Michael Nyman
via Radio Renascença
Perguntar-se-ão por que razão estou a escrever sobre concertos tão dispares? Para mim só na forma, não no conteúdo. Boa música é boa música, independentemente dos estilos. Dois concertos que faziam parte do meu imaginário, mal os vi anunciados.
Um excelente regresso à Casa da Música. Nada que me impedisse. Tudo para me atrair. Sim porque música é paixão, sintonia, afectos. E estes dois músicos despertam em mim a vontade de fruir ao vivo de boa música, daquela música que nos eleva das esferas do quotidiano.
Michael Nyman e Selah Sue fazem parte do meu universo estético-musical. Foi o mês passado, em Junho. Eu sei! Já lá vai algum tempo, mas que posso dizer? Nem sempre nos entregamos ao acto de escrever.
Sofro desse mal há algum tempo. Hábito que começa a instalar-se mais do que desejaria e que tento combater. Estados de alma que vêm e nem sempre se afastam ao ritmo que gostaríamos. Quem sabe se compreenderão?
Falemos então de música. Duas noites especiais, num curto espaço de tempo. Uma semana. Michael Nyman, o célebre e conceituado compositor e pianista britânico a solo Quem não lembra o filme The Piano.
E Selah Sue, a jovem, bonita e talentosa cantautora pop, de origem belga (Flandres) e a sua banda.
Nyman e “Solo and Cine Opera”, tema da sua tournée. Teve lugar no dia 26 Junho. Sala Suggia, não esgotada.
Um excelente regresso à Casa da Música. Nada que me impedisse. Tudo para me atrair. Sim porque música é paixão, sintonia, afectos. E estes dois músicos despertam em mim a vontade de fruir ao vivo de boa música, daquela música que nos eleva das esferas do quotidiano.
Selah Sue
Sofro desse mal há algum tempo. Hábito que começa a instalar-se mais do que desejaria e que tento combater. Estados de alma que vêm e nem sempre se afastam ao ritmo que gostaríamos. Quem sabe se compreenderão?
Falemos então de música. Duas noites especiais, num curto espaço de tempo. Uma semana. Michael Nyman, o célebre e conceituado compositor e pianista britânico a solo Quem não lembra o filme The Piano.
E Selah Sue, a jovem, bonita e talentosa cantautora pop, de origem belga (Flandres) e a sua banda.
Michael Nyman | CCB
créditos: David Sineiro
Em palco, apenas Nyman. E o piano. O compositor e pianista entrou em palco, depois de as luzes se desligaram, no final de um curto vídeo. Discretamente. Assim permaneceu ao longo de todo o concerto. Silencioso nas palavras, quase inexpressivo nas atitudes. Apenas o som do piano. E algumas imagens de vídeos captados pelo compositor ao longo das suas viagens.
'No Bull'. Imagens de uma tourada à espanhola, sangue, violência. Detestei. Percorri com o olhar a sala. A música que se ouvia transmitia o oposto da violência. Melhor assim.
Michael Nyman entrou na penumbra depois de 'No Bull' e sentou-se ao piano, na discreta postura escolhida para todo o concerto. O nosso olhar concentrou-se no perfil recortado pelo spot de luz difusa, dando um ar ainda mais distante. E assim continuou até final.
Mudo, nas palavras, ausente, no olhar. O público não era importante. Como se ninguém estivesse na sala.
Mudo, nas palavras, ausente, no olhar. O público não era importante. Como se ninguém estivesse na sala.
Michael Nyman
Casa da Música
créditos: Ana Limão
As sonoridades do piano captavam a nossa total atenção. Mais do que as imagens urbanas. Sobressaiu o tema da velhice, constante, ao longo do concerto. 'Berlin Lobbysts', 'Slow Walkers'. Uma alusão à caminhada que todos teremos de fazer: a velhice.
Muito diferente de Philip Glass (2011) que, apesar de mais velho, se mostrou aberto, sensível, receptivo, mais virado para o lado positivo da vida. Influências espirituais de Ravir Shankar?
Nyman tocou, seguindo as partituras que ia amontoando no chão do palco, em gesto rápido. E lá ficaram.
Ouvimos temas de algumas das suas bandas sonoras cinematográficas. The Piano não poderia faltar. Uma das mais belas bandas sonoras.
The Piano
Jane Campion, 1993
Sem vídeo, ouvimos ainda temas dos filmes 'The Diary of Anne Franck' (1995), 'Why'. A guerra, o sofrimento? 'The End of the Affair' (1999), adaptação do livro de Graham Green com o mesmo título, com o tema 'Diary of Love'. Sensível ilustração. Finalmente, um rasgo de sensibilidade.
