segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Fragmentos de Outono em tons literários : Salman Rushdie !






Autumn
Kalle Mustonen

Adentrou-se o Outono. Não nos tons aconchegantes ocre-terra, mas em insólitos e chuvosos tempos cinza-chumbo. Busquei outros refúgios para compensar o desencanto de um primeiro dia de Outono tristonho, agressivo.

Pensei naqueles dois versos de Nuno Júdice:

"o outono, com a sua melancolia, empresta um estranho
perfume de terra ao espírito."

Nuno Júdice, Construção do ser, Cartografia de Emoções, 2001

Enfim! Não é um Outono assim. Não. Tão abrupta, a sua chegada! 

De volta a casa, depois de uma sessão de cinema inquietante, sentei-me, liguei o computador. Fui saltando de sítio em sítio, e eis que me deparei com dois assuntos importantes ligados às Letras. 

Respirei fundo, já mais tranquila, embora a chuva continuasse a cair, lá fora. E comecei a ler.





Colóquio Letras (online) | Setembro 2012

A partir de amanhã, dia 24 Setembro a Gulbenkian vai disponibilizar em versão digital 61 números da revista Colóquio, Revista de Artes e Letras (1959-1970). 

Um sítio web precioso para todos os apreciadores, e investigadores, nacionais e estrangeiros. Aguardo poder aceder com assiduidade. 

"Nas suas páginas podem encontrar-se textos de praticamente todos os grandes nomes do ensaio, da crítica, da arte e da literatura da segunda metade do século XX."

Em 1970, a revista desdobrou-se em duas publicações: Colóquio Artes e Colóquio Letras.

No primeiro editorial da Colóquio, Revista de Artes e Letras, pode ler-se: "Não são os iniciadores que justificam a necessidade e a utilidade de uma revista, artística ou literária, ou fazem a sua fama, mas sim os seus colaboradores e a continuidade e regularidade da sua publicação. / Lançando esta revista - Colóquio -, a Fundação Calouste Gulbenkian julga concorrer com mais um poderoso instrumento para a realização dos seus fins culturais na sociedade portuguesa. Assim se procura continuar a cumprir, sob mais uma modalidade, o pensamento do Fundador, que soube em vida - e quis que a sua obra continuasse após a morte - fomentar iniciativas ou auxiliar empreendimentos susceptíveis de dilatar as fronteiras do espírito humano."

Indubitável! É uma ferramenta fundamental para apoiar estudiosos e tantos curiosos da Literatura e da Arte em Portugal.

Tenho vários exemplares em versão impressa. Fui adquirindo-os, ora na livraria Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), ora em alfabarristas especializados da cidade, quando pretendia estudar ou apenas ler algum autor ou assunto literário.

A revista contém ensaios de todas as áreas da Arte à Literatura, não exclusivamente portuguesas. 

"Mas se há que encontrar matéria de base para uma história da arte em Portugal, desde o lado mais conservador, passando pelos movimentos modernistas (sobretudo a obra de Almada e o surrealismo), até aos artistas que se revelam na década de 60 do século XX, é nesta revista que ela se manifesta."






Colóquio Letras


Se vive em Lisboa, não deixe de se dirigir à Fundação Gulbenkian, amanhã, pelas 18:30 horas, sala 1, para assistir à apresentação deste sítio web. 

Poderá também assistir ao lançamento da edição 181 da Colóquio Letras que conta com a presença de Eduardo Lourenço, Nuno Júdice e Guilherme d'Oliveira Martins.

O número abre com um dossiê dedicado a Ruben A. na sequência de um encontro sobre o escritor organizado pelo Centro Nacional de Cultura e que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, 2006. 

Nele se publicam também textos de Maria Lúcia Lepecki, Guilherme d'Oliveira Martins, entre outros.

O Expresso, no seu caderno impresso, publica uma entrevista de Clara Ferreira Alves ao escritor Salmon Rushdie





Salman Rushdie
Expresso, revista Actual Setembro 22
créditos: Autor não identificado
via CNN

Salman Rushdie relata na entrevista ao Expresso o seu exílio diário, durante treze anos, de esconderijo em esconderijo, após ter escrito Os Versículos Satânicos, na semana em que lançou o seu aguardado livro de memórias, Joseph Anton - a Memoir que em Portugal é publicado pela Dom Quixote. 




