segunda-feira, 13 de junho de 2016

Volto ao cinema : Time Out of Mind






Viver à Margem
Time Out of Mind, 2014

"Gere, who has shockingly never been nominated for an Oscar, gives the performance of his career, intuitive and indelible. Maybe it's naive to think a movie like this can heighten our awareness, even change things. So what."

Peter Travers, Rolling Stone

Imagine que vai a passear na rua e vê um sem-abrigo, sentado a um canto, numa rua movimentada de Nova Iorque. Olha com tristeza, depois olha mais atentamente. Aquele não é... Richard Gere?

Parece surreal, mas aconteceu nas ruas de Nova Iorque durante as filmagens de Time Out of Mind / Viver à Margem. Richard Gere personificou a vida de um sem-abrigo neste seu último trabalho. Mas durante as filmagens de rua, ninguém reconheceu o actor sua interpretação de sem-abrigo pedindo esmola.



Richard Gere
Viver à Margem | Time out of Mind, 2014
Vai longe o tempo de American GigoloAn Officer and a Gentleman, ou mesmo Pretty Woman  - para citar apenas os filmes mais emblemáticos do actor no papel glamoroso. Time Out of Mind desconstrói essa imagem de glamour de Richard Gere, ao personificar com realismo a vida dos sem-abrigo das grandes cidades.

O filme não foge à mensagem que tenta passar. É rigoroso, quase construido como um documentário.

Durante a projecção, alguns de nós - não eram muitos os espectadores que se interessaram nessa tarde por causas humanitárias - sentimo-nos pouco à vontade no lugar que ocupamos na sociedade consumista em que vivemos.


Richard Gere
Viver à Margem | Time out of Mind, 2014
Viver à margem segue George pela cidade de Nova Iorque, acompanha a sua rotina diária: obter dinheiro para comer, pedindo esmola, lutar por abrigo todas as noites, e a tentativa de obter uma identificação para provar que existe para os serviços sociais. Talvez para si mesmo também?

Segundo as palavras do actor, a experiência serviu para se dar conta dos privilégios de que beneficia no dia-a-dia. 

"Esquecemos tantas vezes a sorte que temos. Nunca devemos dá-la por garantida. E se pudermos ajudar alguém, devemos fazê-lo”. 
Richard Gere

Não temos dúvida. O filme mexe com a nossa consciência. Toca-nos, as imagens entranham-se. Saimos com a convicção que é possível fazer algo mais.


Richard Gere
Viver à Margem | Time out of Mind, 2014
http://www.imdb.com/

"I'm nobody. I don't exist."
George/ Richard Gere

O drama indie é despido de sentimentalismo, apresenta-se como um filme-documentário na sua autenticidade, sem complacência com a situação de George

Richard Gere dá uma contribuição inteligente e concertada a este filme de Oren Moverman, sobre a agonia pessoal de um homem no final da meia-idade que se vê nas ruas, despojado de tudo. 

Os críticos são unânimes em considerar uma das suas melhores interpretações dos últimos vinte anos. Concordo. A poesia do filme, se existe, está na subtileza do desempenho de Gere. 

Também na fotografia de Bobby Bukowski, que encontra um caleidoscópio de cores e reflexos nos cantos mais sombrios e desesperados da cidade. As janelas tais espelhos quebrados, reflectem pontos fracturantes da existência humana.

Richard Gere, budista por convicção, e defensor da causa tibetana, sentiu na pele o drama vivido por homens e mulheres sem-abrigo. 

“Quando acabei as filmagens, dei comida e dinheiro a todos os sem-abrigo que vi na rua.”
Richard Gere


Richard Gere
Viver à Margem | Time out of Mind, 2014

Viver à Margem, tradução de Time Out of Mind mostra um dos mais 'glamorosos' actores de Hollywood, na personagem George. Um homem que vive nas ruas de Nova Iorque, saúde fragilizada, uma crise existencial profunda. Precaridade emocional e física levada quase ao extremo. Apenas um fio sentimental o prende à vida. Magie.

Mas se em Viver à MargemGeorge, a personagem interpretada por Gere, se sente sufocada na cidade, sem rumo, ou lugar onde passar a noite, a experiência como actor não lhe mostrou uma realidade muito diferente. 

Viver na rua diariamente, conhecer outros sem-abrigo nas associações humanitárias onde procurou abrigo. Gere fez todo o percurso, antes das filmagens para personificar humanamente a personagem. 

