segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Miró : Materialidade e Metamorfose : Serralves





Cartaz Exposição Joan Miró
Casa de Serralves
https://www.serralves.pt/
Fui ver Miró: Materialidade e Metamorfose na Casa de Serralves. Penúltimo domingo de Janeiro. Tarde muito fria, sem chuva. Fora-me impossível ir até lá, antes. Teria preferido um dia de semana.

Casa de Serralves cheia. Normal. Última semana, segundo a data anunciada, 28 Janeiro 2017.

Possibilidade de poder admirar cuidadosamente as seis décadas de actividade artística do célebre artista? Quase desbravando um pequeno lugar, de quando em vez.





Joan Miró : Materialidade e Metamorfose
créditos: Serralves
foto: ©GS

Joan Miró: Materialidade e metamorfose reúne setenta e oito pinturas, desenhos, esculturas, colagens e tapeçarias da excepcional colecção de obras do artista catalão (1924-1981).

Colecção agora pertencente ao Estado português. Saíu do espólio de um antigo banco. E não fora a intervenção de muitos cidadãos, teria sido vendida pela Christie's. A polémica em torno destas 85 obras de Joan Miró foi bastante longa.

A exposição inclui "desenhos e outras obras sobre papel, pinturas (com suportes distintos)", além de seis tapeçarias (1973), uma escultura, colagens, uma obra da série "Telas queimadas” (suspensa da galeria superior que dá sobre o imponente hall central de duplo pé direito),  e várias pinturas murais.




Joan Miró : Materialidade e metamorfose
créditos: Rui Oliveira/ Global Imagens

Percorrendo seis décadas de actividade artística, a exposição identifica a natureza física dos suportes e a elaboração dos materiais como fundamentos da obra plástica de Joan Miró. 

Comissariada por Robert Lubar Messeri, destacado especialista mundial na obra de Miró, tem projecto expositivo de Álvaro Siza Vieira. Quanto ao processo expositivo, deter-me-ei mais abaixo.em algumas notas pessoais.

"É uma colecção de qualidade muito alta, que nunca poderá voltar a ser construída no futuro. Diria que o conjunto faz sentido como um todo, sem ser enciclopédico. Dá-nos uma visão extremamente rica da trajectória artística de Miró”.

 Robert Lubar Messeri






Sala 2: Painting, 1953, óleo sobre tela (ao fundo)
 Écriture sur fond rouge, 17 fev 1960, óleo sobre tela (tela maior dimensão)
créditos: Jorge Carmona/ RTP

"Miró era, de muitas formas, uma figura quimérica cuja intensa criatividade não podia ser confinada a uma única tradição. Através da permanente reinvenção de uma linguagem visual que desenvolveu pela primeira vez nos anos 1920 — uma linguagem que se transforma e metamorfoseia ultrapassando as fronteiras de materiais e meios —, Miró redefiniu a prática artística do século XX."





Miró : Materialidade e Metamorfoses
créditos: Rui Oliveira/ Global Imagens

O pensamento visual de Miró, o modo como trabalha com sensações que variam entre 'o táctil e o óptico' e os processos de elaboração das suas obras podem ser observados em detalhe, com recurso a media.

"A reinvenção da linguagem pictórica, questão fulcral dos primeiros modernismos, passa, em Miró, a partir de 1924, pelo desenvolvimento de uma inovadora linguagem de signos que metamorfoseou a sua arte." 

Paralelamente à experimentação de materiais, o artista desenvolveu uma inovadora linguagem de signos que alterou o curso da arte moderna. 





Joan Miró: Materialidade e Metamorfose
créditos: Serralves
foto: ©GS

"Através de um processo de transformação morfológica, os objectos adquirem no trabalho de Miró o estatuto de signos visuais: nas suas tapeçarias, mechas de fio podem funcionar como substitutos de salpicos de tinta; o arame das suas primeiras colagens representa frequentemente a linha desenhada; e por vezes o papel replica as características físicas da tela enquanto suporte."





Sala 3:  La Flornarina (D'après Raphaël), 1929, óleo sobre tela (ao fundo)
créditos: Jorge Carmona/ RTP

No seu duplo estatuto de definidor da forma do modernismo do século XX e seu transgressor 'simultaneamente pintor e antipintor', Joan Miró desafiou o 'próprio conceito de especificidade do meio'.

Apesar do excesso de visitantes, normal para um domingo, é uma exposição esplêndida. Para ser admirada com singular atenção.

Como preâmbulo, aproveitei para visitar as exposições Michael Krebber: The Living Wedge e Conversas: Arte recente na Colecção de Serralves.

Michael Krebber surpreendeu-me em várias das suas obras. Conhecia muito pouco do trabalho deste pintor.





Joan Miró : Materialidade e Metamorfose
créditos: Serralves

Depois, foi o tempo de visitar Joan Miró. A movimentação não abrandara. Bem pelo contrário. Casa de Serralves cheia.

Debruçando-me agora sobre algumas possíveis impressões de uma visita que foi tudo menos tranquila.




