Luz Casal
Voltei de alma cheia. Foi o meu primeiro concerto na Casa da Música nesta nova temporada. E foi magnífico.
Deveria ter escrito este post para o Dia Mundial da Música, 1 de Outubro. Assim o tinha previsto. Seria bom dedicar o Dia Mundial da Música a Luz Casal, já que o concerto teve lugar dois antes. Enfim, o atraso é notório, mas a intenção permance. Homenagear Luz Casal.
A sala estava repleta. A expectativa era grande pelo fervilhar dos gestos, e de algumas conversas captadas na passagem para o meu lugar.
Dá gosto olhar aquela escadaria cheia, no movimento buliçoso de ter acesso aos três patamares que levam às várias portas da sala Suggia.
Deveria ter escrito este post para o Dia Mundial da Música, 1 de Outubro. Assim o tinha previsto. Seria bom dedicar o Dia Mundial da Música a Luz Casal, já que o concerto teve lugar dois antes. Enfim, o atraso é notório, mas a intenção permance. Homenagear Luz Casal.
A sala estava repleta. A expectativa era grande pelo fervilhar dos gestos, e de algumas conversas captadas na passagem para o meu lugar.
Dá gosto olhar aquela escadaria cheia, no movimento buliçoso de ter acesso aos três patamares que levam às várias portas da sala Suggia.
Almodóvar, 1991
Luz Casal que passei a admirar dos filmes de Almodóvar apresentava-se naquela noite de 29 Setembro. Esteve brilhante. Mostrou-se alegre, intimista, multifacetada. Da música espanhola com sonoridades de flamenco, blues, rock, passou pela música brasileira - dois temas de Tom Jobim - bem como canções da música latino-americana, francesa e italiana.
Cantou dois temas portugueses: Pedro Ayres Magalhães, Sentir, e Rui Veloso. Rendeu ainda homenagem à grande Rosalía de Castro, poeta da sua Galiza, um poema muito sentido. Negra Sombra.
Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.(...)
Enfim, tocou todos os géneros com a voz inconfundível que continua magnífica, em nada se fazendo ressentir de duras provações de ordem física que a atingiram. Uma presença estética encantadora no palco, uma noite inesquecível na Casa da Música.
Havia dez anos que não passava por palcos portugueses. E foi num ambiente de quase penumbra que Luz surgiu. Uma mulher elegante, franzina, vestida de vermelho, numa criação que fazia realçar o seu cabelo negro. E todo o palco se iluminou, salientando a sua silhueta frágil entre os músicos (teclas, guitarras e bateria). Excepcionais, todos.
Luz veio apresentar o seu último disco Amas Gemelas (2013). Mas informou no final dessa sua primeira actuação que o concerto percorreria seu repertório. A plateia que se estendera até ao coro aplaudiu.
Foi cantando com aquela voz cuja dramaticidade é um dos toques mais especiais da vocalização de Luz Casal. Voz que gere com muita subtileza, perdendo-se nos cambiantes quando rasa o sussurro ou quando se abre até à imensidão dos seus sentires.
Aplaudida logo de início, as suas interpretações iam sendo ovacionadas com muito apreço. Luz Casal aproximou-se muito do público que a acarinhava efusivamente. Dir-se-ia que pairava um imenso carinho.
Luz rendeu-se à maravilhosa plateia que enchia a sala com um calor bem esfuziante das gentes do Porto e da Galiza. Sim, muitos fãs de Galiza presentes.
Ovacionava-se a artista, e ovacionou-se a lutadora que sai vencedora de mais uma enorme e injusta batalha. Venceu-a há poucos meses. E é necessário ser uma mulher muito especial para se aventurar a tournée internacional extensa com tão pouco tempo.
A sala inteira continuava a reagir com afecto e justos aplausos. Subiram de tom aos primeiros acordes de Entre mis recuerdos, Piensa en mí (clássico do filme Tacones Lejanos, Almodóvar). Arrasou o público, fazendo-se um silêncio quase 'sagrado' durante a interpretação sentida. Dezenas de vozes acompanhavam em surdina os versos da canção. Muito aplaudida.
