«a Humanidade tem que estar presente na compreensão da própria e pessoal humanidade, com a qual lhe é dado compreender a dos outros...».
Jorge de Sena
Dos Estados Unidos, o corpo de Jorge de Sena voltou a sua "ditosa Pátria".
Jorge de Sena
Dos Estados Unidos, o corpo de Jorge de Sena voltou a sua "ditosa Pátria".
"Hoje não é um dia triste, por fim, tantos anos depois, a vontade de seu marido pôde ser cumprida e, embora saibamos que a separação, ele aqui, a Mécia em Santa Bárbara, será dor sobre dor, a satisfação do dever cumprido acabará convertendo-se em serena alegria, a que queremos viver consigo, que tanto ama por haver amado tanto. O seu companheiro de toda a vida, o homem com quem dançou uma tarde e a quem disse que não dançava com desconhecidos, sem saber que os escritores se dão a conhecer imediatamente, porque manejam as palavras e as introduzem no nosso coração para sempre, esse homem, querida Mécia, voltou à terra que sentia com desespero, e agora, todos os que sabemos o que Portugal era para ele respiramos mais fundo, como se partilhássemos um verso ou um afã, ou talvez esse desejo de transformar que os poetas semeiam."
Pilar del Río, Carta a Mécia, (excerto)
Pilar del Río, Carta a Mécia, (excerto)
Jorge de Sena
créditos: Autor não identificado
via Revista Literária Caliban
Mas o poeta Jorge de Sena era também um polemista cultural e um escritor com uma insaciável sede de reconhecimento que dizia negarem-lhe:
“dor de haver nascido em Portugal / sem mais remédio que trazê-lo n’alma”.
Jorge de Sena
Jorge de Sena
Trinta anos depois da sua morte, Jorge de Sena descansa em seu país, esta Pátria que tanto amou e que tanto o ignorou. Esta Pátria que não o chamou em vida, o maior anseio do autor. Uma Pátria cuja língua e cultura sempre cantou e defendeu, até morrer.
Foi então que a Fundação Saramago lhe prestou uma pública homenagem, em Julho de 2008. A propósito desse importante evento escrevi aqui
Na cerimónia de hoje, Eduardo Lourenço foi categórico ao dizer que este é o "regresso do indesejado", apropriando-se do título de uma obra de Sena para recordar a condição de exilado político do escritor.
Lusa
Mécia de Sena, viúva de Jorge de Sena, esteve ausente por questões de saúde, mas duas filhas, netos e vários familiares estiveram presentes.
A cerimónia de homenagem teve lugar na Basílica da Estrela, a actriz Eunice Muñoz disse o poema "Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya" de Jorge de Sena, numa cerimónia que contou com dois momentos musicais de Bach.
Poucos devem conhecer os seus textos sobre a música. Leia-se a "Arte da Música" entre outros.
Em "Arte de Música", livro de poemas motivados por peças musicais, grandes intérpretes e compositores da História da música ocidental, a questão da legitimidade das composições poéticas assume um papel fundamental. (...)
O espólio pessoal de Jorge de Sena está agora depositado na Biblioteca Nacional doado por sua família. Decorreu uma Mostra de 18 de Junho a 11 de Setembro 2009.
Um tempo bem breve para uma obra tão rica e tão desconhecida para quase todos nós!
A Sociedade Portuguesa de Autores juntar-se-à a estas homenagens, com a atribuição da Medalha de Honra a um representante da família no dia 14 de Setembro, no auditório Frederico de Freitas, na sua sede.
Desencontro
Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,
de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.
Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'
A trasladação dos restos mortais do escritor Jorge de Sena para Portugal é um acto "de reparação e de reconciliação", embora o escritor "não precise de glorificações póstumas",
Eduardo Lourenço, ensaísta, via Lusa
É efectivamente um dos vultos maiores da cultura portuguesa do século XX. A sua obra tão eclética estende-se à poesia, prosa, drama, ensaio, investigação, e à história da cultura. Um dos grandes intelectuais, no sentido exacto da palavra.