Sala 6: Femme et Oiseau, 1929, óleo sobre tela (ao fundo)
 Personnage, 1960, óleo e lápis de cera sobre cartão
Graphisme concret, 1951, tinta da china sobre papel
créditos: créditos: Jorge Carmona/ RTP


Olhando assim, as salas parecem amplas, como na realidade são. Mas não estavam. Foram muito reduzidas. Painéis de tela creme, cortam a dimensão, a beleza das amplas paredes que contêm alguns móveis pertencentes à ultima família que as habitou. 

A imensa luminosidade que costuma brotar das altas vidraças rasgadas sobre o jardim principal? Não se via por trás dos estores colocados. Bem sei que à hora que consegui ingressar na Casa de Serralves, havia já pouca luz natural.

Melhor preservação das obras expostas? Talvez. Problemas ligados à segurança da colecção? Possível.





Joan Miró: Materialidade e Metamorfose
créditos: Serralves
foto: ©GS

O certo é que, nesse domingo, se um visitante se quedasse por minutos em frente a um quadro, outro que tentasse aproximar-se, sentia-se inibido. Questão de espaço e de civismo. Obra de arte tem 'um tempo' para ser admirada.

Era como que se tivéssemos que nos colocar em fila, com tempo de pausa dependente do visitante que nos precedia. Atropelo não é bonito. Mas houve!

Se não conhecesse bem aquela casa, aquelas vastas salas, diria que se tratavam de aposentos pequenos, estreitos, sombrios. O final da tarde também não ajudou.

Admiro profundamente Álvaro Siza Vieira. Mas não entendi este seu projecto expositivo.




Joan Miró : Materialidade e Metamorfose
créditos: Serralves
foto: ©GS

As obras perdem a verdadeira beleza e dimensão artística. Espaços demasiado pequenos para uma mostra que abarca um período tão vasto - seis décadas - da carreira de Joan Miró (1924 a 1981). O excesso de visitantes foi também condicionante.

Há um mini auditório (?) improvisado onde se projectam curtos filmes com Miró em momentos de criação. Mas, apenas permite o acesso a 4-5 visitantes. 

Se esses permanecerem durante toda a projecção, o que aconteceu, outros só poderão ter acesso às imagens, de longe.

Mal vislumbrei a técnica das 'telas queimadas'. Mas não deu para entender se havia som.




Miró : Materialidade e Metamorfoses
créditos: Pedro Correia/ Global Imagens

Retive-me nesta fotografia. Uma criança capta como o seu telemóvel a foto de um quadro que lhe despertou mais a atenção.

Para tal, qualquer visitante que estivesse por perto, se afastaria, delicadamente, para deixar captar a imagem deste delicioso momento. 

Talvez volte, já que a exposição se vai manter até 4 de Junho 2017. Escolherei, agora sim, uma tarde tranquila durante a semana. Chega a Primavera. Tempo mais propício para deambular. Revisitar a Casa de Serralves parece-me uma excelente ideia. Ver de novo a exposição - talvez com outros olhos? - algumas novas exposições. E passear no Parque. Claramente.





Miró: Materialidade e metamorfose
créditos: créditos: Jorge Carmona/ RTP

Sabe-se que a colecção das obras de Miró vai ficar em exposição permanente na Casa de Serralves, mas ainda não há datas. O espaço vai sofrer obras de adaptação. Estremeço, um pouco.  

As obras da Casa de Serralves, da responsabilidade do arquitecto Siza Vieira, que já está a trabalhar no projecto, não estão ainda programadas. 

A actual exposição “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose” já ultrapassou há muito os 95 000 mil visitantes.


"I try to apply colors like words that shape poems, like notes that shape music." 

Joan Miró
G-S

Fragmentos Culturais

30.01.2017
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Referências: 

Notas retiradas do Roteiro da Exposição
Fotos ©GS/ As fotos aqui reproduzidas pertencem aos autores e entidades referidos. Não se pretende infringir a Lei dos Direitos de Autor.

2 comentários:

  1. Apesar de não ser dos artistas cujas obras mais me atrai em, certamente que seria uma exposição que teria gosto de visitar. Claro que dispensava visitar num ambiente de multidão. Prefiro antes o sossego e não ter que ter um tempo limite para observar uma obra. Aqui, no relativo pequeno meio onde vivo e onde as exposições são na maioria de artistas locais, tem o privilégio de por vezes (muitas vezes até) de ver a exposição sozinho e estar a vê-la durante o tempo que me apetece :-).

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  2. Também não é um dos meus pintores preferidos, embora tenha vários quadros que gosto muito.

    Sem dúvida que me atrai muito mais visitar uma exposição em tranquilos momentos. Mas fui deixando passar, e quando dei por ela, acabava nesse fim-de-semana.

    Lamentável e talvez enganadora informação? No dia seguinte, lia-se que devido ao sucesso seria prolongada. E foi.

    É bom, quando se vive numa cidade mais pequena, porque este tipo de eventos, usufruem-se com mais qualidade. Tal como dizes, solitariamente e no tempo que desejamos...

    Sensibilizada pelos teus comentários :-)

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