sábado, 20 de outubro de 2012

Manuel António Pina : em jeito de homenagem !






Manuel António Pina [1943-2012]
créditos: Autor não identificado
via Poetria


"Os livros são para quem gosta deles..."

Manuel António Pina


Manuel António Pina morreu. Jornalista, tradutor, professor, cronista, poeta. Galardoado com o Prémio Camões 2011. Traduzido em vários países. E muitos dos seus livros estão esgotados por reticências do autor.


"Tenho muita dificuldade em aceitar reedições. Provavelmente sim, as editoras vão querer. Mas eu ofereço alguma resistência: não gosto, sinto-me desconfortável. São livros que sinto que já não são meus."

Manuel António Pina, 2011




Todas as Palavras
Poesia reunida
Manuel António Pina
Assírio & Alvim


A sua obra foi distinguida com um Prémio Gulbenkian, o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa, o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e, finalmente, o Prémio Camões em 2011.




Manuel António Pina
créditos : Alfredo Cunha


A notícia do seu desparecimento apanhou-me desprevenida. E nestes momentos, não conseguimos dizer muito. Em jeito de homenagem, deixo algumas notas...


Completas

A meu favor tenho o teu olhar 
testemunhando por mim 
perante juízes terríveis: 
a morte, os amigos, os inimigos. 

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Manuel António Pina, Algo Parecido Com Isto, da Mesma 
Substância,
Afrontamento, 2011






Conheci-o pessoalmente entre amigos. Um conversador nato, saltando de tema para tema, sempre cronicando. Vasta cultura.

Conheci-o depois em ambiente pedagógico. Manuel António Pina era também um excelente contador de histórias para a infância e juventude.





Manuel António Pina: Obras para infância e adolescência
via NewsMuseum Lisboa-Sintra


Manuel António Pina tinha um amor especial pelos gatos, fazendo-se captar múltiplas vezes com os seus oito gatos, sua imagem de marca. Pergunto-me quem terá ficado com seus afectuosos amigos felinos?! 






Manuel António Pina
via NewsMuseum Lisboa-Sintra

Não tendo nascido no Porto, assumia-se genuinamente portuense, como demonstra neste texto:

"Vim aos 17 anos. Nasci no Sabugal, mas costumo dizer que me nasci a mim mesmo no Porto. Os meus amigos mais antigos são do Porto, as minhas memórias, grande parte das minhas memórias – e nós somos feitos de memórias – são do Porto. É uma cidade onde me sinto muito confortável. Há roupas que nos ficam muito largas e outras que ficam apertadas demais. O Porto assenta-me perfeitamente. Provavelmente é aqui que vou morrer e hei-de ficar a fazer parte da cidade fisicamente."

Manuel António Pina, 2011

A Feira do Livro do Porto 2023 vai homenagear finalmente este enorme mas discreto autor de múltiplos textos. A consultar aqui o Programa.





Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde

Manuel António Pina
a regra do jogo,1974


"Ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde."

Manuel António Pina,1974


G-S

Fragmentos Culturais

19.10.2012

actualizado 27.08.2023
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Nota: ver vídeo em Vimeo

Citações Porto 24 (decontinuado)



12 comentários:

  1. António Pina é um poeta que deixa transparecer, frequentemente,nos seus poemas a "melancolia" e o "medo". Nos seus poemas reflectem-se, frequentemente,
    estes sentimentos.São sentimentos que exprimem o individualismo das sociedades do nosso tempo.
    É um poeta que gosto de ler sobretudo, porque compartilho sentimentos semelhantes.
    A poesia perdeu mais um valor.

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  2. Fragmentos,


    Bela homenagem
    a um grande poeta,
    amante da Língua Portuguesa,
    que sempre defendeu, com denodo!
    Li muitas crónicas dele, na última página do JN. Sempre vi que criticava, com isenção e imparcialidade, as condutas reprováveis de quem tivesse responsabilidade pelos destinos da sociedade em geral. Rara qualidade!
    Uma grande perda!
    Que Saudades!