Não deveria ter tardado tanto esta homenagem ! Merecia que o país lha fizesse em vida, já que morreu em 1978. Mas não! Sena não teve esse afago que por direito lhe seria tão grato!
Eduardo Lourenço, ensaísta, via Lusa
Não deveria ter tardado tanto esta homenagem ! Merecia que o país lha fizesse em vida, já que morreu em 1978. Mas não! Sena não teve esse afago que por direito lhe seria tão grato!
Foi então que a Fundação Saramago lhe prestou uma pública homenagem, em Julho de 2008. A propósito desse importante evento escrevi aqui
O Indesejado
Jorge de Sena, teatro,1951
Na cerimónia de hoje, Eduardo Lourenço foi categórico ao dizer que este é o "regresso do indesejado", apropriando-se do título de uma obra de Sena para recordar a condição de exilado político do escritor.
Lusa
A cerimónia de homenagem teve lugar na Basílica da Estrela, a actriz Eunice Muñoz disse o poema "Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya" de Jorge de Sena, numa cerimónia que contou com dois momentos musicais de Bach.
Arte da Música
Jorge de Sena
Círculo de Poesia/ Moraes Editores
Poucos devem conhecer os seus textos sobre a música. Leia-se a "Arte da Música" entre outros.
Em "Arte de Música", livro de poemas motivados por peças musicais, grandes intérpretes e compositores da História da música ocidental, a questão da legitimidade das composições poéticas assume um papel fundamental. (...)
O espólio pessoal de Jorge de Sena está agora depositado na Biblioteca Nacional doado por sua família. Decorreu uma Mostra de 18 de Junho a 11 de Setembro 2009.
Um tempo bem breve para uma obra tão rica e tão desconhecida para quase todos nós!
A Sociedade Portuguesa de Autores juntar-se-à a estas homenagens, com a atribuição da Medalha de Honra a um representante da família no dia 14 de Setembro, no auditório Frederico de Freitas, na sua sede.
Desencontro
Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,
de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.
Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'
G-S
Fragmentos Culturais
11.09.2009
Copyright © 2009-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Logo a primeira citação que fazes do Jorge de Sena é indicativa e muito bem aplicada como síntese deste grande humanista.
ResponderEliminarbj amigo
... Sena é mesmo um dos maiores vultos do pensamento poético- filosófico da nossa cultura... que afinal não tem fronteiras!
ResponderEliminarComo afirmas, um verdadeiro humanista, já que seu pensamento tocou todas as áreas!
É sempre muito bom 'ler-te' por aqui, Daniel! Sensibilizada!
Um beijo,
"...mesmo o que se encontra não se encontra." - celebremos então o que dos encontros é possível.
ResponderEliminar... e saudemos o "regresso" de Sena.
excelente a tua homenagem.
beijo
Fragmentos,
ResponderEliminare será que "merecemos" Jorge de Sena? e será que "merecemos" tantas outras cabeças pensantes e escreventes que nasceram e nascem neste país?
Curiosamente,as palvras dos nossos maiores génios são sempre de amargura perante o "tratamento" que lhes deu a terra berço...
Enquanto isso, outros mais "vácuos e enfatuados de si" arrogam-se estatuto de proeminências!!!!
Mas Sena merece TODAS as homenagens!!!!
Bom resto de fim de semana!!!!!
Que país este que recebe um dos seus maiores tão discretamente?!
ResponderEliminarJorge de Sena merece, de lamentar que tudo tenha sido feito tão discretamente, quase passou despercebido.
ResponderEliminarbjs
Este é apenas mais um exemplo de como o nosso país menospreza a cultura portuguesa, e normalmente quando resolve dar-lhe um timido destaque, acaba sempre o por fazer tardiamente. Simplesmente lamentável.
ResponderEliminarBjo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar"...mesmo o que se encontra não se encontra." - celebremos então o que dos encontros é possível...'