Filme constrangedor, realista, realizado por Oren Moverman é uma reflexão rigorosa, amarga, da vida dos sem-abrigo das grandes cidades.

Time Out of Mind não é um filme fácil. E temos dificuldade em deixá-lo penetrar de imediato na alma. Se não tivermos tomado atenção ao título original, não entendemos de imediato a cabeça confusa da personagem.


Apercebemo-nos melhor, a partir do momento que George segue a filha, Maggie (Jena Malone), barwoman no centro da cidade, quando o vemos mantê-la sob contrôlo, mas à distância. 

As tentativas difíceis, falhadas algumas vezes, para restabelecer algum tipo de contacto, dão ao filme a linha narrativa em curso. O desempenho da jovem actriz é banal, sem a força anímica que este drama exigia.




Richard Gere & Ben Vereen
Viver à Margem | Time out of Mind, 2014

Convincente, um pouco moroso, admirável pela integridade. Viver à Margem apresenta uma dificuldade inevitável, porque demasiado forte, de criar uma conexão emocional imediata. Preparem-se!

Em entrevista à revista americana “The Hollywood Reporter”, Richard Gere revelou que durante a experiência que viveu nas ruas, ninguém o reconheceu: 

“Senti o que é ser um sem-abrigo. As pessoas passavam e olhavam-me com pena. Apenas uma senhora foi suficientemente generosa para me dar comida”.





Richard Gere juntou-se à associação italiana #HomelessZero, sediada em Itália onde assistiu à projecção de Time out of Mind no final da semana.

Um filme que incomoda, eu sei, mas que aconselho. Gere interpreta  com inteligência e sensibilidade este papel de um sem-abrigo, George, numa pré-fase de demência.


"This sure isn’t a feelgood film, with George’s descent into some very, very dark places making for harrowing viewing.

But it’s a movie that truly ought to be seen by everyone – not just for the way in which it confronts our prejudices about the homeless, but for Gere’s soulful and stirring performance."
David Edwards, The Mirror

G-S


Fragmentos Culturais

13.06.2016

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2 comentários:

  1. Querida "Fragmentos"!!!! Sempre atenta.Sempre partilhando as coisas que interessam! No mundo de hoje, nas redes, é cada vez menos essa a preocupação...
    Ainda bem que continuas fiel ao teu compromisso com a importância da vida!!!!

    Não vi o filme, mas depois do teu post, quero mesmo vê-lo!!!!! Admiro o trabalho de R. Gere, mas vou com certeza adorar vê-lo em um papel diferente!!!! Obrigada, pela partilha!!!!

    Tenho estado longe daqui, sim!!!! muitas ocupações e "preocupações", como deves imaginar!!!! Mas não esqueço, de quando e vez, mesmo que não deixe sinal, de passar pelos "cantinhos" amigos!!!! Que tudo esteja bem contigo!!!!! Força! e que continues a desfrutar das coisas importantes e que fazem sentido na vida...
    Bjh grande,
    MC

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  2. Querida MC,

    Adoro quando me visitas. Sabes bem que sinto a tua ausência aqui em 'fragmentos'... mas entendo que cada um vai seguindo seus afazeres.

    Me conheces. Sou uma incondicional fã de cinema. O gosto vem-me de infância. Meus pais eram grandes apreciadores de cinema, E à medida que iamos crescendo, faziam-se rodear dos filhos.

    Este filme é mesmo um soco no estômago. Todos os presentes na sala o sentiram. E Gere tem uma interpretação excelente.

    Lamentável que muitas pessoas não tenham ido ver, por ser um filme que incomoda. Muito. E por não terem levado o actor a sério, neste filme de intervenção. Bem diferente de 'papéis' que estavam habituados.

    A maioria, talvez desconheça que Gere é budista desde os tempos da faculdade.

    'Ainda bem que continuas fiel ao teu compromisso com a importância da vida!!!!'...sabes bem que sim, querida amiga, embora este blogue tenha uma vertente virada para os meus gestos culturais, não esqueço, de modo algum o meu compromisso com a vida e os seres que me rodeiam.

    Espero bem que tenhas visto o filme. As críticas foram excelentes lá fora. Aqui passou quase despercebido :-(

    Que tenhas tido umas férias lindas, reparadoras, e que te sintas vitaminada para o ano de trabalho que começa dentro de poucos dias.Que tudo esteja bem contigo.

    Beijo grande,

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