"The BBC has revealed its list of 100 inspiring and influential women from around the world for 2024."
Entre elas estão estão a astronauta Sunita Williams, a sobrevivente de violaçóes Gisèle Pelicot, a actriz Sharon Stone, as atletas olímpicas Rebeca Andrade e Allyson Felix, a cantora Raye, a vencedora do Prémio Nobel da Paz Nadia Murad, a artista visual Tracey Emin, a activista climática Adenike Oladosu e a escritora Cristina Rivera Garza.
Maria Teresa Horta
crédito: Tiago Miranda
via Expresso
Mas a resistente escritora e poeta, Maria Teresa Horta também aí está incluída !
"Writer and journalist Maria Teresa Horta is one of Portugal’s most prominent feminists and author of many award-winning books, but she is perhaps best known as co-author of the internationally acclaimed Novas Cartas Portuguesas (New Portuguese Letters), written with Maria Isabel Barreno and Maria Velho da Costa."
BBC 100 Women 2024
Novas Cartas Portuguesas, 1a edição, 1972
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
Estúdios Cor
Novas Cartas Portuguesas, 1a edição, 1972
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
Estúdios Cor
via Bestnet Leilóes
A escritora e jornalista portuguesa Maria Teresa Horta é descrita como "uma das feministas mais proeminentes de Portugal e autora de muitos livros premiados" destacando as "Novas Cartas Portuguesas", escrito em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.
Foi editado, em Abril de 1972, pela Estúdios Cor, dirigido por Natália Correia. Em um país onde as mulheres eram educadas para se manterem distantes dos acontecimentos e da cultura, Natália Correia conseguiu rasgar os horizontes. A sua voz fazi-se ouvir!
Daí não me admirar nada que a poeta, política desse voz também a estas "Três Marias".
O livro foi apreendido em Junho, a censura 'catalogou' a obra como 'imoral' (?) e foi proibido e retirado das livrarias. As autoras e editor, foram incriminados e levados a tribunal. O caso só terminou com a revolução de 25 de Abril de 1974. Nessa altura, já era um best-seller em Portugal e no estrangeiro.
A proibição da obra pelo governo da época, no ano da publicação, 1972, e o julgamento do processo conhecido por "Três Marias", por alegada ofensa à moral pública, segundo os padrões da censura da época, fizeram manchetes e inspiraram protestos em todo o mundo", escreveu a BBC.
O impacto internacional divulgado em França pela escritora Simone de Beauvoir - escritora em estudo na Faculdade de Letras -, chamou-me de imediato à atenção, até pela divulgação do processo de que as "Três Marias", assim vulgarmente denominadas devido ao processo de que foram alvo.
Novas Cartas Portuguesas, 2a edição, 1974
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horts e Maria Velho da Costa
Futura
https://www.livraria-trindade.pt/
Li o livro, edição 1974. Guardo-o religiosamente, entre muitos outros. Mas este tem um cunho especial. O primeiro livro de uma era que começara com Natália Correia, cujo Centenário foi celebrado em 2023. Foi mesmo?!
Já não lembro onde adquiri esta edição. Sei que li o livro, saboreando cada palavra. Era uma nova era, uma escrita a três, sem sabermos quem escrevera o quê, dado o compromisso, assumido pelas autoras, de nunca revelarem a autoria individual dos vários textos.
Era o renascer de uma era, sim, que se abria na literatura feminina portuguesa. Desta vez, fora-se mais longe, numa época proibida.
Embora de família conservadora, talvez pelas viagens constantes com meus pais a França - centro da cultura e das novas ideias que invadiam a arte em várias frentes - fui sempre mais atenta às ideias que saíam foram do comum. Hoje dir-se-ia mais avançadas no que que diz respeito ao papel das mulheres.
Enfim, era aguerrida no pensamento e nas ideias, gostava de as debater entre alguns, mas conservadora no estar.
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
via RTP Ensina
A obra "As Novas Cartas Portuguesas" e as suas autoras foram alvo de defesa pública internacional de várias e conceituadas personalidades. Marguerite Duras, - autora que já lia - Doris Lessing, que só li muito mais tarde, e Iris Murdoch e Delphine Seyrig.
Quando se juntaram para compor uma teia de poemas, cartas, ensaios e contos, Maria Isabel Barreno [1939-2016], Maria Velho da Costa [1938-2020] e Maria Teresa Horta [1937], não imaginaram, talvez que o seu livro provocaria tão efusivas manifestações, muito menos a nível internacional.
O livro Novas Cartas Portuguesas adquiriu uma enorme carga simbólica.
Infelizmente duas das escritoras já nos deixaram. Só Maria Teresa Horta continua a escrever. O que ela mais gosta de fazer.
Posso sentir-me perto de Teresa, como 'amiga'. Sem nunca a ter conhecido, pessoalmente. Leio muitos dos seus últimos poemas. Agora mais escassos. Pelo menos vindos a público na sua página oficial.
Tem Livros belíssimos! De alguns, deixei por aqui vários excertos.
Mas o que mais admiro hoje em dia é a sua poesia. Alguns poemas e curtas passagens de poemas de Maria Teresa Horta também lerão por aqui.
Gosto do erotismo que imprime aos seus versos. Não em todos. Os menos 'despidos'. Gosto dos mais ternos, imbuidos de um erotismo mais afectuoso.
Maria Teresa Horta foi recentemente distinguida pelo Ministério da Cultura com a “Medalha de Mérito Cultural”, pelo seu contributo incomparável para a cultura portuguesa.
A poeta não gosta de prémios, gosta de escrever. Sempre à mão. A poesia é a sua linguagem e o erotismo o seu tom de alma.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
Maria Teresa Horta, Poema sobre a recusa
G.S
Fragmentos Culturais
12.12.2024
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