ResponderEliminarCelebrar, talvez não possamos celebrar, 'Herético', mas quem sabe 'reter' na nossa memória poética...
Foi tão parca a 'celebração' nacional do seu regresso!
Um beijo,
Pelo teu olhar, sensibilizada!
Boa noite, 'Avelaneira',
ResponderEliminarO país não se mostrou nunca 'merecedor' de seus grandes vultos! Mas se eles escolhem, mesmo assim, a sua lusitanidade, há que regozijar!
Se percorrermos um pouco a História dos grandes génios, artistas... raramente seus países os acarinharam em vida!
Difícil o desvendar de tais desígnios...
Também é verdade o que afirmas! Quase todos os nossos 'maiores' rasgaram lágrimas de desventura na ausência de afectos!
Dos 'outros', a História não rezará...
Finalmente Sena retorna a seu solo pátrio! Sua vontade expressa! Agradeçamos a Mécia Sena!
Excelente semana!
Sensibilizada pela presença sempre amiga!
... pois! Nem sei que dizer, 'mfc'!
ResponderEliminarMas, vejamos... Saint-Exupéry aguardou 65 anos para 'receber' uma homenagem a nível nacional!
Como já escrevi... raros são aqueles que são acarinhados em vida :(
Foi um prazer!
'Lilá(s)'
ResponderEliminarDevo concordar que tudo se passou muito 'discretamente'!
Jorge de Sena mereceria muito mais! Todos estamos de acordo. Mas a 'inveja' é um sentimento pouco nobre que perdura, mesmo para além da morte...
Sempre que se pensou em Sena, depois de '75'... houve 'sempre' alguém, mesmo nos meios académicos, que punha entraves... isto já diz muito, suponho!
Sensibilizada pelo olhar em 'fragmentos'!
Um beijo,
... será que algum dia vai mudar?!
ResponderEliminarÉ que vem de séculos da lusitanidade, 'Art' :(
Um beijo,
Pelo olhar atento, sensibilizada!
Espero que ele não tenha enjoado na viagem...
ResponderEliminarA excelente homenagem que aqui lhe prestas é inteiramente merecida.
ResponderEliminarBeijo.
Um regresso tardio a uma Pátria que tanto amou e para a qual tanto escreveu. Merecia mais. Muito mais.
ResponderEliminarFinalmente nos Prazeres.
Bem-hajas!
Beijinhos
Se o GRANDE JS fosse um analfabeto jogador de futebol, daqueles que "falam muito bem" qualquer língua estrangeira (principalmente a línguagem dos milhões)...tenho a certeza que não faltariam homenagens e referências em todos os orgãos de comunicação social.
ResponderEliminarExcelente texto... adorei ler e partilho da opinião de muitos leitores que já aqui deixaram o seu contributo...
ResponderEliminarParabéns por esta referência...
Com amizade
Luis
A todos os que me têm lido, lamento estar afastada por motivos profissionais e técnicos.
ResponderEliminarBrevemente, voltarei a 'fragmentos culturais' para responder, retribuir visitas, actualizar este espaço de sentires ligados à cultura.
Desde já, sensibilizada pela vossa leitura & 'companhia'!
Até breve!
Abraço amistoso,
Não poderia, 'Rafeiro'... porque era sua vontade suprema.
ResponderEliminar... é um dos meus 'mais' queridos... de entre tantos, logo a seguir a Pessoa!
ResponderEliminarSensibilizada, Nilson!
Um beijo
Foi sim, 'Catavento'! Bem tardio :(
ResponderEliminarMas chegou ao solo pátrio! Descansará agora...
Pelo olhar atento, sensibilizada!
Um beijo amistoso
Sou forçada a dar-lhe razão, 'AFlores'!
ResponderEliminarÉ o país que temos, é a sociedade em que vivemos, são os contra-valores que aí estão... instalados!
Sempre um prazer! Sensibilizada!
Sensibilizada pelo olhar atento em 'fragmentos' e pelas palavras amistosas, deixadas, 'Luís F'!
ResponderEliminarCordialmente,