sexta-feira, 30 de abril de 2021

Crónica da Cerimónia dos Oscars : Acabaram os anos dourados. Fique o sonho do cinema





93rd Academy Awards 2021


“O cinema é um modo divino de contar a vida.”

Federico Fellini

Todos sabemos o que se passou em 2020. Tão depressa não nos vamos esquecer dele. O mundo mudou. Por muito que queiramos manter alguns dos aspectos mais enriquecedores da nossa existência.

Estamos em Abril. E este ano, os Oscars aconteceram este mês. E se há coisa de que me posso queixar de 2020, para além da ausência dos afectos, foi a falta da cultura. A música, o cinema. Oh! O cinema.






Não sou fã de filmes em televisão ou em plataformas streaming. Todos andam encantados com a Netflix ou HBO que tem proporcionadp boas séries. Alguns filmes até la foram exibidos. Tiveram nomeações. E ganharam Oscars.

Não, não. Cinema não é a mesma coisa. Cinema, não é propriamente a Guerra dos Tronos que nos deixou entusiasmados. Também fui fã.

Cinema é magia que passa pelo ritual de uma sala de cinema. Uma sala verdaderia de cinema. Não o sofá em casa.





Oscars Predictions
via The Deven Post

Há mais de um ano que não se viam estrelas de Hollywood na passadeira vermelha. Dois meses mais tarde do que é habitual, com muito distanciamento social, as estrelas cumpririam a tradição da grande festa do cinema, trazendo glamour à estação ferroviária de Los Angeles?



Laura Dern
Best Supporting Actor
credits: Getty Images
via BBC 

Não, nada disso. Os grandes intérpretes, actrizes e actores, os grandes realizadores, grandes cantores/cantoras não compareceram. A passadeira vermelha foi uma enorme desilusão. 

Não, não, este ano não foi o sono que me venceu. Foi a falta de interesse. O desencantamento.





Union Station, Los Angeles

Grande festa? Grande, só a esplendorosa Union Station, em Los Angeles. E Laura Dern, a única que cheguei a ver, antes de desligar o televisor, com um vestido adequado à cerimónia. Considerada uma das actrizes mais bem vestidas, da noite dos Oscars. Sem dúvida.

Com a indústria cinematográfica a tentar recuperar lentamente de uma pandemia que suspendeu rodagens, adiou lançamentos, cancelou festivais e fechou cinemas, a 93ª Cerimónia dos Oscars aconteceu agora, final de Abril. 

Um grafismo diferente. Muito actual. Esse sim, uma boa surpresa.





Oscars 2021
via showbizz.411.com

Os produtores Steven Soderbergh, Stacey Sher e Jesse Collins (os dois primeiros foram respectivamente o realizador e produtora do filme Contagion 2011 - presságio? - prometeram um evento ao vivo a partir da histórica Union Station, como se fosse uma produção cinematográfica e não um programa de televisão.




Joaquin Phoenix, Renée Zellweger, Brad Pitt
Oscars 2020
via skynews




Brad Pitt
Oscars 2021
credits: ABC / Getty Images

Foram anunciados 20 actores como apresentadores entre os quais: Angela Bassett, Halle Berry, Viola Davis, Harrison Ford, a que se juntariam Joaquin Phoenix, Renée Zellweger, Brad Pitt e Laura Dern, cumprindo a tradição dos actores premiados no ano anterior regressarem para entregar os Oscars aos premiados deste ano. 

Zhang Ziyi, Liu Yifei e o realizador Ang Lee apresentarão o Oscar de Melhor Filme Internacional e o realizador Bong Joon-ho, que no ano passado subiu quatro vezes ao palco graças ao filme Parasitas

Decepção. Uma desolação. A minha e a de muitos que assistiram e se retiraram, muito antes da entrega dos melhores galardões. Baixa audência. Até nos Estados Unidos.




Nomadland, Sobreviver na América
Chloe Zaho, 2020

Mas falemos dos filmes. O filme vencedor Nomadland. Enorme. Profundo. Uma história de solidão, em jeito de documentário, baseado no livro com o mesmo título de Jessica Bruder.




Nomadland
Surviving America in the
Twenty-first Century
Jessica Bruder

Fren, uma americana que parte na sua van, explorando uma vida fora da sociedade convencional. Uma nómada dos novos tempos.

"these invisible casualties of the Great Recession have taken to the road by the tens of thousands in late-model RVs, travel trailers, and vans, forming a growing community of nomads: migrant laborers who call themselves “workampers".