The Satanic Verses
Salman Rushdie

"A staggering achievement, brilliantly enjoyable." 

Nadine Gordimer

Versículos Satânicos foi galardoado The Whitbread Prize for Best Novel. Podem ler as várias críticas no site do autor.

Acusado pelos seus pares, segundo suas palavras, viveu o horror: "Sente-se a falta das coisas pequenas, ínfimas. A chave de casa. Não poder comprar pasta de dentes. Horrível."





Joseph Anton - a Memoir
Salman Rushdie

Foi preciso tempo para o autor conseguir voltar a "reviver o pesadelo". "Tinha medo" de o fazer, confessa. 

O acto de escrever Joseph Anton - a Memoir afastou-o dos seus fantasmas. O livro de memórias teve lançamento mundial neste mês de Setembro.





Joseph Anton - a Memoir
Salman Rushdie

Para ler a entrevista na íntegra no caderno Actual da edição impressa de 22 Setembro 2012.
Li alguns livros de Salmon Rushdie. Dois me encantaram: O Último Suspiro do Mouro e A Feiticeira de Florença (Dom Quixote). 





The Moor's Last Sigh 
Salman Rushdie






A Feitceira de Florença
Salman Rushdie
Dom Quixote, 2008

Li-os pela ordem que os enunciei. Dois livros em que o encantatório prevalece, numa escrita particularmente poética. 

Dois livros deslumbrantes, onde coexistem mouros, lendas, feiticeiras, espaços reais, personagens 'autênticas' e magias.

O mito e a realidade, os ideais filosóficos e a arte. Vasta a cultura a de Rushdie. Exuberante a sua criatividade.





The Enchantress of Florence
Salman Rushdie

Não saberia optar. Mas A Feiticeira de Florença, tradução de The Enchantress of Florence é uma belíssima narrativa que cativa de forma única a nossa imaginação estética.

E, como gosto bastante de livros de carácter autobiográfico, vou ler agora "Joseph Anton - uma memória". Talvez o livro mais esperado deste Outono.

"Esta é a minha vida e tenho o direito de a escrever".
Salman Rushdie 

G-S

Fragmentos Culturais

23.09.2012

actualizado 14.08.2022
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4 comentários:

  1. Que seja um Outono fabuloso!!!!!
    Com tudo o que ele nos deve trazer - cores, sabores, cheiros, chuvinha...
    E que os dias tragam novas colorações....

    Entretanto acabei mesmo agora de ler este ATUAL do Expresso... Uma combinação de bons artigos...
    Este, o da exposição no B.Museum sobre Shakespeare
    Sabe tão bem ler...
    Boa semana, "Fragmentos"!!!!!
    Bjh

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  2. .

    .

    . são sempre tantas as referências culturais . e hoje encontro.as salpicadas de outono . onde me outubro . antes que me anovembre .

    .

    . um bom fim.de.semana .

    .

    .

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  3. Pois que seja, M.C. :)
    E, no entanto, os dias já são mais curtos, a escuridão aproxima-se (mudança da hora)...

    Há as coisas boas que referes, os cheiros (maçãs assadas com canela), as cores (menos exuberantes este ano, os sabores (castanhas)... só não concordo com a chuvinha que aqui pela cidade é sempre demasiada...

    O gosto de ler 'agudiza-se no inverno, cantinho do sofá... tão bom!

    Excelente fim-de-semana!
    Um beijo

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  4. ... ainda bem que são do teu agrado, 'Intemporal' :)

    Sim, quando escrevi sobre estas referências culturais, o outono apresentava-se reconfortante, cores suaves, temperaturas amenas, tardes convidativas a um curto passeio... não mais. Os dias frescos adentram-se, mesmo antes de Novembro.

    E, mais uma vez, tem um doce fim-de-semana!

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