Mick HuckNall / Simply Red
Confesso que fiquei logo apreensiva e quase desmotivada pelo espaço anunciado para o grupo se apresentar - Pavilhão Rosa Mota - péssima acústica e sem ambiente próprio para concertos.
Hesitei, mas acabei por considerar que mais importante do que o espaço era ter a oportunidade de vê-los tocar live e ouvir a voz esplendorosa de Mick HuckNall.
Na realidade, o que esperava aconteceu. A mística que envolve este tipo de espectáculos perdeu-se quase por inteiro.
Espaço demasiado frio, descaracterizado, para um concerto pop. Só a dinâmica sonora e profissional dos músicos conseguiu cortar a barreira que os separou de um público distanciado e em grande número descontextualizado.
Para além dos fãs dos sons dos Simply Red, penso que outros públicos acorreram chamados pelo recinto e não pelo grupo.
Fácil foi constatar que muitas pessoas, embora com bilhetes de lugar sentado, não conseguiram senão ficar de pé!
Os atrasados, e foram uma maioria - lá vem o recinto de novo - depois de subir e descer galerias bafientas, mal arejadas, lá conseguiram um lugar. Mas um número substancial ficou de pé ou sentado nos degraus de acesso.
Com muita boa vontade, já que a massa humana envolvente era muito dispersa, conseguimos concentrar-nos minimamente na banda que actuou na primeira parte.
Os Nate James tinham alguma qualidade sonora, completamente perdida naquela acústica impossível de superar por um grupo sem recursos técnicos de som. Mas lá se assumiram com garra e acabaram por cativar o público mais atento.
Finalmente os Simply Red entraram em palco, num concerto de sons revisitados, com novos arranjos leituras diferentes, acompanhados por músicos e grupo vocal de grande mérito em alargados sons.
Apresentaram-se com sobriedade e muito profissionalismo, num cenário bastante minimalista mas adaptado ao grupo, onde predominaram as tonalidades de azul e roxo condizentes com os sons mesclados dos ritmos in blues.
De salientar a sonoridade de translúcida beleza da flauta de Chris de Margery.
Três novos temas, um dos quais Oh! What a Girl! gravado ao vivo durante a sua actuação no Montreux Jazz Festival 2006.
O Festival de Montreux é um acontecimento de grande renome na paisagem musical do Mundo. Aí sempre se fundem sons e músicos de prestigiada qualidade.
Foi um pouco difícil aderir ao som pop-jazz de inquestionável qualidade do grupo, por tudo o que já enumerei. Porém a voz de Mick 'Red' e o seu talento musical acabaram por tocar nos fãs mais convictos a cadência necessária, para independentemente do meio adverso, e quase na parte final e nos encore se entregarem de alma e corpo ritmados, de pé, em entusiásticos aplausos.
Aspectos a salientar pela negativa: o acesso ao interior do pavilhão fez-se com morosidade, numa organização que já prenunciava ineficácia e falhas de vária ordem.
Outros aspectos caricatos e dignos de nota. O calor insuportável, o ambiente irrespirável, sem hipótese de refrescar, ao simples sabor de uma garrafa de água.
O único bar existente, num escuro confim da cave do pavilhão, antiquado e de pouca serventia, não permitiu tão pouco o acesso à maior parte das pessoas.
Quase no final, um vendedor ambulante tão inadaptado como o espaço, passou ao estilo do picolé fresquinho. Mas nem isso ele transportava no tabuleiro saído de épocas remotas.
O público despediu-se dos Simply Red ao som inigualável de If you don't know me by now.
Gostaria de ter ouvido a versão intimista e divina de Mick 'Red' - Ev'ry time we say goodbye.
Tema inolvidável do jazz vocal em versão masculina de grande qualidade tímbrica.
G-S
Fragmentos Culturais
15.09.2006
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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
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