sábado, 23 de maio de 2015

Graça Morais : 40 anos de pintura em retrospectiva






Graça Morais
créditos : Joaquim Norte de Sousa

" A minha pintura resulta da minha história."

Graça Morais

Graça Morais celebra 40 anos de pintura no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, desde Fevereiro 2015.

Gosto particularmente de pintura contemporânea. Conhecido, pelos amigos que me lêem, o meu apreço por Júlio Pomar, Eduardo Luis (prematuramente desaparecido), dois pintores que conheci em Paris. Eram amigos de um dos meus irmãos.

Paula Rego, Benvindo de Carvalho, um grande amigo, Graça Morais, e mais alguns. Não muitos.

Desde sempre admirei a arte de Graça Morais que tem como referência o real no encontro com Trás-os-Montes, numa interpretação pictórica inquietante, e inquieta, baseda na reflexão que a pintora faz do mundo.


Na sua cabeça está Trás-os-Montes. Ela e a terra não são uma só, mas ela não se compreende sem a terra.



Vieiro, 1996
Graça Morais



Natural de Vieiro, no concelho transmontano de Vila Flor, Maria da Graça Pinto de Almeida Morais, a pintora Graça Morais, viveu em Moçambique com a família antes de se mudar para o Porto. 


Fois nesta cidade que estudou Pintura na reputada Escola de Belas Artes do Porto.

Chagall 
e Van Gogh foram as suas primeiras influências. Depois seguiram-se Rembrandt Francis Bacon, que descobriu em Paris. Até que em 1974, fez a sua primeira exposição individual, em Guimarães. 




Graça Morais
créditos : Joaquim Norte de Sousa
http://images.cdn.impresa.pt/


"A sua prática pictórica não está no registo do pitoresco ou na captação sob ponto de vista etnográfico para memória futura, está antes na exploração de um imaginário e no modo como explana, com grande sinceridade pictórica, o que observa e lhe subtrai a redutora referência naturalista."

Segundo palavras da pintora, foram 40 anos de encontros, supresas, descobertas, e muitas realizações. Quarenta anos felizes. Bem sucedidos.

Conta ainda que foi difícil quando iniciou o curso nas Belas Artes. Havia poucas mulheres a pintar. 

"Sou da geração em que as mulheres tinham de lutar para serem notadas e respeitadas."

Graça Morais



Graça Morais
créditos : Joaquim Norte de Sousa

Foi depois viver para Paris e, quando regressou a Lisboa, nos anos 80, o seu trabalho foi muito bem aceite. 

Conhecidos escritores visitavam as suas exposições. Escreviam textos inspirados na sua pintura. 

E a sua arte passou a ser muito admirada. No entanto, a sua inquietação não abrandou. Obrigava-se a trabalhar, sempre em busca de algo de novo, de diferente.

"Quando pinto sou muito verdadeira e since­ra comigo, porque não me posso enganar. E há uma relação de grande autenticidade que passa para os outros."

Graça Morais

Sendo uma pessoa muito reservada, é através da pintura que comunica melhor com os outros e com o mundo.




Graça Morais
créditos : Joaquim Norte de Sousa
http://images.cdn.impresa.pt/

"Falo pintando, desenhando. Falo como sei, daquilo que sei, só falo de mim. Quando falo do meu mundo, no fundo estou a falar de mim, não estou a falar de mais ninguém." 

Graça Morais

Confessa que a sua pintura resulta da sua história. Apesar de ter nascido numa pequena aldeia isolada, da qual guarda recordações, tem também as grandes referências da pintura mundial, da humanidade, e do quotidiano.

"Através da arte, da inteligência e da solidariedade podemos equilibrar o mundo, em oposição a tudo o que de negativo acontece. A arte dá-nos essa dimensão."

Graça Morais

Na sua obra ao longo destas quatro décadas, as mulheres são as protagonistas.






Graça Morais
créditos : Joaquim Norte de Sousa
http://images.cdn.impresa.pt/

"O meu olhar é de grande respeito e admiração pelas mulheres e pelo mundo das mulheres. As mulheres que conheci na minha infância, e com quem continuo a conviver, tiveram vidas muito duras, mas mantêm-se íntegras e cheias de valores. São verdadeiras matriarcas, pessoas sábias, com muitos conhecimentos e agarradas à terra."

Graça Morais

Aqui Graça Morais pela pintura, se aproxima muito de Agustina Bessa-Luís na literatura. Agustina tem esse mesmo culto pelas mulheres, a quem atribui também grande sabedoria. E nos seus livros, são igualmente as mulheres, as grandes protagonistas. Basta começar em 'Sibila'.




Graça Morais/ Deusas da Montanha
créditos: CM Bragança

A pintora é conhecida por ser uma grande coleccionadora, separando-se assim, com dificuldade de seus quadros.

No entanto, admite que fica contente quando bons coleccionadores ou colecções públicas adquirem as suas obras. Quem não gosta de se sentir bem reconhecida!

Graça Morais é casada com o músico Pedro Caldeira Cabral, uma referência na música erudita medieval, e tradicional portuguesa.





Graça Morais

créditos : Joaquim Norte de Sousa

A artista recebeu vários prémios e tem a alegria de ver um centro de arte com o seu nome, e na sua região natal.

O Centro de Arte Contemporânea Graça Morais é um projecto do arquitecto Souto Moura com a qualidade internacionalmente que lhe é reconhecida.


"Este centro representa muito na minha vida, porque é aqui que os portugueses, mas também os estrangeiros, podem ficar a conhecer a minha obra. E é uma forma de eu agradecer a esta comunidade aquilo que desde criança me foi oferecido."


Graça Morais


Graça Morais
créditos: Nelson Garrido,2011


A exposição Ritos e Mitos - Quarenta anos depois – 1974/2014 que já esteve patente em Guimarães, 2014, é a retrospectiva da sua obra ao longo de 40 anos, encontra-se agora no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais,  em Bragrança, até 28 Junho 2015.





Graça Morais
Exposição Restropectiva
 Ritos e Mitos - Quarenta Anos Depois - 1974/2014
Sociedade Martins Sarmento/ Guimarães

“Um quadro é sempre o lugar da minha maior intimidade. Estou lá toda. Tudo o que absorvo do exterior passa primeiro por dentro de mim, pelas minhas vísceras, pela minha cabeça. E depois sai e fica numa tela.” 

Graça Morais, 2002 

G-S

Fragmentos Culturais

23.05.2015
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Referências: 

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais
Entrevista de Graça Morais a Joana Brandão/ Caras


2 comentários:

  1. muito bem...
    gostei de saber-te admiradora da Graça Morais.

    beijo

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  2. ... supus que já sabias. Já tinha publicado um outro post dedicado a Graça Morais.

    Sim, gosto da sua ligação à terra, da admiração e carinho que tem pelas mulheres portuguesas. Faz-me lembrar Agustina Bessa-Luís, Natália Correia (na literatura), e Paula Rego (numa grande parte da sua pintura).

    Bom domingo, 'Herético' :-)
    Beijo

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