Chloe Zaho
Best Film/ Best Director
credits:  Chris Pizzello/AP
via The Guardian

Oscar Melhor Filme, Melhor Realizadora Chloe ZahoDesoladora a apresentação estética da  excelente realizadora Chloe Zaho. Por vezes, é necessário um pouco de noção circunstancial. Afinal era a vencedora das maiores nomeações da noite.

Incrível banda sonora de Ludovico Einaudi. Belíssima fotografia. Interpretação fabulosa, como sempre, de Frances McDormand. A melhor da sua carreira.






The Father
Florian Zeller, 2020

The Fatherdo realizador francês Florian Zellergalardoado com o Oscar de Melhor Adaptação ao Cinema, da sua peça. Drama de uma família lidando com a demência. Oscar de Melhor Actor para Anthony Hopkinscom 83 anos. Um grande actor!







Melhor Filme Estrangeiro? Another Round do realizador norueguês Thomas Vinterberg. Um discurso emocionado pela perda da filha em acidente automóvel.

Um filme que aborda o alcoolismo no meio académico. Quatro professores do ensino secundário consomem álcool diariamente para ver até que ponto afecta sua vida social e profissional.





Thomas Vinterberg
Another Round
Best International Feature Film
via ABC news

Os grandes vencidos? o filme Mank realizado por David Finch, segundo críticos de cinema. A escrita do guião de Citizen Kane/ O Mundo a Seus Pés, estreia de Orson Welles no cinema, em 1941, é o foco deste filme de David Fincher. Centrado em Herman J. Mankiewicz, o argumentista que disputou os créditos com Welles. Com várias nomeaçoes, saiu com as menores.




Glenn Close
via People.com

E a actriz Glenn Close nomeada para Melhor Actriz Secundária, no filme Hillbilly Elegy, do conhecido realizador Ron Howard. Lembram Beautiful Mind (2001)?





Frances McDorman & David Strathairn
Nomadland, Sobreviver na América
Courtesy of Searchlight Pictures © 2020 20th Century Studios 
Chloe Zaho, 2020

Apenas vi Nomadland. Nada mais chegou às salas de cinema. Uma caminhada solitária, o novo nomadismo americano, escolhido como estilo de vida. Uma ode à liberdade, a jornada de reencontro interior. Fern, recém viúva, desempregada, desalojada, vai trabalhando por onde passa. No deserto fomenta as suas amizades. Mas decide continuar sózinha. Uma determinação sem par. Aconselho vivamente.


In Memoriam: 







O desaparecimento de realizadores como Bernard Tavernier, Alan Parker, Joel Schumacker, compositor Ennio Morriconeactores como Sean Connery, Max Von SydowChristopher Plummer, Michel Piccoli, lendas do cinema. Sempre um momento emotivo. É a história do cinema que se esvai.

Voltar à obscuridade de uma  sala de cinema foi uma sensação de bem estar, de múltiplas recordações de filmes espantosos. O desfilar das imagens, as bandas sonoras das nossas vidas. Tudo o que nos faz esquecer o que deixamos cá fora. Um mundo mudado. 

Estar numa sala de cinema, eleva-nos a um mundo emoções. Um mundo diferente, real tantas vezes. Inspirador. E encantatório.

Os anos dourados do cinema e com eles, a cerimónia dos Oscars ficaram para trás. Definitivamente.


“O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.”


Orson Welles


Fiquemos com este sonho.


G-S


Fragmentos Culturais


30.04.2021

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2 comentários:

  1. Não vi a cerimónia dos Óscares. Já vi o filme 'Nomadland' que adorei.
    Tempos estranhos que estamos a viver, que nos levam a sonhar e a não querer "acordar".
    Viva o cinema!

    Fica bem.
    Tudo de bom.

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  2. Eu vi. E saí desiludida, muito antes do final. Não perdi muito tempo, agarrada ao ecrã de televisão.

    Viva o cinema!? Difícil sobreviver! Quanta dificuldade em cerrar fileiras!
    As salas, estão quase sempre vazias...

    Também gostei imenso de 'Nomadland' e de 'O Pai' entre alguns outros. Poucos :-(

    Muitos dos melhores realizadores estão a aderir às plataformas digitais. Até Steven Spielberg !

    Bem, é melhor do que deixar morrer uma arte tão bela! E que tão bons momentos, entre sonho e realidade, nos proporciona!

    Tempos 'estranhos' e difíceis. Felizmente que estamos todos bem!

    Tudo de muito Bom!

    (lamento levar tanto tempo a responder... escrevo menos e até me esqueço, no meio de tempos de solidão que todos atravessámos)

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