domingo, 10 de setembro de 2017

Feira do Livro do Porto 2017 : Sophia de Mello Breyner & outros eventos






Feira do Livro do Porto 2017


A Feira do Livro do Porto 2017 abriu no passado dia 2 Setembro. E este ano, a homenageada é Sophia de Mello Breyner Andresen. Mais uma escritora de meus afectos, Sophia

O evento, organização da C.M. Porto há quatro anos, instalou-se definitivamente nos Jardins do Palácio de Cristal (que já deixou de poder assim chamar-se, desde a demolição da linda nave em ferro e vidro do final do século XIX, em 1951). 

Histórias contadas pelos meus pais que eles sim, puderam apreciar esse importante espaço de cultura, o órgão de tubos, um dos maiores do mundo. Nessa nave, denominada Palácio de Cristal devido aos seus imensos espelhos e vitrais. 

Aí se deram importantes concertos do compositor Viana da Mota ou da virtuosa violoncelista Guilhermina Suggia.

A realidade é outra, hoje, mas os jardins continuam a ser conhecidos como Palácio de Cristal por imposição dos portueenses.

A Feira do Livro do Porto 2017 que tem lugar então no Palácio de Cristal faz cruzamento de diversas expressões da cultura: a escrita, a leitura e o universo literário da grande poeta portuguesa.






Sophia de Mello Breyner
créditos: António Pedro Ferreira

O nome de Sophia ficou já plantado na Avenida das Tílias. Partindo do mote:

 “Em todos os jardins hei-de florir”. 

in Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia


O espaço central da Feira do Livro do Porto, nos Jardins do Palácio de Cristal, recebeu a placa com o nome da poeta, no dia 2 de Setembro, aumentando para quatro, os autores ali perpetuados. 

Dele constam as tílias dedicadas a Vasco Graça-Moura, Agustina Bessa-Luís, Mário Cláudio e, agora, Sophia.





Painel Sophia de Mello Breyner
créditos: Miguel Nogueira


 "A terra o sol o mar
são minha biografia e meu rosto"

versos de Sophia. Constam da placa descerrada junto à tília a que foi atribuída o nome da poeta, na que é já conhecida como Alameda dos Escritores, dado que em cada edição da Feira do Livro, desde 2014, aí tem sido celebrado um autor. 


Abriu-se um ciclo de debates que começou uma conversa em torno da vida e obra de Sophia cujo tema foi, A Terra, O Sol, O Vento, O Mar/ são Minha Biografia e são o Meu Rosto. O debate foi moderado pelo filho da poeta, Miguel de Sousa Tavares.





Feira do Livro do Porto 2017


De acesso livre, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, situada no início da Avenida das Tílias, estão a decorrer simultaneamente o ciclo municipal Um Objeto e Seus Discursos por Semana e o conjunto de debates comissariados por José Eduardo Agualusa.





José Eduardo Água-Lusa
créditos: Miguel Nogueira

"Num mundo em convulsão, atormentado por grandes e imprevistas mudanças, e em busca de novos caminhos e ideais, a literatura tem um papel cada vez mais importante: o de promover o debate e pensar o futuro", aponta o escritor que, com esse objetivo, traz à Feira do Livro do Porto "um conjunto de escritores de grande relevância a nível internacional e no espaço da lusofonia, os quais irão discutir entre si, e com os leitores presentes, temas como a construção e a reinvenção da memória, a instalação do mal, ou o lugar do sagrado e do profano na literatura e na sociedade".

José Eduardo Agua-Lusa

A intenção deste ciclo é "criar um Porto de Ideias, um lugar de encontro de escritores e pensadores relevantes de várias nacionalidades, dando assim "continuidade a uma tradição de cosmopolitismo e partilha, característica da natureza de todas as antigas urbes portuárias", disse ainda Agualusa.

Mais de uma centena de eventos de acesso livre têm lugar até 17 de Setembro. Poderão seguir todas as actividadades culturais no Jornal da Feira do Livro do Porto.





A Casa, A Escuridão
José Luís Peixoto, 5ª edição, 2014
edições Quetzal


Dos debates apelidados de spoken words (não entendo muito bem o emprego deste anglicismo, neste contexto), perdi as conversas com os escritores como José Luís Peixoto, em O Sagrado e o Profano na Literatura

Sou grande admirada dos seus livros, desde Morreste-me e A Casa, A Escuridão, dois dos seus primeiros livros que marcaram definitivamente a carreira do escritor português com quem já tive o gosto de conversar. Li os dois livros, mal saíram as primeiras edições em 2000 (edição de autor) e 2002 na Temas & Debates. 





A Vegetariana
Hang Kang
Man Booker International Prize 2016
edições Dom Quixote


E com a 
sul-coreana Hang Kang em A Solidão do Oriente. Li durante estas férias o seu primeiro livro editado em Portugal, A Vegeteriana, vencedor do Man Booker International Prize 2016.

Duas conversas que me teriam agradado profundamente. Mas viagens já programadas para os dois fins-de-semana, impediram-me de me deslocar ao auditório da Biblioteca Almeida Garrett. 