Também os temas de Tom Jobim mantiveram o público colado àquela figura franzina mas de voz cheia que passou a apresentar-se vestida de negro. Confesso que o vermelho lhe dava muito mais luminosidade.
Em determinado momento, Luz, comunicando com o público em portiñol (não esquecer a sua origem, Galiza) pôs a sala a cantarolar o refrão de Un nuevo dia brillará, de início timidamente, depois com alegria.
Seguiram-se Negra sombra, versos de Rosalía Castro, um momento mais profundo, uma interpretação de magia telúrica no pulsar do sangue, uma canção-símbolo Gracias a la vida, homenagem latino-americana a Violeta Parra, Cenizas, No, no y no e Um año de amor encerraram oficialmente o espectáculo.
Mas não. O público não se deixou vencer. E de pé solicitava a presença de Luz Casal no palco. E Luz voltou para o encore.
Primeiro, só voz e piano, Lo eres todo e Inesperadamente, segundo tema português da noite dedicado ao amigo Rui Veloso
Depois, já com todos os músicos de volta ao palco, Besaré el suelo, solta e segura, uma incursão no rock. Foi nessa área musical que Luz Casal começou a ser conhecida na música. Continuou com Dame um beso, ranchera-rock que, de algum modo, abriu caminho à ranchera de Almas Gemelas, e Plantado en mi cabeza (do disco Como La Flor Prometida, 1995).
Valeu a pena esperar dez anos para ver e ouvir Luz Casal. Ficou a faltar, ao vivo, quase todo o CD Almas Gemelas. O que não deixa de ser um bom pretexto para que regresse aos palcos portugueses.
Almas Gemelas (poderá ouvir em playlist) marca o seu regresso aos inéditos, após seis anos afastada dos estúdios. Este álbum com edição internacional teve o título de Alma.
“Não tenho um conceito ou uma ideia clara. Mas há anos que tenho a sensação de que uma das coisas que gosto que os meus discos transmitam é uma certa esperança. É um propósito, isto não quer dizer que a esperança exista em cada canção, até porque algumas têm verdadeiramente desesperança. Mas há sempre uma janela aberta, uma maneira quase impudica de dizer: isto é assim e pronto. Mais forte do que a nudez física é expor os sentimentos de certos períodos da minha vida, desde Vida Tóxica. Eu não sou cronista, as canções surgem-me como visões, flashes subtis. São as interpretações que delas faz o público que as tornam distintas. Às vezes é o desejo de que as coisas mudem.”
G-S
Cantou dois temas portugueses: Pedro Ayres Magalhães, Sentir, e Rui Veloso. Rendeu ainda homenagem à grande Rosalía de Castro, poeta da sua Galiza, um poema muito sentido. Negra Sombra.
Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pé dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.(...)
Rosalía Castro, Negra Sombra, Follas Novas, 1880
Enfim, tocou todos os géneros com a voz inconfundível que continua magnífica, em nada se fazendo ressentir de duras provações de ordem física que a atingiram. Uma presença estética encantadora no palco, uma noite inesquecível na Casa da Música.
Luz Casal | Casa da Música
autor não identificado
autor não identificado
Havia dez anos que não passava por palcos portugueses. E foi num ambiente de quase penumbra que Luz surgiu. Uma mulher elegante, franzina, vestida de vermelho, numa criação que fazia realçar o seu cabelo negro. E todo o palco se iluminou, salientando a sua silhueta frágil entre os músicos (teclas, guitarras e bateria). Excepcionais, todos.
Luz Casal | CD
Luz veio apresentar o seu último disco Amas Gemelas (2013). Mas informou no final dessa sua primeira actuação que o concerto percorreria seu repertório. A plateia que se estendera até ao coro aplaudiu.
Foi cantando com aquela voz cuja dramaticidade é um dos toques mais especiais da vocalização de Luz Casal. Voz que gere com muita subtileza, perdendo-se nos cambiantes quando rasa o sussurro ou quando se abre até à imensidão dos seus sentires.