The End of The Affair
Neil Jordan, 1999
E continuámos pela música que nos levava ao imaginário, em contraponto com as imagens reveladoras do lado real da vida. E de um músico que desconhecia a presença do seu público na sala Suggia.
Mensagem de um concerto de piano, sem palavras? A vida é dura, envelhece-se, sofre-se. Em contraponto, a música. A dicotomia ao longo do concerto.
Imagens que nos despertam, perturbam, emocionam. A música que nos alivia, envolve, liberta. No final, o silêncio absoluto no agradecimento. Um concerto sem alma. Mas musicalmente perfeito.
Selah Sue | Casa da Música
créditos: Anaïs F. Afonso
via Palco Principal
Na antítese, luminosa, alegre, terna, surge Selah Sue no palco da Casa da Música uns dias depois, 3 Julho. Sala Suggia completa, com coro aberto.
Começa em tom acústico, initmista, Always Home, uma voz doce, cristalina e selvagem com timbres fortes mesclados de melancolia - lembra Amy Winehouse, por vezes - e, de repente, salta para uma alegria contagiante, solicitando ao público que se levantasse. Nada fácil na Casa da Música.
Selah Sue
Casa da Música
créditos: Fernando Veludo (?)
via Público7/ Cultura
"É de loucos, não acredito! Stand up!" Os desejos dela são ordens. E a sala levantou-se. Finalmente! Dançou-se, trauteou-se, marcou-se o ritmo. Fyah Fyah, Break, Explanations... Só assisti a algo semelhante com Peter Murphy (2009).
Peace of Mind (alguns gritos, algum público muito jovem, presença salutar) e Raggamuffin, um dos hits maiores de Sue, numa relação completamente bidireccional entre público e músicos. 'Mummy' e 'Break' em momentos mais interiorizados, a solo, temas em que a angústia se sente mais presente.
Descobri-a na Internet, há mais de um ano. Sue foi eleita artista revelação pela Rolling Stone (2012) e vencedora do European Border Breakers Award / EBBA (2011).
Saí, mais solta, feliz pela hora e meia da voz e presença da encantadora Selah Sue. Um concerto com alma. Inteira.
G-S
Fragmentos Culturais
Selah Sue
Casa da Música
créditos: Fernando Veludo(?)
via Público/ Cultura
Radiosa, alegre, é acompanhada por toda a sala, On the Run, agora já apoiada pela banda. Canta, dança, movimenta-se em gestos soltos. Jazz, rap, soul, funk? Tudo à mistura. Adorável e comunicativa, simples, com uma vontade imensa de se entregar.
Peace of Mind (alguns gritos, algum público muito jovem, presença salutar) e Raggamuffin, um dos hits maiores de Sue, numa relação completamente bidireccional entre público e músicos. 'Mummy' e 'Break' em momentos mais interiorizados, a solo, temas em que a angústia se sente mais presente.
Selah Sue
créditos: David Wolff - Patrick/WireImage
via Rollingstone Music
"Selah Sue is proof that the world is smaller, and that MySpace still has a stake in launching careers. The Belgian reggae-soul singer placed a few songs on the site at the request of her friends, and the rest is history."
Selah Sue
créditos: Getty Images
European Breakers Awards 2011
via Wikipedia
Um contraste tão acentuado entre Nyman e Sue só me poderia saber muito bem. E foi salutar! Divino. Despertou energias. Depurativo de algumas nuvens mais pardacentas que me têm cercado.
Saí, mais solta, feliz pela hora e meia da voz e presença da encantadora Selah Sue. Um concerto com alma. Inteira.
G-S
Fragmentos Culturais
21.07.2013
Copyright © 2013-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®
Ouvi alguém opinar que na música, não havia nada para "inventar"!
Discordo inteiramente! Para mim, enquanto houver homens há criação musical e há muito para "inventar".
Um beijo. Vitor.
Pois eu continuo a adorar música, clássica, contemporânea, jazz, pop, pop-rock, soul... logo que seja de qualidade. Foi o caso destes dois concertos a que assisti.
ResponderEliminarQuanto ao poder inventivo, penso que não há muito ou quase nada para inventar nas Artes e Humanidades. Há que 'reinventar.
O mesmo não afirmo das Ciências e Tecnologias. Os campos são vastos neste século XXI
Foi um gosto voltar a ler-te em 'fragmentos', Vítor! Muito obrigada.
Beijo,