Tinha toda a curiosidade em ouvir Hang Kang. Seria talvez a rara oportunidade de escutar uma das vozes mais originais da nova literatura. Filha e irmã de escritores, estreou-se com poesia aos 23 anos. Veio falar das suas obras - saíu há poucos dias o seu segundo livro, Actos Humanos - divulgando pormenores reais e até mais intimos do seu processo de escrita.







Hang Kang
créditos: YouTube


No entanto, pude ler uma entrevista com Hang Kang, no Expresso. Entendi melhor a dor e violência de A Vegetariana, a que a autora juntou sensualidade, numa tridimensionalidade estoica acerca da situação da mulher numa sociedade conservadora.

Apesar da escrita quase coloquial, um livro não muito fácil de ler, mas aconselho com sinceridade.

Não deixem de ler a entrevista na sua língua materna, traduzida e legendada em inglês. Este documento mostrou-me a sensibilidade da jovem mulher por trás da sua escrita.

Voltando aos eventos, ontem à noite, "Que Mistérios tem Clarice" recordou os 40 anos da morte de Clarice Lispector e os 30 de Carlos Drummond de Andrade, usando como mote o poema em que o escritor retratou Clarice com a palavra 'mistério', que serviria de título a uma canção de Caetano Veloso.





Inauguração da Exposição Quatro Elementos
créditos: Miguel Nogueira & Filipa Brito


No âmbito da Feira do Livro, e interrelacionadas com a temática do universo literário de Sophia, estão também patentes duas exposições na Galeria Municipal do Porto, no Palácio de Cristal. 





Exposição Quatro Elementos
créditos: Filipa Brito

Quatro Elementos - Fogo, Terra, Ar, Água - exposição de artes plásticas contemporâneas congregando pintores, escultores, desenhadores, videoartistas, músicos e outros artistas num diálogo com a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen.



 



Inauguração da Exposição
créditos: Fernando Veludo/ Lusa


O Anjo de Timor e outras histórias - ilustrações para Sophia: exposição com as obras de Graça Morais e Júlio Resende que fazem um trajecto através de três livros de Sophia de Mello Breyner Andresen.

"O Anjo de Timor” foi um conto escrito por Sophia no Natal de 1991.




O Anjo de Timor
Graça Morais
para conto de Sophia Mello Breyner

O conto foi escrito pouco depois do massacre de Santa Cruz em que que foram assassinados centenas de timorenses. A exposição, é acompanhada pela narração do conto na voz da própria Sophia (gravação cedida pela Rádio Renascença).
"As ilustrações desta história de revelação e de espera, entre o familiar e o sublime, são da artista Graça Morais e contribuem com a sua intensidade cromática para que a voz da poeta nos transporte a paragens longínquas." 






Primeiro Livro de Poesia
Sophia de Mello Breyner Andresen
ilustrações: Julio Resende

Ilustrações de Júlio Resende, o Primeiro Livro de Poesia, uma compilação editada por Sophia de Mello Breyner Andresen, que assim o apresentou: 

"Este livro não é uma antologia[...]

Constituído por obras de poetas de todos os países de língua oficial portuguesa, é um livro de iniciação, destinado à infância e à adolescência e onde procurei reunir poemas que, sendo verdadeira poesia, sejam também acessíveis".

Entrada para as exposições de acesso livre. 

Esta vai ser a minha semana dedicada às duas exposições. E passagem pelos pavilhões das editoras presentes. 





Feira do Livro do Porto 2017
https://feiradolivro.porto.pt/

Quanto a eventos, quem sabe se O Colóquio Oscar Lopes (1916-2013) meu professor na Faculdade de Letras do Porto.

Ou Carlos Drummond de Andrade por Clara Rowland - Máquina do Mundo, A Poesia de David Mourão-Ferreira: Um Percurso “Do Tempo ao Coração. E talvez Húmus de Raul Brandão: Entre o Sonho e o Grito no 150º Aniversário do nascimento do autor.

Entrada livre em todos os eventos. Pode acompanhar diariamente o certame na página do Facebook

G-S

Fragmentos Culturais

09.09.2017

Copyright © 2017-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®


2 comentários:

  1. Ausente como habitualmente nas primeiras semanas de Setembro, para férias, não fiz a minha visita à Feira do Livro.
    No entanto, este post deu-me a possibilidade de ficar a saber um pouco do que por lá aconteceu, ficando mais informado e também curioso.
    Mais uma vez grato pela partilha.
    Tudo de bom.

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  2. Embora tivesse andado por aqui, excepto aos fin-de-semana, não vi grande coisa, AFlores.

    A última semana tornou-se muito fria, e dei uma ligeira vista de olhos por lá. O Palácio é bastante fresco devido à proximidade do rio. Não foi o caso do ano anterior, em que fui na última semana, também, mas a temperatura esteve muito mais agradável.

    A exposição 'O Anjo de Timor e outras histórias - ilustrações para Sophia' suponho que ainda está a decorrer.

    Com grande pena minha, aproveitei muito pouco deste evento que teve excelentes momentos.

    Mais uma vez, agradeço a tua generosa intervenção em 'fragmentos' :-)

    Tudo de bom.

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