uma fábula épica com seis nomeações nos Oscars 2012 uma delas a de 'Melhor Filme'. Valores como lealdade, tenacidade, esperança, são apresentados em belíssima panorâmica de uma Europa rural e bucólica, inserida no cenário caótico da Iª Guerra Mundial.
Forçados a separar-se, por falta de sustento familiar, o filme acompanha a jornada de 'Joey' na guerra até ao improvável reencontro com o seu jovem amigo Albert.
Spielberg tem como verdadeiro propósito, neste seu último filme, colocar em evidência ideais simples como bravura e amizade e uma forte sentimento anti-guerra que deixa transparecer em muitos dos diálogos e agumas cenas.
Magnífica banda sonora de John Williams, companheiro de Spielberg há quase 40 anos.
War Horse is a "Genuine Movie Masterpiece"
Rex Reed, The New York Observer
Vergonha / Shame, último filme de Steve McQueen, o artista plástico que deu o salto para o cinema com Hunger (2010) e agora Shame, tem Michael Fassbender de novo como actor.
Esta interpretação de Brandon, um nova-iorquino viciado em sexo que parece quebrar-se pelo próprio vício, valeu-lhe prémios e elogios, e acima de tudo confirma Fassbender como um actor fora do comum.
Fassbender tem-se desdobrado em papéis cada vez mais arriscados e diversificados, física e psicologicamente.
Gostei profundamente da sua interpretação como Carl Young em A Dangerous Method de David Cronemberg no papel de Carl Jung, fam0so psicanalista.
Vergonha foi muito bem recebido na maior parte dos Festivais de Cinema em que foi exibido. Recebeu distinções como a Taça Volpi para Melhor Actor, na última edição do Festival de Veneza 2011, prémios de 'Melhor Actor' e 'Melhor Realizador' no Seville European Film Festival, entre outras nomeações em competições importantes.
A Academia ignorou-o. Não foi nomeado para os Oscars 2012. Compreensível! Demasiado ousado. Um retrato forte. Trágico.
Poucos deram importância à tocante interpretação de Carey Mulligan no papel dramático da irmã suicida de Brandon. A sua interpretação na versão de New York New York é das mais belas que já ouvi.
G-S
Fragmentos Culturais
15.04.2012
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Já cá os tenho todos para ver...
ResponderEliminarTalvez comece pelo Cavalo de Guerra!
Beijos,
Boas escolhas. Ainda não vi nenhum, mas parece-me ser "Shame" o mais apelativo, para mim.
ResponderEliminaruma referência cultural importante. teus textos.
ResponderEliminarfazem falta filmes assim - que promovam valores "positivos"...
beijo
"War Horse" é um filme longo mas cativante e cujas abordagens podiam ser enésimas. São amizades como as que já não se valorizam ou encontram hoje, e também talvez por isso tivesse despertado em Holyywood e seus oscares a necessidade de nos lembrarmos de que somos, afinal, feitos.
ResponderEliminar"Shame" ficou-me aquém das expectativas. Gosto da nudez da realidade, sem a intenção de um corpo belo ou de cenas idílicas nas ruas, mostrando a fealdade e a realidade. Mas falta-lhe algo. Um um filme aclamadíssimo, mas continua-me a faltar algo. Falta-lhe a história. Talvez seja isso. Não existe hirória, não existe nada. Existe o existencialismo encapotado em alguma emoção e, sobretudo, com Fassbinder como chave, existe o filmar o desejo, o desejo como forma última de tapar a solidão. Não é o sexo, nem o amor, nem sequer o desejo. É isso tudo em versão driblada a escamotear uma solidão existencial. O que podia redundar bem, mas ficou-se por aí, como pedaços soltos de uma master piece que nunca poderia sê-lo sem uma história mais consistente que nao a irmã que aparecendo, estraga os planos do personagem principal que, por sua vez, nao sao nenhuns, mas uma constante fuga através do sexo e do desejo...
Um beijo.
Gostei profundamente de 'Cavalo de Guerra'.
ResponderEliminarImpossível não gostar... Spielberg transmite magia em tudo o que faz no cinema!
Adorei o modo como tratou o tema dos afectos entre os homens e os animais e como se estes últimos tivessem sentimentos, entre os próprios animais (cavalos).
Um filme de guerra contra-guerra! E uma banda sonora lindíssima!
Uma excelente escolha, para começar, 'mfc'!
Depois me dirás...
Suponho que sim, João! A escolha que fazes deve estar de acordo contigo.
ResponderEliminarMas, se puderes, não deixes de ver os outros dois!
São três filmes totalmente diferentes, embora todos tratem um mesmo assunto: afectos.
Olha! Lamento imenso não não poder visitar-te e retribuir a tua atenção!
Mas, retiraste o link...
Sensibilizada pelas palavras sempre atentas e amistosas. E, no entanto, a palavra 'positivos' (entre aspas) levou-me a ler algo mais...
ResponderEliminarEfectivamente, os três filmes falam de valores, de formas muito diferentes, sem dúvida.
'Amigos Improváveis' e 'Cavalo de Guerra', o lado bom do ser humano. 'Vergonha', o lado menos bom...
Os valores estão lá: amor (fraterno), dignidade, vergonha (estes dois últimos, estados emocionais).
Filme demasiado 'forte' que não se vê com facilidade, que incomoda, mas que nos leva a compreender|ver a solidão do ser humano,(uns mais do que outros).
Um beijo, 'Herético'!
Eu gostei muito de 'War Horse'! Tal como dizes, cativante (como todas as obras de Spielberg).
ResponderEliminarUm pouco longo, sim, sem querer associei-o bastante a 'Lista de Schindler' (muitos pontos em comum). Mas considerei o propósito de fazer dele a apologia da não-guerra pelo arrastar das cenas ligadas à guerra e às suas consequências.
Sim, tens razão Daniel, amizades como não se vêem |sentem hoje. A desvalorização do sentimento da amizade é crescente na sociedade actual :(
O que despertou Holyywood que sempre tem 'desprezado' Spielberg... talvez o facto de ser um épico?
Adorei pela leveza de apresentar situações fortes, como a exclusão social (emigração versus deficiência física), pela demonstração positiva e ternurenta (sem ser lamechas) de como as duas se interligam e entreajudam, levando a capacidade humana a reinventar-se, precisamente num momento em que a sociedade só valoriza, o perfeito, o belo, o bem sucedido, e demonstrando, sem a pretensão de lição de moral, que o Homem não é uma ilha e que todos somos uma cadeia.
'Shame', sim um filme imperfeito, para uns, uma obra excelente para outros. Tão aclamado por muitos. Não vi nele toda essa admiração!
Mas a solidão está presente de uma ponta à outra, mesmo em cenas lamentáveis, talvez por isso.
E retirei (no meio do caos absoluto) que o ser humano tem redenção! E que essa redenção pode aparecer em momento extremo (orgia total versus suicídio da irmã). Alguns não viram aí a viragem...
Um beijo__________