    Regresso aos comentários, após mais uma ausência que a vida nos dita, mas, claro, sempre atento ao que se vai passando neste espaço, tão simpático e querido, que já se celebrizou pela sua enorme qualidade!
    Muito grato
    Abraço amistoso

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  3. poeta maoir e cronista certeiro.

    uma referência. e uma perda...

    o Porto assentava-lhe bem, sem dúvida. mas o País era estreito...

    beijo

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  4. Se o mar adormecer em desvario
    As ondas não mais se formarem
    Se as gaivotas se perderem do ninho
    As árvores mais altas tombarem

    Se o dia não encontrar a manhã
    As nuvens deixarem de chorar água pura
    Se as pedras da ilha roubarem a cor ao verde
    As tuas palavras deixarem de ser raiva dura


    Boa semana


    Doce beijo

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  5. Querida FC:
    É sempre assim. Só nos inteiramos do verdadeiro valor das pessoas quando elas deixam de estar connosco. E, só então, as convertemos em IMORTAIS.
    Gostei muito desta sua homenagem a um Grande Senhor.
    Tenho andado com muita falta de tempo, mas, em breve, voltarei a escrever no blog.
    Um abraço com toda a minha amizade.

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  6. Para sempre na memória e história.

    Tudo de bom.

    :)

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  7. António Manuel Pina é efectivamente um poeta de sentimentos. Sabe apontar os 'desafectos' da sociedade em que vivemos. Cruzamos todos os dias com esses medos, numa cidade-mundo em que cada mais nos vamos isolando.

    Tive o privilégio de conhecer pessoalmente o poeta, o escritor, o cronista.

    Perdemos sim, mais um valor...
    Abraço, Vítor!

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  8. Não poderia ser de outro modo, caro 'Petrus'... Manuel António Pina mereceria muito mais!

    Um autor por inteiro! Tocou com muita qualidade em quase todos os géneros literários e não literários.

    As suas crónicas que também lia, eram efectivamente uma referência do JN. Permanecerão nos arquivos digitais. Quem sabe, um dia, não serão compiladas e publicadas em livro!
    Sentiremos saudade, sim, porque o escritor-cronista apontava o dedo seguro com arguta educação a todos os males da sociedade.

    Aprecio profundamente a sua poesia! Imensa sensibilidade, muito lirismo! Ainda bem que foi reconhecido em vida!

    Mas há uma outra faceta menos conhecida: a literatura infanto-juvenil que partilhei frequentemente.

    Foi com imenso gosto que li de novo um comentário seu! Sei que a ausência se deve ao dia-a-dia cada vez mais complexo. Não se preocupe, eu própria tenho andado mais afastada.

    Muito obrigada pela sua amizade e pelas palavras aqui deixadas.

    Um até breve, sempre!

    Abraço amistoso

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  9. Um poeta inteiro e um cronista arguto, empenhado.

    Manuel António Pina sentia sim que o Porto era a 'sua cidade'! Viveu por aqui a maior parte da sua vida.

    É sem dúvida uma referência que fica na história da literatura portuguesa e do jornalismo lusitano.

    Uma enorme perda, um carácter como já pouco se vê...

    Beijo, 'Herético'!

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  10. 'Profeta', é sempre com alegria que leio a tua poesia! Ela só torna este espaço mais belo!

    Alguns destes versos poderiam reflectir algo da personalidade de Manuel António Pina. Apenas o sentimento de 'raiva' não fazia parte... sabia escrever as palavras duras de um modo sereno...

    Um beijo fraterno

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  11. Querida Isabel, como é bom ler seu comentário!

    A vida alterou-se para todos nós... eu sei!
    Uma boa notícia essa a de voltar brevemente a escrever no seu espaço!

    O nosso país tem esse defeito. Reconhece tardiamente o valor dos seus 'nobres'!
    No entanto, Manuel António Pinto foi reconhecido! Não na dimensão que merecia, mas foi.

    E foi reconhecido a nível internacional. Está traduzido em vários países.

    Foi ainda com muita alegria que soube da notícia que fora galardoado com o Prémio Camões, isto em 2011.

    Muito obrigada pelas suas palavras!

    Um abraço amistoso,

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  12. Sem dúvida, 'aflores'! Manuel António Pina já faz parte da história da literatura portuguesa!

    E está sempre entre nós, através da sua poesia e das suas crónicas, entre outros escritos...

    Tudo de bom!

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