Vasco Graça Moura no seu gabinete CCB
créditos: Paulo Spranger/Global Imagens
Soneto do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura,
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura,
in Antologia dos Sessenta Anos
Edições ASA, 2002
Vasco Graça Moura [1942-2014]
LUSA
Poeta de várias tonalidades e modos, celebrado e erudito tradutor de Dante, Petrarca ou Shakespeare, romancista e dramaturgo, ensaísta de invulgar erudição, cronista, camoniano, defensor da Língua Portuguesa, contra Acordo Ortográfico, homem de ousadias, Vasco Graça Moura morreu hoje, dia 27 Abril 2014.
Foi com enorme tristeza que li sobre o desaparecimento deste 'renascentista' nato, vasto conhecedor de línguas e culturas.
Nasceu no Porto, na Foz do Douro, em 1942. Licenciou-se em Direito, pela Universidade de Lisboa, e chegou a exercer a advocacia (1966 a 1983), até a carreira literária se estabelecer em pleno.
Homenagem na Fundação Gulbenkian, Janeiro 2014
créditos: José Coelho/ LUSA
"A poesia é a minha forma verbal de estar no mundo."
Vasco Graça Moura, Gulbenkian, 2014
Um intelectual renascentista no século XXI, assim se pode ler no Público / Cultura. E no Expresso, em tema de Sociedade (?)
Quanta obra poderia ser aqui descrita! Mas todos conhecimentos o seu percurso literário, onde sobressai a poesia.
Manifestamente contrário ao Acordo Ortográfico, reuniu os seus argumentos sob o título "A perspectiva do desastre", num volume publicado em 2008.
Meu tributo muito emocionado. Grande admiração tinha e continuarei a ter pela sua integridade moral, intelectual e cultural.
G-S
Fragmentos Culturais... de luto
27.04.2014
actualizado 04.01.2023
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Uma sentida homenagem ao meu ilustre vizinho...
ResponderEliminarBjs
Mais que chocado com a morte dele, já esperada, fico indignado com certos comentários acerca dele, que esquecem por completo a imensa e valiosa contribuição que VGM deu à Cultura Portuguesa para o vilipendiarem e retratá-lo com ser humano desprezível, só por ter uma ideologia contrária a quem emite essas opiniões.
ResponderEliminarProfundamente lamentável.
a Cultura Portuguesa deve-lhe o enorme talento poético e as excelentes traduções dos clássicos.
ResponderEliminarbeijos
Sim, foi sentida. Daí não ter palavras... o choque foi imenso :-(
ResponderEliminarVasco Graça Moura e família eram do Porto. Amigos comuns. Famílias amigas.
Vai fazer muita falta à cultura portuguesa.
Um beijo, Lilá(s)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEu não sabia que Vasco Graça Moura estava doente. Daí ter sentido um profundo choque. Tão forte que nada consegui escrever.
ResponderEliminarQuanto aos comentários e algumas notas viperinas, que também li e/ou ouvi, João, só demonstram como somos 'pequenos'...
Uma coisa, são ideais pessoais, outra coisa éo valor humano, mas sobretudo humanista.
Um homem de cultura(s), desfasado da sua época, como Jorge de Sena, Pessoa.
Mas em termos culturais é incomparável.
Para além disso, um incansável defensor da Língua Portuguesa.
Permos todos muito. Mas já caiu no esquecimento da maioria :-(
Eu não sabia que Vasco Graça Moura estava doente. Daí ter sentido um profundo choque. Tão forte que nada consegui escrever.
ResponderEliminarQuanto aos comentários e algumas notas viperinas, que também li e/ou ouvi, João, só demonstram como somos 'pequenos'...
Uma coisa, são ideais pessoais, outra coisa éo valor humano, mas sobretudo humanista.
Um homem de cultura(s), desfasado da sua época, como Jorge de Sena, Pessoa.
Mas em termos culturais é incomparável.
Para além disso, um incansável defensor da Língua Portuguesa.
Permos todos muito. Mas já caiu no esquecimento da maioria :-(
Tanto, tanto! A Cultura Portuguesa deve-lhe quase tudo, no que concerne a 2ª metade do século XX.
ResponderEliminarUm humanista ao bom estilo renascentista.
E os clássicos, traduzia-os directamente. Sem artefactos.
Beijo, 'Herético'