Luz Casal | Casa da Música
Luz rendeu-se à maravilhosa plateia que enchia a sala com um calor bem esfuziante das gentes do Porto e da Galiza. Sim, muitos fãs de Galiza presentes.
Ovacionava-se a artista, e ovacionou-se a lutadora que sai vencedora de mais uma enorme e injusta batalha. Venceu-a há poucos meses. E é necessário ser uma mulher muito especial para se aventurar a tournée internacional extensa com tão pouco tempo.
A sala inteira continuava a reagir com afecto e justos aplausos. Subiram de tom aos primeiros acordes de Entre mis recuerdos, Piensa en mí (clássico do filme Tacones Lejanos, Almodóvar). Arrasou o público, fazendo-se um silêncio quase 'sagrado' durante a interpretação sentida. Dezenas de vozes acompanhavam em surdina os versos da canção. Muito aplaudida.
Também os temas de Tom Jobim mantiveram o público colado àquela figura franzina mas de voz cheia que passou a apresentar-se vestida de negro. Confesso que o vermelho lhe dava muito mais luminosidade.
Em determinado momento, Luz, comunicando com o público em portiñol (não esquecer a sua origem, Galiza) pôs a sala a cantarolar o refrão de Un nuevo dia brillará, de início timidamente, depois com alegria.
Seguiram-se Negra sombra, versos de Rosalía Castro, um momento mais profundo, uma interpretação de magia telúrica no pulsar do sangue, uma canção-símbolo Gracias a la vida, homenagem latino-americana a Violeta Parra, Cenizas, No, no y no e Um año de amor encerraram oficialmente o espectáculo.
Luz Casal | Casa da Música
Primeiro, só voz e piano, Lo eres todo e Inesperadamente, segundo tema português da noite dedicado ao amigo Rui Veloso
Depois, já com todos os músicos de volta ao palco, Besaré el suelo, solta e segura, uma incursão no rock. Foi nessa área musical que Luz Casal começou a ser conhecida na música. Continuou com Dame um beso, ranchera-rock que, de algum modo, abriu caminho à ranchera de Almas Gemelas, e Plantado en mi cabeza (do disco Como La Flor Prometida, 1995).
Valeu a pena esperar dez anos para ver e ouvir Luz Casal. Ficou a faltar, ao vivo, quase todo o CD Almas Gemelas. O que não deixa de ser um bom pretexto para que regresse aos palcos portugueses.
Almas Gemelas (poderá ouvir em playlist) marca o seu regresso aos inéditos, após seis anos afastada dos estúdios. Este álbum com edição internacional teve o título de Alma.
“Não tenho um conceito ou uma ideia clara. Mas há anos que tenho a sensação de que uma das coisas que gosto que os meus discos transmitam é uma certa esperança. É um propósito, isto não quer dizer que a esperança exista em cada canção, até porque algumas têm verdadeiramente desesperança. Mas há sempre uma janela aberta, uma maneira quase impudica de dizer: isto é assim e pronto. Mais forte do que a nudez física é expor os sentimentos de certos períodos da minha vida, desde Vida Tóxica. Eu não sou cronista, as canções surgem-me como visões, flashes subtis. São as interpretações que delas faz o público que as tornam distintas. Às vezes é o desejo de que as coisas mudem.”
Luz Casal
G-S
07.10.2014
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com "grão na voz"...
ResponderEliminarenvolventes "almas gemelas".
prazer sempre visitar teu blog
beijo
São luzes assim que me fazem bem e eu gosto. Gosto muito.
ResponderEliminarTudo de bom.
... o tema 'Almas Gemelas' é sim envolvente, com um toque 'country' que me seduz.
ResponderEliminarQuanto ao "grão na voz" referes-te a ...? (característica da voz de Luz?)
'Paisajes', também muito sensível.
Sabes como gosto que me visites, 'herético'...
beijo
Ora ainda bem, 'aflores'. Estiveste por lá?
ResponderEliminarÉ que um concerto ao vivo tem outra magia.
Tudo de bom!