sexta-feira, 14 de julho de 2023

Tributo : Milan Kundera [1929 -2023]

 




Milan Kundera [1929-2023]

créditos: MP/ LeeIamage/ Photo Grossetti, 1981


"Procuramos sempre o peso das responsabilidades, quando o que na verdade almejamos é a leveza da liberdade."


Milan Kundera


«He was a "novelist," not a "writer," in the full meaning that he gave to the art of the novel, which he saw as a means of total knowledge – aesthetic rather than theoretical.»


 Martine Boyer-Weinmann(professor of French literature, Lyon-II University)


O escritor checo, Milan Kundera, que satirizou os regimes totalitários, mesclando a sua prosa de ironia sombria e reflexões filosóficas, morreu esta semana, dia 11 Julho 2023. 


Nascido a 1 de Abril de 1929 em Brnö, na antiga Checoslováquia, exilou-se em França por questões políticas, em 1975. Aí permanceu, tendo adquirido a nacionalidade francesa. Uma parte dos seus livros são escritos em francês.





Milan Kundera

credits: Getty Images


Estudou em Praga, onde foi professor de História do Cinema, na Academia de Música e Arte Dramática e no Instituto de Estudos Cinematográficos.


Autor de uma vasta obra, que abrange o romance, o ensaio e a poesia, Kundera é considerado um dos mais importantes escritores do século XX.





A Arte do Romance
Milan Kundera, 1986
Edições Dom Quixote 


"A Arte do Romance" ou The Art of the Novel, é um ensaio de 1986 sobre a literatura europeia de Milan Kundera, no qual o autor descreve suas opiniões sobre o romance / novela, e suas próprias experiências ao escrever este género literário.

"Each of the parts in my novels could carry a musical indication: moderato, presto, adagio, and so on."

Milan Kundera, in The Art of Novel


Milan Kundera é pois uma referência incontornável da literatura. É um daqueles escritores impossíveis de esquecer, depois de o ler. Todos os seus livros têm grande profundidade e engenho. Mas, A Insustentável Leveza do Ser (1984) é o mais aclamado, a nível mundial.




The Umbearable Lightness of Being
Milan Kundera, 1984


Entre as obras de Kundera estão O Livro dos Amores Risíveis (1969), A Vida Não é Daqui (1973), A Valsa do Adeus (1976), O Livro do Riso e do Esquecimento (1979), A Arte do Romance (1986), A Imortalidade (1990), Os Testamentos Traídos (1992), A Ignorância (2000) e o último, A Festa da Insignificância (2014). 






A Festa da Insignificância
Milan Kundera, 2014


Não sendo um dos melhores romances de Milan Kundera, segundo alguns críticos, 'A Festa da Insignificância' não pode deixar de ser lido como uma espécie de "testamento literário", uma divertida reflexão sobre o destino trágico do ser humano.


Li alguns dos seus livros, como A Imortalidade, A Ignorância, A Identidade, entre outros. Brilhante reflexão sobre temas universais da vida e da morte, do erotismo e das emoções. 







A Imortalidade
Milan Kundera, edição 2020


"Ser escritor não é pregar uma verdade, é descobrir uma verdade (...) Só uma obra literária que revela um fragmento desconhecido da existência humana tem uma razão de ser.”

Milan Kundera

'A Imortalidade' é essencialmente sobre pessoas e o receio de desaparecer sem deixar marcas no mundo. É um livro para ler com espírito aberto e vontade de pensar na vida e no ser.

Mas, sem dúvida, o livro 'A Insustentável Leveza do Ser' tornou-se mítico, não só para mim, como para quase todos os leitores de Kundera. E deu-lhe a notoriedade a nível mundial.


Este é um romance de amor, mas ao mesmo tempo, é muito mais do que isso. Essencialmente, trata do que todas as grandes obras falam. Do sentido da vida.





A Insustentável Leveza do Ser

Milan Kundera, 1984

https://www.bertrand.pt/


É um dos romances míticos do século XX, publicado em 1984. Uma obra que alterou talvez, o modo como encarávamos o mundo que nos  rodeava.  


Quatro personagens protagonizam este romance, Tereza e Tomas, Sabina e Franz. Por força de suas escolhas ou por interferência do acaso, - o acaso - cada um deles experiencia, à sua maneira, o peso insustentável que baliza a vida, esse permanente exercício de reconhecer a opressão e de tentar amenizá-la.


O livro é como uma grande crónica acerca da frágil natureza do destino, do amor e da liberdade humana.



A Insustentável Leveza do Ser
Philip Kaufmann, 1988



Adaptado ao cinema por Philip Kaufmann em 1988, tem como actores, os conceituados Daniel Day-Lewis (saudades deste actor), Juliette Binoche Lena Olin. Vi-o nas salas de cinema.
 

