Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.
Natália Correia, O Livro dos Amantes IX

Natália Correiacréditos: © Arquivo Global Imagens
Natália Correia faria hoje, dia 13 de Setembro, 100 anos. Dela se poderia dizer tanto! E, mesmo assim, ficaríamos com a sensação de quase tudo por dizer.
Não só teve uma vida cheia como, como a sua história se confunde com a História do país, do século XX. País onde as mulheres eram educadas para se manterem distantes dos acontecimentos e da cultura, Natália Correia conseguiu ver bem mais longe do que muitos. E fazer anda mais. A sua voz fez-se ouvir!
Na liberdade, na política, nos costumes e tradições, na insubmissão, na forma de viver. Para mim, especialmente, na insubmisão, na literatura, na poesia. Belissima poesia nos dexou.
Voltarei a este tema. Hoje, quero apenas celebrar o dia do centésimo aniversário. Parabéns, Poeta!
*Nota: Náo voltei ao Centenário de Natália Correia porque nada mais se leu ou fez sobre esta mulher escritora de grande intensidade humana, vasta obra literária e vida cultural e política de imenso relevo.
créditos: Autor não identificado
"Centenas de iniciativas, sobre a vida e a obra de Natália Correia, vão realizar-se nos próximos meses, em todo o país, do Norte aos Açores, para assinalar o Centenário do nascimento da escritora, a 13 de Setembro de 1923."
Li há alguns meses. Se as houve, não chegaram até muitos de nós. Talvez comecem agora. Sim, acredito que sim!
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada
"Na qualidade de guardiã do seu arquivo, com milhares de documentos manuscritos autógrafos e dactiloscritos, fotografias e outros documentos, e da sua livraria, com mais de dez mil volumes, a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, ciente que é sua missão dar a conhecer a vida e obra desta cidadã ilustre, irá, ao longo deste ano, realizar vários eventos em torno da temática da sua obra e dos seus livros."
Apenas li uma página de onde retirei o excerto acima mencionado, E assisti via televisão, a um concerto homenagem que se realizou na Aula Magna, em Lisboa, em Novembro. E que foi hoje, neste dia 13 Setembro, retransmitido na RTP1.
Concerto inteiramente baseado na poesia de Natália Correia com concepção artística e musical de Renato Júnior, antecipando a celebração (?) do Centenário do seu nascimento.
Cartaz Mostra DocumentalNatália Correia
A visitar a exposição virtual no Arquivo da Torre do Tombo - Mostra documental Natália Correia "amar, escrever, sonhar, viver, mais nada!"
"No ano em que se assinala o centenário do nascimento de Natália Correia, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo promove uma mostra documental focada nas suas facetas política e literária."
créditos; SPAutores/ Jaime Serôdio
https://www.spautores.pt/
Pois certo é que, tirando escolas e câmaras municipais de algumas localidades, não vi nem li nada sobre a verdadeira celelebração a nível nacional do Centenário de Natália Correia.
Também li há meses, sobre a sua biografia, pré-lançada em Fevereiro, no Correntes d’Escritas. “O Dever de Deslumbrar”, de Filipa Martins, no ano do Centenário da escritora e poeta, que se assinala hoje, e permite ficar a conhecer a realidade do país nos seus 70 anos de vida, citiando também alguns "episódios deliciosos".
"Intimidando pela verve de aríete e pela beleza, Natália Correia simbolizou, como poucos, as inquietações do século XX português. Precoce e radical no pensamento feminino, vítima de efabulações e de mitos, incompreendida e amada, lançou um olhar oracular sobre o seu tempo."
Filipa Martins, O Dever de Deslumbrar
Sinopse (excerto)
O Dever de DeslumbrarBiografia de Natália CorreiaFilipa MartinsContratempo, 2023“Uma das biografias que mais falta fazia era a de Natália Correia”, assinalou João Gobern, destacando que, ao ler-se esta obra, percebe-se até que ponto “se estendia a presença tentacular da biografada”.
Vida que às costas me levas porque não dás um corpo às tuas trevas? Porque não dás um som àquela voz que quer rasgar o teu silêncio em nós? Porque não dás à pálpebra que pede aquele olhar que em ti se perde? Porque não dás vestidos à nudez que só tu vês?
Natália Correia, Mãos feridas na porta de um silêncio Poesia Completa, Publicações Dom Quixote, 1999
G-S
Fragmentos Culturais
13.09.2023
actualizado 30.01.2024
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