créditos: Oficina do Livro
Mil são as espécies de homens, e mil os seus hábitos. Cada um tem seu próprio querer, e vive com um sentimento que nem todos partilham." (...)
Nuno Júdice, Relendo Pérsio
Pensava, há pouco mais de uma semana, que queria voltar a escrever. Falta de tempo, acreditava. Numa primeira fase, até foi a falta de tempo. E a ausência do país.
Não, não vi rostos tão tristes como os nossos. Mas vi muita pobreza na rua, tanta ou mais do que nas nossas ruas. E uma pobreza mais abandonada.
Não, não vi rostos tão tristes como os nossos. Mas vi muita pobreza na rua, tanta ou mais do que nas nossas ruas. E uma pobreza mais abandonada.
De regresso, senti um impulso imenso de escrever. Tinha assuntos culturais para partilhar, ideias para expressar. Mas atravessava os dias inundados de chuva, um a um, e acabei por me deixar afundar na falta de cor de uma primavera ausente. Nem os pássaros se atreviam a aproximar.
O inverno não é só uma ideia, é um sentimento que se vai alastrando pelo coração da Humanidade.
As linhas da natureza não são nítidas. O inverno prolonga-se. Não se ouvem os pássaros, não se vêem flores.
Espreito com intensidade o calendário. Nada! Nada respira a primavera. Só o desconforto do céu que chora em desespero.
Espreito com intensidade o calendário. Nada! Nada respira a primavera. Só o desconforto do céu que chora em desespero.
"Pai, porque não vens atrás de mim?"
Mas do céu ninguém lhe responde.
Nuno Júdice, Cristo anónimo
Não! Não tenho uma visão negra do mundo. Nem vejo a Fé como fronteira entre os homens. As religiões, sim. Fé não!
E é como se nunca mais ninguém te esperasse,
ó deus que dormes numa vigília de humanidade,
ó homem que despertas num canto da eternidade.
Nuno Júdice, Cristo morto
Sem deixar para trás as tristezas - não desaparecem em segundos - olhemos em volta. E tentemos alterar um pouco o rumo do mundo, nem que seja num singelo gesto, um sorriso que se desprende, uma mão que se abre.
A Primavera desponta? Quem sabe? Não a enxerguei ainda, nestes dias de noites frias, e manhãs brumosas que transmutam a paisagem da alma daqueles que teimam em andar em frente.
Não há lacunas ocultadas. Feridas esparsas algumas, que sustentam o edifício com janelas - os afectos - por onde a luz, os sons, os sentimentos, apesar de frágeis, entram e se desdobram num gesto solidário que cremos ser capazes.
G-S
Fragmentos culturais
30.03. 2013
Copyright © 2013-Fragmentos Culturais Blog, fragmentosculturais.blogspot.com®

Publicações Dom Quixote, 2001
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*Referências:
Excertos de poemas in Nuno Júdice, Cartografia de Emoções, Publicações Dom Quixote, 2001