Passado nos anos 60 em Praga, antiga Checoslováquia, Tomas (Daniel Day-Lewis), um médico apolítico, tem como hobby ter diversas experiências sexuais com diferentes mulheres, evitando sempre envolver-se. Mas duas mulheres, Sabina (Lena Olin), uma artista plástica, e Tereza (Juliette Binoche), uma jovem que sonha ser fotógrafa, tornam-se muito presentes na sua vida. 


No entanto, ao serem atingidos pelo acontecimento político de 1968, conhecido como "A Primavera de Praga", a vida deste triângulo amoroso altera-se.







A Insustentável Leveza do Ser
Philip Kaufmann, 1988


Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin formam o inesquecível triângulo amoroso que ocupa o centro do mundo de Tomas. O seu é um mundo em contínua mutação, feito de esperanças que morrem e renascem, e de vidas destruídas pela opressão e reacendidas pelo amor, profundo e amadurecedor."


Ainda que tenha sido um sucesso, Kundera criticou a adaptação, e considerou que a arte visual havia sido degradada em 'imagologia'. Nunca mais autorizou a adaptação cinematográfica de seus romances.






A Insustentável Leveza do Ser
Philip Kaufmann, 1988


Fui ver o filme. Pelo livro, já que o lera. E pelos excelentes actores. O realizador? Não conhecia.


Deparei-me com um filme que trata sim da dualidade do amor sem compromisso, mas que se afasta da essência do romance, resumindo-o ao efeito imagético do erotismo físico. O erotismo é belo se falar de amor.







A Insustentável Leveza do Ser
Philip Kaufmann, 1988


Desvirtuado na insustável leveza do ser humano, como um todo. As cenas são ostensivamente baseadas nas relações físicas de um excessivo erostismo físico, afastando-se da vertente amorosa do qual o erotismo faz parte. E da sensibilidade humana. Saí um pouco desiludida. 


Retenho, as interpretações dos actores. Actores excelência. Daniel Day-Lewis, como sempre genial! Saudade de o ver no grande ecrã. 


O filme foi tão longe na vertente que o realizador decidiu explorar, que chegou a ser considerado o melhor filme erótico, depois de O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci (1972). Esse sim, apenas de carácter erótico-sexual.









Considero que Kundera teve razão na crítica ao filme, e na proibição de mais adaptações da sua obra ao cinema.


'A Insustentável Leveza do Ser' (editado em Portugal em 1987) é um livro que nos faz olhar com um olhar, por vezes melancólico e conformado, outras amargurado e revoltado, para o destino de um país, de um continente, de uma civilização. 


E poucas vezes se terá tão magistralmente representado a ligação existente entre a aventura individual e colectiva.







The Umbearable Lightness of Being
Milan Kundera, 1984
Audible Audiobook


"Justapondo lugares distantes geograficamente, reflexões brilhantes e uma variedade de estilos, este magnífico romance representa o auge daquele que é, verdadeiramente, um dos maiores escritores de sempre."

Inês Pedrosa,in Prefácio


Apesar de não ter sido galardoado com o Nobel, outros prémios lhe foram atribuídos: o Prémio Medicis (1973), Prémio Mondello (1978), Prémio Common Wealth (1981), Prémio Jerusalém (1985), Prémio Independent de Literatura Estrangeira (1991), Austrian State Prize for European Literature (1987),  e o Herder Prize 2000. 

Sarcástico retratista da condição humana, Kundera foi um dos raros autores incluídos em vida, na prestigiosa colecção literária La Pléiade (2011). 


“Like all great writers, Milan Kundera leaves indelible marks on his readers’ imaginations,” 

Salman Rushdie, The Guardian


"Muitas vezes nos refugiamos no futuro para escapar do sofrimento."

Milan Kundera

G-S
Fragmentos Culturais
14.07.2023
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2 comentários:

  1. Não acrescentaria nada mais ao que por aqui li.
    Eu também gostei mais de ler o livro do que a adaptação ao cinema.
    Sem dúvida um nome e obra que ficam bem gravados.
    Tudo de bom.
    Excelente Agosto.
    :)

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  2. Olá 'AFlores, que bom ler-te em fragmentos. Sempre um fiel amigo 'blogger' de há muitos anos.
    Foi um escritor que li muito na época da sua aparição nas livrarias.
    Seus livros, mais do que romances, eram novelas que se focavam em aspectos essencias da vida.
    Sim, o filme não atingiu a penitude do livro. É sempre um possível leitura de uma obra...
    Boas férias! Excelente Agosto !
    Tudo de bom!

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